Por Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Divulgação)
Bom dia caro leitor! Espero que você tenha começado seu 2020 motivado a fazer sua vida dar certo (não só em âmbitos financeiros). O ano de 2019 terminou com um burburinho nas redes sociais: a educação financeira seria obrigatória na educação básica a partir de 2020. Muitos especialistas se manifestaram em suas redes, comemorando o grande passo e enfatizando o quanto isso impactaria a economia do nosso país, de maneira geral.
Mas será que é algo tão simples assim? Como professora de matemática e educação financeira, me sinto na obrigação de compartilhar alguns questionamentos que estão na minha cabeça desde 2018, quando, de fato, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) teve sua versão definitiva divulgada. Para os leigos, a BNCC é o documento que direciona a educação básica do país (até o ensino médio). Se neste documento consta que deve haver educação financeira para as crianças e adolescentes, todas as escolas (públicas e privadas) precisariam inseri-la em sua grade curricular. A BNCC começa a ser implementada neste ano, 2020, mas as escolas têm até 2022 para se adaptarem às novas diretrizes.
É indiscutível a importância desse assunto estar presente nas escolas. Em países desenvolvidos, os responsáveis por ensinar uma relação saudável com o dinheiro são os familiares. Mas isso é cultural: passado de pai para filho. Atualmente, quase metade dos jovens até 24 anos já tiveram seu nome negativado no Brasil, e a realidade é de que a maioria dos adultos não tiveram acesso à educação financeira: nem na escola, nem em casa. Isso engloba pais e professores. Então quem vai ensinar?
Esse é um grande desafio: preparar o corpo docente para saber ensinar esse conteúdo de forma significativa e que, de fato, possa impactar as atuais e futuras famílias brasileiras. Outra questão é sobre a forma como será abordado em sala de aula. Os conteúdos de porcentagem, juros e matemática financeira básica SEMPRE estiveram presentes no currículo brasileiro. Mas, por experiência própria, ser bom em cálculo não garante que você tomará boas decisões financeiras. Não somos seres racionais como a economia tradicional acredita: somos humanos e agimos pela emoção. Cerca de 95% das nossas ações são inconscientes.
Portanto, resumir a educação financeira de crianças e adolescentes a cálculos não garante mudança de hábitos em relação ao consumo. Por isso, se esse conteúdo não for dado em uma óptica de comportamento humano, a sociedade brasileira não será impactada, como se espera.
É utopia acreditar que as escolas estarão aptas a implementar de maneira eficaz? Não, no longo prazo. Para 2020, pode-se esperar apenas algumas iniciativas isoladas e, talvez, um grande esforço de empresas e pessoas que queiram formar professores para viver a educação financeira e não apenas ensiná-la. Esse é o maior desafio. Se você é pai ou mãe e gostaria que seu filho tivesse acesso a isso, busque por alternativas; cobre os responsáveis da escola e faça sua parte: tente aprender também.
Por Graziele Delgado e Evandro Valereto