Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a)! Há quanto tempo você está tentando organizar suas finanças, mas nunca consegue sair do lugar? Ou até pior: há quanto tempo você sabe que precisa organizar seu dinheiro, mas vive como se nada estivesse acontecendo, deixando sempre para depois? Há quantos anos suas promessas de ano novo tem sido “guardar dinheiro”, “começar a investir”, “gastar menos no cartão de crédito”?
Se você se reconheceu nesta situação, não se desespere: isso significa que você é humano(a). E humanos tem uma forma bastante específica de tomar decisões, por isso sua vida financeira tem sido tão desafiadora. Nesta semana queremos te falar dos quatro pilares para tomar boas decisões com seu dinheiro e parar de viver nesse perrengue, de uma vez por todas.
O primeiro pilar é o conhecimento, mas isso você já sabe. É o que 99% dos educadores financeiros dizem por aí: guardar menos do que ganha; tomar cuidado com parcelamentos e cartão de crédito; parar de deixar seu dinheiro na Caderneta de poupança; investir de forma a não perder para a inflação; saber que consórcio é a pior enrascada da sua vida; conseguir ler as letras miúdas do contrato do financiamento, e por aí vai. Sim, conhecimento técnico de como o mundo do dinheiro funciona e quais passos você deveria fazer são importantes: eles podem te ajudar a tomar boas decisões. O problema é que isso não é suficiente: se “saber” fosse o único ponto, todo mundo seria rico(a), sarado(a) e teria uma família de comercial de margarina (o que não é, definitivamente, o caso).
O segundo pilar para tomada de decisão são as crenças, que nada mais são do que “regras” que vão direcionar suas decisões. As crenças que você tem hoje são únicas e funcionam como lentes com as quais você vê o mundo: dependem da sua história de vida, do que você viveu, viu e ouviu, dos seus modelos de sucesso e fracasso. São elas que moram na profundidade das nossas decisões: você pode acreditar que dinheiro e relacionamentos não combinam porque escutou seus pais discutirem quando criança, ou viu um familiar se divorciar; ou ainda, diante da morte de um avô, presenciou a família toda entrando em guerra por causa da herança. E, se você tem uma crença como essa, certamente o dinheiro será um problema na construção da sua família: um assunto proibido, gerador de conflitos, que é melhor continuar vivendo como se ele não existisse. Se você tiver a crença de que seu valor depende dos bens que acumular durante a vida, das marcas que utilizar, será alguém que vai viver correndo atrás do dinheiro e fazendo prestações para manter as aparências.
Portanto, mapear suas crenças e compará-las com a realidade vai te ajudar a entender porque você faz o que você faz, trazendo mais consciência para suas decisões (esqueça esse negócio de falar meia dúzia de frases prósperas todo dia de manhã: isso, definitivamente, não funciona).
O terceiro pilar para analisar suas decisões são os contextos: seus comportamentos são determinados por eles. Em cada contexto da sua vida, você pode ter um comportamento diferente. Pode ser super controlado(a) no supermercado e extremamente consumista no bar. Pode gastar uma grana absurda acompanhando um colega de trabalho na padaria ao lado do escritório, dia sim, dia não. Pode pedir comida por aplicativo quase todo dia porque recebe uma notificação com cupom de desconto. Pode comprar um monte de coisa desnecessária porque passa o tempo livre mexendo em aplicativo de compras e sites aleatórios. Para cada ambiente, um comportamento. Por isso, mapear quais são os contextos mais tentadores te dará o poder de fazer algo a respeito: trazer ferramentas, excluir os aplicativos, mudar o caminho de volta para casa. Parece pouco, mas pequenas mudanças no dia a dia podem afetar de forma estrondosa sua fatura do cartão.
Por último, mas não menos importante: você é irracional. Nós sabemos que está na moda falar de neurociência e racionalidade, e a verdade nua e crua disso tudo é que somos todos Homer Simpson. Nosso cérebro só quer viver o hoje com o maior prazer possível: comer chocolate sempre será mais gostoso do que salada. Ficar jogado(a) no sofá sempre será mais interessante do que fazer exercício físico. Comprar e aproveitar aquela promoção da loja preferida sempre será mais legal do que investir para a aposentadoria. A verdade para seu cérebro é: “dane-se a previdência privada, só se vive uma vez”. Isso significa que seu cérebro sempre vai pegar atalhos para tomar decisões complexas de forma fácil: para que analisar o Custo Efetivo Total de um financiamento, se você pode avaliar a parcela que cabe no bolso?
Aceita, que dói menos: você não será racional o tempo todo. Aliás, na maioria dos dias, funcionará 95% do tempo no automático, repetindo comportamentos que não gastam energia. E o segredo NÃO É sobre ser racional: é sobre automatizar as boas escolhas. Só que, para isso, você terá que ensinar seu cérebro a fazer diferente: é aqui que o filho chora e a mãe não vê. Nosso cérebro é bem conservador neste aspecto: aprender algo novo demora, precisa de repetição e um motivo coerente. Por isso, você precisa se permitir passar pelo processo: acertar o orçamento pode levar alguns meses. E só ganha esse jogo quem não desiste dele.
Por isso, querido(a) leitor(a), não se esqueça: você é um sujeito complexo. Você já sabe quais comportamentos precisa ter para chegar neste lugar que deseja. Agora precisa contar com as ferramentas certas: autocontrole não existe e planilha nenhuma vai te ajudar a gastar melhor. Analise os quatro pilares: saiba exatamente quais são seus pontos fracos e o que fazer com eles em momentos tentadores. Permita-se viver novas experiências e usar seu dinheiro de outras formas: experimentar novos caminhos é o único jeito de mudar crenças. E aceite sua irracionalidade, utilizando-a ao seu favor. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).