Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a)! Talvez você ache esse título um pouco estranho, já que esta coluna trata de inteligência financeira e investimentos. Sem dúvidas, a tal da “liberdade financeira” é o ponto alto do mundo dos investimentos, algo que leva grande parte das pessoas a buscar conhecimento sobre o assunto e começar a investir. Só existe um problema nisso tudo: a liberdade financeira costuma morar longe. E é sobre o aspecto neuro psicológico disso que vamos falar no artigo desta semana.
Ayn Rand tem uma frase determinante: “você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade”. Quanto antes você aceitar sua irracionalidade e entender seus padrões comportamentais de tomada de decisão, mais vai dominar seu dinheiro. E essa é uma verdade incontestável: temos dificuldade em dar valor ao que vai acontecer em um futuro mais distante. Isso significa que, se sua única justificativa para investir seu dinheiro for alcançar a tal da liberdade financeira, a chance de desistir no meio do caminho é muito alta.
Nós, seres humanos, sobrevivemos evolutivamente dando valor ao curto prazo: um homem caçador-coletor só sobreviveu porque focou sua atenção no presente – o que era necessário comer naquele dia; encontrar um lugar seguro para passar a noite, etc. O comportamento focado no presente foi o que nos permitiu chegar até aqui enquanto espécie humana – mas é esse mesmo comportamento que ferra com sua vida financeira. É este comportamento que te faz gastar mais dinheiro ao invés de fazer uma reserva de emergência. É ele que torna o “investir” algo tão irreal e suas consequências tão abstratas. É muito mais legal comprar aquilo que você deseja agora, parcelar em 10 vezes “sem juros” e seguir a vida. Até que um problema ou imprevisto acontece. Até que você se frustra com a vida que tem levado. E por aí vai.
O que fazer, então? “Não investir” não é uma opção: essa é a única forma de criar sua segurança e liberdade financeiras. Aquela vida que você imagina, que tem as viagens dos sonhos, a casa confortável, o carro bacana, e os tantos “nãos” que você gostaria de dizer e não pode hoje – tudo isso depende dos seus investimentos. Só que imaginar tudo isso não é suficiente para te ajudar a investir agora, porque é um resultado que pode demorar anos e, portanto, não tem valor pra seu cérebro. Se você quer realmente começar a investir seu dinheiro e ensinar esse comportamento para seu cérebro, precisa se focar em algo de mais curto prazo.
O desafio é ensinar seu cérebro a dar valor no longo prazo: uma vez que ele aprendeu esse caminho, vai ficar mais fácil. Para dar o primeiro passo, escolha uma meta que não vai demorar muito – no máximo, algo que você vai conseguir realizar no próximo ano. Isso vai te ajudar a entrar em movimento e começar, de fato, a construir o repertório comportamental adequado para atingir seus objetivos. Depois, é só ir ajustando as metas.
É bastante tentador para nós acreditarmos que estamos no controle e basta um estalar de dedos, ou uma decisão, para que consigamos fazer o difícil. Só que seu cérebro já está programado para pensar no curto prazo – existem processamentos e caminhos neuronais construídos para isso. É muita ousadia acreditar que você vai conseguir apenas na força de vontade. Aceite sua irracionalidade, entenda seus padrões comportamentais e aprenda a lidar com você mesmo: é isso que vai te ajudar a dominar o seu dinheiro, usando-o como ferramenta para conquistar a vida que você deseja. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).