Em comparação a 2020, o total de inscritos neste ano é quase 40% menor; todos se inscreveram para fazer a versão escrita do exame
Queda de inscritos para o Enem na cidade foi a mais expressiva desde, pelo menos, 2017; Mari Hipólito está entre os que vão prestar o vestibular (Fotos: Marcello Casal Jr./Agência Brasil e arquivo pessoal)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
O número de inscritos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) está caindo. No país, o total deste ano foi o menor desde 2005. Em Votuporanga, a queda foi de 38,13% em comparação a 2020, a mais expressiva desde, pelo menos, 2017, que é até onde vão os dados na página do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) no site do governo federal.
No total, 1.605 votuporanguenses estão inscritos na edição deste ano do exame, que vai acontecer nos dias 21 e 28 de novembro. No ato da inscrição, os participantes puderam escolher entre o modelo digital da prova – lançado em 2020 – e a versão impressa. No caso de Votuporanga, todos optaram pelo tradicional papel e caneta. Já em Rio Preto, por exemplo, 370 se inscreveram para prestar a versão digital.
Dificuldades
O Enem é a principal prova de acesso a universidades públicas e privadas do Brasil. E entre as principais razões apontadas para a queda do número de candidatos inscritos estão dificuldades financeiras e em acompanhar as aulas remotas, ambas situações que foram trazidas ou agravadas pela pandemia.
Além disso, a especialista em educação da UnB (Universidade de Brasília), Catarina de Almeida, apontou que faltaram iniciativas do MEC (Ministério da Educação) para incentivar os estudantes recém-formados do ensino médio a se inscreverem.
“O fator mais determinante desse menor número de inscritos foi o próprio Ministério da Educação. Porque ele estabeleceu um conjunto de regras para excluir candidatos. Quem não compareceu na prova no ano passado, por exemplo, não podia ter isenção. Isso exclui muitos alunos com dificuldades financeiras”, explicou.
Candidata
Apesar das dificuldades e adversidades trazidas pela pandemia, a estudante Mariana Pereira Hipólito, de 17 anos, pegou firme nos estudos para se preparar para o Enem deste ano.
Ela estuda na escola Passo-a-Passo, em Votuporanga, desde 2015, quando veio de São Paulo (capital) para cá, e disse estar muito ansiosa para o vestibular. “Estou estudando e revisando alguns assuntos. Dá para pegar um gás ainda”, contou, em entrevista ao jornal
A Cidade.
Sua rotina de estudos muda de acordo com alguns dias da semana. “Hoje [ela conversou com a reportagem numa segunda-feira], por exemplo, eu fui para a escola 7h10 e voltei às 17h, mas tem alguns dias que eu não tenho aula a tarde, aí eu chego, dou uma descansada e dou uma lida nos meus resumos”, disse Mari.
A aluna também contou que pegou firme nos estudos neste ano, diferente do que aconteceu no ano passado. “Durante a pandemia, eu fiquei bem desleixada em relação a isso, mas antes de começar o terceiro ano eu dei uma acordada e voltei a estudar”, disse.
Esta será a terceira vez que Mari vai fazer o Enem, mas a primeira sendo “para valer”. É que a estudante fez a prova como treineira em 2019 e 2020. E o exame nacional não vai ser o único que ela vai prestar neste ano.
Além do Enem, a estudante vai fazer o vestibular da Unesp, para o campus de Franca; da UEL (Universidade Estadual de Londrina); e da Unifev. Apesar do seu interesse por Filosofia, Mari disse que vai prestar para Direito em todos os vestibulares. Sua intenção, conforme contou à reportagem, é aproveitar seu interesse (e afinidade) pelas Ciências Humanas numa área que considera significativa.
Em 2024
Em meio a pedidos de demissão no Inep, as recomendações para o novo Enem foram apresentadas no CNE (Conselho Nacional de Educação) nesta semana e devem ser aplicadas em 2024. O documento indica que a prova deve ter duas etapas, uma de conhecimentos gerais e outra dividida em quatro áreas profissionais.
A mudança é uma exigência da lei porque, a partir de 2022, as escolas vão ter que oferecer o novo ensino médio, que dá flexibilidade aos alunos para escolherem parte do currículo, de acordo com suas preferências e aspirações de trabalho. A nova prova terá, portanto, de avaliar também essa nova formação.
A proposta do parecer da ex-presidente do CNE, Maria Helena Guimarães de Castro, é que a segunda etapa do Enem seja dividida em Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM), classificando alunos para cursos das Engenharias, Química, Computação, entre outros; Ciências Sociais Aplicadas, para cursos de Economia, Administração, Direito; Humanidades, Linguagens e Artes, para cursos de Filosofia, História, Pedagogia, entre outros; e Ciências Biológicas e Saúde, para cursos de Medicina, Enfermagem, Meio Ambiente, entre outros.
O documento entrou em consulta pública nesta semana e será votado no conselho em dezembro. Se aprovado, o Inep deve começar a elaborar o exame a partir dessas diretrizes.