A moradora Marisabel Nogueira, a Bel, falou sobre os desafios de cuidar das dezenas de gatos abandonados na avenida Jardiel Soares, no jardim Santa Paula
A protetora dos animais Marisabel Nogueira, a Bel, coloca ração para dezenas de gatos abandonados da sua rua todos os dias (Foto: A Cidade)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
O coro de miados começa assim que a moradora Marisabel Nogueira – ou Bel, como é conhecida no bairro – se aproxima, carregando o pote de ração para servir o, digamos, jantar. Conforme ela despeja a ração em forma de fileira no chão da sua calçada, na esquina da avenida Jardiel Soares com a rua Amneris Galeazzi, no jardim Santa Paula, em Votuporanga, quase 20 gatos abandonados se juntam de todos os lados para poderem comer. Quem olha a cena de longe pode achá-la fofa (ou ao menos peculiar), mas ela mostra um problema.
Isso porque na esquina de cima do quarteirão onde Bel mora ficam mais 30 gatos abandonados. Na de baixo, mais quase uma dezena. No total, ela disse, em entrevista ao jornal
A Cidade, que mais de 60 gatos abandonados moram nos lotes e terrenos baldios do bairro. Hoje em dia, Bel, que se considera uma protetora independente dos animais, dá ração e água aos gatos. Mas contou que já chegou a gastar quase R$ 7 mil por mês com resgates, internações e ração, o que custou sua saúde e enfiou sua vida financeira num buraco de dívidas.
Abandonados
Atualmente, Marisabel é agente escolar e trabalha como inspetora de alunos na escola estadual SAO (Sebastião Almeida de Oliveira) nos períodos da tarde e à noite. Ela se mudou de Rio Preto para Votuporanga em 2009, para a casa onde mora até hoje. E quando chegou por aqui, sua rua já tinha muitos gatos abandonados. De lá para cá, ela já conseguiu doar por volta de 100, todos castrados e vermifugados, segundo ela. Mas hoje em dia Bel diz que está cansada da frustração por sentir que suas mãos estão atadas.
“Cansa, né? A gente faz um trabalho de enxugar gelo. Eu fiquei doente, depressiva e endividada por conta desses gatos. Agora eu dou comida, mas parei de resgatar. Se eu vejo algum gato doente, aviso o CPVA [Centro de Proteção da Vida Animal], falo que é a Prefeitura que tem que dar conta e que eu não tenho mais condições de gastar dinheiro com isso”, contou.
Além dela, a senhora Elisa Sanches, uma professora aposentada de quase 80 anos, passa pela avenida todos dias, por volta das sete da manhã, para dar ração aos gatos abandonados. Só que nem todos os moradores do bairro concordam com o que as duas fazem pelos bichanos.
“Eu quero vender a minha casa para sair daqui, porque a gente é apedrejada, como se estivesse cometendo um crime. Eu só coloco comida no lote [que fica na esquina da Jardiel Soares com a General Osório] ou em frente à minha casa. A gente já foi tão apedrejada que quando muda alguém que também gosta de bichos a gente fica aliviada”, contou Bel.
Apelido
O cuidado e envolvimento de Marisabel com os gatos abandonados do bairro renderam a ela até um apelido: Mulher Gato. “Hoje eu dei uma melhorada, mas tinha dia que eu ouvia briga de cachorro e gato de madrugada e saía gritando na rua com um pedaço de pau para espantar o cachorro. Os vizinhos falavam que eu era a Mulher Gato doida”, disse.
Todo esse cuidado também rendeu algumas dívidas para ela. Atualmente, Bel contou que gasta R$ 1 mil com ração, mesmo recebendo algumas doações. Só que precisou pedir ajuda para sua família quando sentiu que a situação estava saindo do controle.
“Quando eu senti que estava chegando ao fundo do poço e ficando doente, por conta desses gatos, decidi pedir socorro para a minha família, que me ajudou muito e me ajuda até hoje a me libertar dessa angústia. É angustiante se sentir de mãos atadas. O que eu queria era dar um lugar digno e protegido para eles viverem, mas não consigo”, contou.
Outro lado
O CPVA informou, em nota, que presta atendimento no local por meio da castração dos gatos, que vem sendo feita gradualmente há alguns anos. Entre as ações do CPVA, em atendimento a situações desse tipo, constam analisar o cenário em que estes animais estão inseridos e o grau de periculosidade para a vida deles e também das pessoas.
“Não havendo riscos, o CPVA resgata o animal e encaminha para castração para controle populacional. Quando observado que o animal possui vínculo comunitário, posteriormente, ele é devolvido para o ambiente em que estava, em atendimento à Lei nº 12.916, de 16/04/2008, conhecida como Lei Feliciano Filho”, diz a nota.