Maria Adileuza dos Santos, de 58 anos, trabalha dia e noite pegando reciclados para sustentar sua família, que distribuiu cartas pedindo ajuda
A casa de três cômodos onde a família mora fica no fundo do terreno; a família dona Maria dos Santos escreve cartas pedindo ajuda e as distribuem pela cidade (Foto: A Cidade)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
O dia de Maria Adileuza Estevam dos Santos começa cedo. De madrugada, na verdade. Apesar dos seus problemas na coluna, a dona Maria, de 58 anos, pula da cama às quatro horas da manhã, pega seu carrinho e sai (a pé) para a rua, em busca de materiais recicláveis que tenham sido descartados. Quando o sol começa a raiar, por volta das seis da manhã, ela já está cansada de trabalhar.
Para aguentar a rotina de andança carregando peso, ela vai e volta para a sua casa, que fica no bairro Parque Guarani, em Votuporanga, conforme o dia passa. Lá, seus dois filhos - Edson Silva, de 22 anos; e Fábio Júnior da Silva, de 23 anos – separam os materiais coletados em bags, que são sacos grandes, além cuidarem da casa e prepararem as refeições da família. Isso, claro, quando há mantimentos suficientes, o que não acontece todo dia.
Geralmente, a dona Maria encerra seus trabalhos por volta das 22h30. E a jornada de, em média, 18 horas de trabalho dela garantem, no final do mês, aproximadamente R$ 800 para a família. Isso em “épocas boas”, como ela disse. Nas ruins, cai para R$ 600.
Por conta das quase inúmeras dificuldades que a família enfrenta, quando o fim do ano chega, os filhos da dona Maria escrevem cartas pedindo ajuda e as distribuem por Votuporanga, na esperança de despertar a solidariedade em quem lê-las (confira a carta escrita neste ano na íntegra no final desta reportagem). Uma delas chegou ao jornal
A Cidade e a reportagem foi até a casa da família para conhecer sua história e as condições em que vive.
Dificuldades
A senhora Maria dos Santos, que mora em Votuporanga desde os dez anos, contou que as dificuldades da família aumentaram quando seu marido, o senhor João José, faleceu. Isso aconteceu em 2018, quando a família ainda morava numa casa na avenida Anita Costa. “Depois que ele morreu, tudo complicou para mim. Tive depressão, minha diabetes atacou. Para mim, acabou tudo”, contou.
Ela tentou continuar pagando o aluguel da casa onde morava com a família nos três anos seguintes, mas a situação chegou num ponto em que a dona Maria precisou abrir mão do lugar. No Dia das Mães, ela se mudou, com seus filhos, para a casa onde moram atualmente. Uma casa, aliás, que estava abandonada e prestes a cair, conforme contou a família.
“Como a gente cata reciclagem, vi que essa casa estava abandonada. Conversei com a dona dela e ela falou para mim que eu podia mudar para cá, para tomar conta, porque [senão] ia derrubar ela. Aí a gente não paga aluguel, só a água e a luz. Só que ela está quase para cair, mas, no contrato, a gente não pode fazer nada. Então, como a gente não tem condição de pagar aluguel, ficamos aqui”, contou.
Condições
A casa, de três cômodos, fica no fundo do terreno, rodeada de bags com materiais recicláveis. Além da dona Maria e seus filhos, meia dúzia de cachorros, dez patos e três galinhas moram lá. O jovem Edson contou à reportagem que a família conseguiu os patos para dar conta do número alto de escorpiões que encontrou no terreno quando se mudaram para lá.
De vez em quando, alguns vizinhos, ao observarem as dificuldades que a família de dona Maria enfrenta, se mobilizam para ajudá-los. Essa ajuda, geralmente, são doações de mantimentos, como, por exemplo, sacos de arroz e feijão e garrafas de óleo de soja. “Os vizinhos ajudam as vezes, quando eles me veem ali na frente [da casa], com a cabeça baixa, e vem conversar comigo. Eu conto as minhas histórias e eles trazem algumas coisas para mim”, disse Maria.
Apesar da esperança em conseguirem mais doações, com a distribuição das cartas pela cidade, ela disse que isso não acontece com frequência.
“É difícil as pessoas nos ajudarem, porque geralmente elas ajudam famílias que têm criança pequena. Falei para os meus meninos que nem adiantava [escrever a carta nesse ano], porque é muito difícil a gente ganhar alguma coisa. Até agora, ninguém ajudou [por conta da carta]. O que importa é a pessoa ajudar. Pode ser com qualquer coisa. Deus abençoe muito quem for nos ajudar”, contou.
Quem quiser ajudar a família, pode entrar em contato com um dos filhos, o Edson, pelo número (17) 9 9682-6236 ou entregar as doações na casa onde moram, que fica na rua Policarpo Beloni, esquina com a travessa Guarani, nº2547, no bairro Parque Guarani.
A carta:
Bom, venho, por meio desta carta, lhe pedir encarecidamente pela sua atenção e ajuda. Me chamo Maria Adileuza, tenho 58 anos, estou desempregada e passando por uma situação bastante difícil. Mexo com reciclagem, de onde tiro o sustento de casa, mas o que ganho é muito pouco, mal dá para colocar comida na mesa. Vivo de ajuda de vizinhos. Eles que me ajudam a por comida na mesa. Devido a pandemia de Covid, desenvolvi um quadro de depressão e ansiedade. E a diabetes que tenho é muito alta.
Venho aqui pedir a sua ajuda. Eu sei que não está fácil para ninguém, mas com um pouco que me ajudar, para mim, já será o bastante. Enquanto muitos estão se preparando para a chegada do Natal e Ano Novo, estou aqui pensando em como sair dessa situação. Se me ajudar, para mim já será o bastante. Lhe convido a vim me fazer uma visita, para ver a real situação que estou passando. Eu lhe agradeço muito, do fundo do meu coração.
Endereço: rua Policarpo Beloni, nº2547, bairro Parque Guarani, em Votuporanga.