Temos observado, com frequência, as enormes dificuldades que encontramos para contar na contratação de pessoas para uma simples prestação de serviços com a qualidade e competência indispensáveis a quaisquer ações profissionais.
Alguns exemplos encontramos no dia a dia em nossas compras em mercados ou até lojas e grandes espaços comerciais quando, ao finalizarmos a compra tentamos quitar em espécie. Em inúmeras vezes, ao tentarmos facilitar o troco como acréscimo de valores que favorecem a ação, de imediato a pessoa nos propõe o uso do cartão bancário, não por ausência de notas ou moedas, mas simplesmente por não saber realizar a operação após a máquina “fechar” o processo e não permitir a inserção do valor acrescido (“facilitador”). Observei que esta dificuldade não aparece quando o “caixa” pergunta, antes de concluir a operação na máquina, se o pagamento será em dinheiro ou cartão. Observa-se que a pessoa não mais conquista realizar a operação mentalmente, é dependente da máquina e sua capacidade é ínfima.
No quesito cordialidade a coisa se complica ainda mais. Você chega a um estabelecimento comercial e não há mais clientes no momento, e encontramos três “profissionais” que continuam contando piadas e não te atendem, demoram tempo elevado para, simplesmente, cumprir sua função. E não para por aí, em outros encontros tivemos que ouvir palavras de baixo calão trocadas em voz alta entre os funcionários e na presença de meus netos. Os desentendimentos entre as pessoas que atuam em um mesmo espaço estão presentes, abertamente discutidos e sem o mínimo respeito aos demais.
Em uma famosa pizzaria, tivemos o dissabor de assistir cenas que denotam o profundo despreparo do “cozinheiro”. O mesmo funcionário que recebe o pagamento é o que manuseia os produtos na confecção da pizza, sem limpar as mãos, usar luvas e, pasmem, pegar em lixo, colocar no cesto (para tanto precisou abrir a tampa) e volta a manusear o produto.
Tentando resolver um problema hidráulico (torneira da pia de cozinha) recebemos um senhor que sequer contava com recursos técnicos para realizar a tarefa (um grifo). Oferecemos nossas ferramentas e para nossa surpresa sequer conhecia um “bico de papagaio regulável”. Mas, seguiu com a tentativa do reparo. Após mais de uma hora de tentativa, simplesmente pegou a massa acrílica e envolveu a junção, sem conquistar apertá-la, de forma a “resolver” o problema de vazamento e assim ficou.
Analisar o momento, encontrar a melhor solução, atender adequadamente outra pessoa não são, infelizmente, comportamentos encontrados em muitos espaços em nossa sociedade. As pessoas não contam com recursos para atuar, dignamente, em uma sociedade e oferecer qualidade no atendimento e serviços.
Para além de não formarmos pessoas que saibam ler e interpretar textos, dado sobejamente constatado em nosso tempo temos, ainda mais pessoas sem qualquer preparo para a vida e muito menos para o exercício profissional mais simples. Que dirá nas profissões que exigem muito mais.
Neste momento me vem à memória de um fato ocorrido em uma escola de educação básica. Uma família nos trouxe o caderno de sua filha com a avaliação de uma atividade de língua portuguesa. Nos apresentaram a correção feita pela professora para a palavra “muito” escrita pela filha corretamente e corrigida pela professora, que atribuía avaliação negativa, em que o correto segundo a suposta professora, era apontado com a grafia “muinto”.
No final da semana que passou tive a oportunidade de ler um artigo em que o autor afirmava a enorme dificuldade em encontrar pessoas, profissionais, para contratar em suas empresas. Nem mesmo participar dos processos de requalificação era algo aceito pelos candidatos que eram aceitos com este compromisso (reciclagem) e eram demitidos por se recusarem a tal.
Onde se encontram os equívocos que foram cometidos no processo de formação profissional em nosso tempo? E como estaremos no futuro que se apresenta com maiores exigências e competências?