O jornal A Cidade conversou com Felipe Gomes, coordenador de Psicologia da Unifev, sobre como (e porque) cuidar da saúde mental
Janeiro foi escolhido por representar uma espécie de ‘folha em branco’ para o ano; no detalhe, Felipe Gomes, coordenador de Psicologia da Unifev (Fotos: Pixabay e arquivo pessoal)
Pedro Spadoni
pedro@acidadevotuporanga.com.br
A mente do ser humano comanda absolutamente todas as partes do seu corpo e organismo. Mesmo assim, a saúde dessa parte tão importante quanto crucial tende a ser negligenciada. E é justamente sobre isso que a campanha Janeiro Branco buscar lançar luz: a importância de se cuidar da saúde mental.
Essa campanha existe desde 2014. Janeiro e a cor branca foram escolhidos porque, culturalmente, o mês representa uma espécie de “folha em branco” para as pessoas. Isso porque é no início do ano que elas estão mais propensas a traçar metas, focar mais em seus objetivos e repensar suas vidas.
O jornal
A Cidade conversou com o professor Felipe Pereira Gomes, que é coordenador de Psicologia da Unifev, sobre a campanha. O docente comentou sobre a importância de se cuidar da saúde mental e os quais foram os impactos causados pela pandemia.
Saúde mental
Quando o assunto é saúde mental, o professor contou que as pessoas tendem a esperar “a situação explodir” para buscar ajuda. “As pessoas tendem a procurar alguma ajuda relacionada à saúde mental – procurar um psicólogo, psiquiatra ou até mesmo desabafar com alguém – normalmente quando estão numa situação muito difícil e a pessoa está desanimada, preocupada, ansiosa, tensa, triste, angustiada, enfim. Normalmente, as pessoas vão buscar a resolução de um problema”, disse.
Ele acrescentou que buscar ajuda em momentos assim é importante, mas traz algumas dificuldades. “Quando chega nesse momento, claro que é importante buscar essa ajuda, mas é muito mais difícil. É um trabalho complexo resolver problemas, lidar com dificuldades, aprender novas habilidades para enfrentar as dificuldades e modificar as situações que estão incomodando”, explicou.
Considerando esse contexto, o coordenador de Psicologia da Unifev disse que a campanha Janeiro Branco traz conscientização sobre uma questão importante. “Essa campanha é interessante para as pessoas se conscientizarem que é importante buscar recursos para manter a saúde mental, independentemente de estarem passando por um problema agudo. É um trabalho preventivo que é importante. Cuidar da saúde mental deveria ser igual cuidar do coração, por exemplo. As pessoas que fazem um check-up no cardiologista todo dia deveriam, também, buscar um auxílio do psicólogo”, ponderou.
Pandemia
Na perspectiva do professor Felipe Gomes, a pandemia trouxe uma série complicações relacionadas à saúde mental tanto para quem já enfrentava dificuldades neste quesito quanto para quem não passava por isso. “[A pandemia] trouxe modificações muito significativas nas rotinas de trabalho e familiar. Muita gente precisou fazer home office, muitos perderam o emprego, [outros] perderam entes queridos para a Covid”, disse.
Ele também citou que, no contexto atual, o cansaço é um fator significativo em relação à saúde mental da população. “Aquelas que se privaram de contato social e outros contatos muito importantes por praticamente dois anos estão cansadas, [enquanto] aquelas que não se privaram contraíram o vírus e enfrentaram dificuldades por conta do adoecimento. A pandemia deixou muita gente ansiosa, angustiada e agravou quadros de saúde mental que já existiam”, explicou.
Dicas
O professor Felipe Pereira Gomes também compartilhou com a reportagem as principais dicas para cuidar da saúde mental e os caminhos que existem em Votuporanga para buscar ajuda.
“Acho que é muito importante que as pessoas tentem se auto monitorar e auto-observar; perceber quais comportamentos ela tem e quais são as consequências deles, quando elas interagem com outros, quando se relacionam, no trabalho, em casa, com a família, quais atitudes elas têm e quais são os resultados dessas atitudes; como as ações dela afetam o outro, que, no final das contas, vão afetá-las novamente”, explicou o coordenador de Psicologia da Unifev.
Esse tipo de “exercício mental” é importante, segundo ele, porque leva as pessoas a terem mais autoconhecimento. “O bom autoconhecimento é quando você sabe o que você faz e quais são as consequências daquilo que você faz. Mais do que isso, você sabe, também, em quais situações você tende a se comportar de cada jeito. Você conhecendo esse processo todo, passa a ter muito mais controle sobre seus comportamentos. Então, se você sabe que em certas situações você age de um jeito ou de outro, tem aí uma chance maior de ter autocontrole e tentar mudar a maneira como você age”, disse.
Canais
Em relação aos caminhos para se buscar ajuda voltada à saúde mental, o professor Gomes apontou que o principal canal que recomenda é a psicoterapia. “A psicoterapia é um processo de autoconhecimento, não é, necessariamente, para ‘apagar incêndios’. É um processo para conhecer quem você é, como pode ser diferente, o que fazer diferente, o que pode mudar para ter uma vida que seja compatível com aquilo que você quer, para que seja mais agradável e prazerosa”, explicou.
Ele também falou sobre onde buscar esse tipo de atendimento em Votuporanga. “Em Votuporanga, temos muitos profissionais competentes atuando em clínicas de psicoterapia. O serviço público também presta atendimentos, então quem não tem condições de pagar consultas particulares pode procurar [por isso]. Na Unifev, há a Clínica Escola de Psicologia, em que a gente presta atendimento de psicoterapia para crianças e adultos. É um atendimento gratuito”, disse.