Há um ano e meio, o hospital capta córneas; desafios são convencer as famílias a doar e começar a receber novos órgãos
Leidiane Sabino
leidiane@acidadevotuporanga.com.br
Há um ano e meio a Santa Casa de Votuporanga oferece o serviço de captação de córneas. O enfermeiro Pablo Guidorze Gurther, da comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante do hospital, esteve na Rádio Cidade para falar sobre o assunto. Votuporanga tem números muito bons com relação às doações, além do que o Ministério da Saúde estabelece como meta, porém, a rejeição das famílias ainda é grande. Próximo desafio é ter um médico neurologista para receber outros órgãos.
O projeto de captação de córneas da cidade começou há aproximadamente dois anos. A equipe fez cursos e treinamentos em São José do Rio Preto e há um ano e meio começou o serviço.
Para ampliação do serviço, com a recepção de outros órgãos, a presença de um médico neurologista é essencial. “Este profissional é importante para dar o diagnóstico de morte encefálica. Atualmente, a Santa Casa não tem este profissional. Com o médico, é possível iniciar este trabalho. O nosso centro cirúrgico está estruturado. Quando a gente tem um doador de múltiplos órgãos, depois de todas as avaliações, se ele está apto para a doação, os profissionais dos outros serviços é que vem buscar esse órgão. Então, por exemplo, paciente que é o primeiro da fila para receber um coração, se é de São Paulo, é a equipe de São Paulo que vem buscar este órgão”, contou Pablo.
Captação de córneas
A Comissão Intra-Hospitalar de Doação Órgão e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) da Santa Casa iniciou a captação de córneas em fevereiro de 2012. De lá para cá, 45 procedimentos foram realizados, colocando a Santa Casa de Votuporanga como o segundo hospital da região que mais faz captações, atrás apenas de São José do Rio Preto. Entre fevereiro e dezembro de 2012 foram 27 captações de córneas. Já em 2013, de janeiro a julho, 18 procedimentos foram realizados. As taxas de captação estão acima das expectativas do Ministério da Saúde, que estabelece a meta de 20% de efetivação.
“De cada três famílias que entrevistamos, uma autoriza a doação da córnea. É um número consideravelmente bom. Ainda encontramos certa resistência com os familiares, mas a gente trabalha com o pessoal do Serviço Social e da recepção. O pessoal está preparado para abordar estas famílias. Estamos divulgando este trabalho na imprensa, para a população ter como pauta este assunto em seus lares e, no momento em que se deparar com o óbito, possa saber que o ente falecido queria doar. A maioria que diz não à doação é porque não sabia se o parente queria doar”, contou Pablo.
Precisam de transplante as pessoas que têm lesões na córnea, como tumores, algumas úlceras, doenças como a ceratocone, traumas oculares, entre outros.
A Santa Casa de Votuporanga capta em média de três a quatro córneas por mês, no início eram de duas a três. “Este número está crescendo, mas precisamos chegar a 100%”.
Como funciona o serviço
De 4 a 70 anos de idade, todo mundo é um potencial doador de córneas. Há algumas patologias que excluem este doador, como HIV, hepatite, infecção generalizada, conjuntivite, chagas, entre outras. Depois que é constatado o óbito, há o tempo de até seis horas para a retirada da córnea. Em Rio Preto, a equipe tem mais seis horas para avaliar o órgão. Depois de preparada, o tempo é de até 15 dias para a implantação da córnea.
Quando acontece o óbito do potencial doador, os profissionais da captação de córnea vão até o hospital e fazem a avaliação do histórico do paciente. A família é entrevista, tendo a autorização, é retirado o globo ocular, que é encaminhado ao banco de olhos de São José do Rio Preto. Posteriormente, a córnea é encaminhada para o hospital onde está a pessoa que receberá o órgão, que é retirado apenas com a autorização do familiar.