Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a)! Se você usa redes sociais ou assiste vídeos na internet, certamente já se deparou com algo do tipo “ganhe dinheiro com pontos do cartão”, “viaje de graça para qualquer lugar do mundo”, etc. Essas são propagandas comuns comuns sobre programas de milhas aéreas, pontos de cartão de crédito ou programas de cashback. Parece bonito e benéfico na teoria, mas no artigo desta semana queremos te contar o que ninguém fala sobre esses programas: eles são “empurrõezinhos” para você gastar mais dinheiro e podem estar fazendo um buraco na sua vida financeira.
Para entender o que tem por trás disso, precisamos falar sobre um conceito de finanças comportamentais, chamados de nudge: são “empurrõezinhos” arquitetados friamente para influenciar suas decisões. Esse conceito foi desenvolvido e testado em uma pesquisa realizada em creches e escolas infantis, que estudou a influência da disposição dos alimentos nas refeições das crianças. Diferentes configurações foram testadas em diferentes escolas: em algumas, as comidas saudáveis eram colocadas em primeiro lugar; em outras, optavam pelas comidas mais calóricas aparecendo na bancada primeiro. Os resultados são chocantes: as crianças comiam de forma muito mais saudável naquelas escolas em que as opções saudáveis vinham primeiro. Sim: a simples ordem com que os produtos aparecem influenciam nossas escolhas.
E só para que fique realmente claro como isso funciona, vamos dar mais um exemplo prático: os mictórios de Amsterdã. Este é o nudge mais famoso (e copiado) do mundo: a fim de reduzir a sujeira nos banheiros masculinos do aeroporto de Amsterdã, um adesivo de moscas foi colocado em cada mictório, próximo do ralo. De forma inconsciente, os homens acabavam mirando essa mosca e a sujeira reduziu em 80%! É isso que o nudge faz: ele influencia, de forma muito sutil, nossas escolhas diárias. Nós sequer percebemos que estamos sendo induzidos a fazer escolhas por meio desses “detalhes”.
No mundo do dinheiro os nudges são muito comuns: algumas lojas de varejo e até supermercados utilizam prateleiras ao redor dos seus caixas. Isso é um nudge: quanto de “uma coisinha”, que não seria comprada antes, as pessoas acabam levando por causa desse estímulo? Outro nudge é colocar os produtos preferidos e mais vendidos lá no fundo da loja, de forma que você tenha que atravessar as outras prateleiras para chegar nesses produtos. Qual é a chance de comprar algo que não estava nos planos? Isso tudo mora dentro do que chamamos de “arquitetura de escolhas”: você é um arquiteto das suas próprias escolhas, e ter consciência sobre o que te influencia te dá mais poder para escolher melhor.
E como os programas de pontos, cashback e milhas fazem parte disso? Eles também são nudges. Para 99% das população, eles são apenas um “argumento perfeito” para comprar mais no cartão de crédito. Mesmo sabendo que você não deveria comprar aquilo naquele momento, você tem essa sensação de que “tudo bem, eu estou acumulando pontos e serei beneficiado depois”. O quanto você gasta a mais por causa desse pensamento?
Então quer dizer que esses programas não funcionam de verdade? Para a maioria da população, não. Esse tipo de “benefício” só tem vantagens para o que chamamos de “big users” do cartão de crédito, aquelas pessoas que pagam faturas acima de R$10 mil todos os meses. E mesmo para essas pessoas, os programas acabam influenciando as decisões a ponto de fazê-las comprar mais do que comprariam se não tivesse esse estímulo.
Portanto, se você é desses “caçadores de pontos”, que gasta tempo e energia correndo atrás das melhores promoções para acumular mais pontos, saiba que pode estar perdendo tempo e dinheiro. No final das contas, você perde muito mais do que realmente ganha! Este artigo é uma provocação, querido(a) leitor(a). Agora, fica a reflexão sobre seus hábitos de consumo e o quanto você é influenciado por esse tipo de estratégia. Conhecimento é poder porque te dá condições de agir diante das circunstâncias. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).