História do casal de mães Claudiana Zeuli e Luciana Coelho, que mostraram que o ato de se dedicar ao filho é um exercício eterno de aprendizagem
Antes elas se consideravam apenas um casal, hoje são uma família (Foto: Arquivo Pessoal)
Fernanda Cipriano
Estagiária sob supervisão
fernanda@acidadevotuporanga.com.br
Sobre ler o coração e praticar a total capacidade de entender o próximo, sobre ultrapassar até as mais sinceras convicções, sobre amor, carinho e respeito. É como compartilham a vida há mais de quinze anos Claudiana Zeuli, com 38 anos, e Luciana Coelho, com 36 anos, e desde quando se conheceram conversavam sobre filhos. Após 12 anos, Lucas Miguel foi um grande presente. “Antes éramos um casal, hoje somos uma família”, dizem.
Filho de duas mães, Lucas, tem sete anos, é deficiente visual e autista, chegou ao lar das meninas com apenas dois anos. Antes da vinda dele, Luciana e Claudiana realizaram fertilizações que não tiveram sucesso e neste meio tempo resolveram entrar na fila para adoção, chegaram até mesmo visitar outra criança. “A adoção é empatia, você vai até a criança com carisma porque é uma criança. Só que na realidade não foi o mesmo sentimento quando a gente viu aquela criança e quando a gente viu o Lucas”, disse Luciana.
“O Lucas que adotou a gente”
Após a primeira visita e a chegada de Lucas, foram dois anos de conversa e trabalho no íntimo de cada uma para que a vinda de um filho deficiente fosse a melhor possível.
“O Lucas que adotou a gente. Ligaram para nós e disseram ‘olha, tem uma criança, autista e deficiente visual, vocês querem conhece-la? Na hora falamos ‘sim, a gente quer’ e pegamos o rumo da estrada e fomos para Bauru”, contaram.
Elas disseram que quando chegaram ao portão do lugar, Lucas se encontrava no colo de uma cuidadora e desde então sabiam que era ele o que procuravam. O que deu mais convicções para Luciana e Claudiana, foi o fato de que Lucas, não ia ao colo de ninguém, e ele foi ao delas e até brincou. Devido a deficiência visual e o autismo ele era arredio. “E a senhora falava, ‘como que pode, ele não vai com ninguém’ e a gente cada vez mais sentia que era”, completaram.
Em momentos enquanto contavam a trajetória, com emoção a expressão era de gratidão por toda a história e ao Lucas ter entrado em suas vidas. “Parece que está com a gente desde o nascimento, que foi gerado por nós. Eu nem lembro da vida antes dele”, disse Claudiana.
Desde quando Lucas chegou, a afinidade é muito grande com a avó, Dona Zilda, uma troca de amor, histórias contadas, carinhos e lições. “Não tem explicação, não desgruda. Acorda falando da vovó Zizi, às vezes a gente brinca que adotamos ele, para a avó porque o amor desses dois é imenso”
“É uma maratona, a gente só não tem o corpo, mas somos atletas”
Com toda certeza, a vida antes da chegada de Lucas era um pouco mais calma, pois hoje elas vivem em função dele, mas já não reconhecem seu dia a dia sem a presença de amor de Lucas.
“Muitas noites, são passadas em claro porque ele não dorme muito bem. Mas não tem como reconhecer uma vida sem ele é como se ele sempre estivesse aqui. A gente não vê o processo de dois anos, é desde bebê. Como se estivesse a vida toda com ele”.
Elas também relatam que todos os dias o Lucas tem atividades após a escola, como a terapia, o Haras, natação, entre outras, cada dia uma diferente.Por toda essa adrenalina, agitação e consideram uma maratona de cuidados, atenção redobrada e muito aprendizado.
Mundo da inclusão
A inclusão é exclusivamente sobre brotar em um coração a verdadeira semente de transformações de vidas. A luta pela inclusão é um motivador que esteve presente nas vidas de Claudiana e Luciana, desde quando decidiram compartilhar a vida juntas. “A gente já brigava para incluir nós mesmas, agora a gente briga para incluir o nosso filho. Então é uma maratona”, afirmam.
Elas participam de grupos de mães de autistas e trocam experiências com mães do Brasil inteiro. “Tudo que você vai comentando no grupo, ajuda, ou ajuda o outro. Cada mãe que dá seu depoimento lá, te abre a sua mãe para ‘nossa, eu não tinha visto isso’”.
As mães contam que a própria escola muda com a chegada de uma criança deficiente. “Ou você tira a criança da escola porque ela não conseguiu mudar, ou ela consegue mudar”. Na escola, Lucas estuda junto com as outras crianças na sala de aula, apenas com a modificação das atividades para que ele possa entender e aprender, além disso ele tem as aulas de braile com a tia Joana, como é chamada a professora.
A convivência com outras crianças é muito positiva para Lucas, e para as crianças da escola também, é como uma troca. “No começo ele tinha certa dificuldade, pois desde quando ele chegou, colocamos ele na escola. A dificuldade dele era o barulho, mas ele foi se acostumando com isso”, contou Luciana.
Claudiana e Luciana, disseram que o mundo do autismo é um aprendizado eterno, pois estudos recentes sem devida comprovações. “Cada dia você vê uma coisa diferente e você vai aprendendo para o seu filho mesmo, porque é aprendizado para sempre”. Lucas é caracterizado como autismo secundário, devido a deficiência visual, surgiu por conta daprematuridade, pois nasceu de cinco meses
Lições
O aprendizado de cada dia é uma característica muito presente na vida da família. Quando perguntadas pelas maiores lições que tiraram até o momento, Luciana disse que enxergar a vida de forma diferente é primeira delas. “Eu acredito que seja para mim dessa forma, porque tanto o autismo e a deficiência visual dele me fazenxergar de uma forma diferente”, disse. “E eu a alegria, ele nunca deixou de ser alegre. Ele tem várias coisinhas, e ta sempre alegre. Ai eu falo, nossa, a gente tem tudo e às vezes está reclamando”, como finalizou Claudiana.