O cenário relatado pelos taxistas mostra que o ofício, que já foi um dos mais tradicionais, caminha para o fim
O taxista Waldevino Antônio Batista, o popular Walter, acompanha o cenário da profissão em Votuporanga (Foto: A Cidade)
Daniel Marques
daniel@acidadevotuporanga.com.br
A profissão de taxista está morrendo em Votuporanga? Essa é uma pergunta que circula entre os motoristas que ainda permanecem nas ruas da cidade. Para os poucos que seguem firmes na atividade, a resposta é sim. A avaliação é de que o ofício, que já foi símbolo de tradição e referência de transporte seguro, está próximo da extinção.
Em conversa com a reportagem do jornal
A Cidade, o taxista Waldevino Antônio Batista, conhecido como Walter, afirmou acreditar que em cerca de seis anos restarão apenas “meia dúzia” de profissionais em Votuporanga.
Aos 77 anos, ele soma 54 anos de dedicação ao táxi, ou seja, mais da metade de sua vida foi passada atrás do volante. Natural de Álvares Florence, ele veio para Votuporanga com os pais quando tinha aproximadamente 15 anos de idade. Em sua memória, o início da profissão permanece vivo. “Eu comecei a ser taxista no dia 12 de março de 1969, e nunca deixei. Eu já trabalhei em firmas, mas nunca larguei do taxi; nos finais de semana e nas minhas férias, eu sempre estava aqui”, contou, em seu ponto de trabalho na Praça da Matriz.
Hoje viúvo e morador do centro da cidade, Walter acompanha de perto a transformação da categoria. Segundo ele, atualmente o município conta com 66 táxis inscritos, mas no máximo 30 estão rodando, uma queda superior a 50% nos últimos anos. O cenário é explicado por diferentes fatores, sendo o principal deles a chegada dos aplicativos de transporte, que conquistaram boa parte da clientela. A pandemia também teve peso significativo, provocando uma redução drástica na atividade e acelerando o afastamento de motoristas.
Os reflexos dessa debandada podem ser vistos nos pontos de táxi; hoje restam apenas três: Praça da Matriz, Santa Casa e rodoviária. Locais tradicionais como a Praça São Bento já não contam mais com a presença dos veículos. Para Walter, o futuro da profissão é preocupante. “A profissão de taxista vai acabar, vão ficar meia dúzia; e se você não for aposentando, não pode entrar na praça porque não dá pra sobreviver. Isso deve acontecer em uns 6 anos”, declarou.
Outro fator apontado pelos motoristas é o custo da atividade. Ao contrário dos condutores de aplicativos, os taxistas precisam arcar com duas cobranças: a taxa de solo e o imposto sobre prestação de serviço, que exige inscrição junto à Prefeitura. No caso de Walter, os dois tributos somam cerca de R$ 100 por mês. Além disso, existe o alto valor dos combustíveis.
Questionado sobre as diferenças dos preços das corridas de táxi para as de aplicativos, o taxista entende que variam, em média, entre R$ 3 e R$ 5.
O cenário relatado pelos taxistas mostra que o ofício, que já foi um dos mais tradicionais, vive um momento de incerteza. Entre a concorrência tecnológica, os custos obrigatórios e a falta de renovação da categoria, a resposta para a pergunta inicial parece, ao menos para quem permanece na praça, cada vez mais clara: a profissão de taxista em Votuporanga caminha para desaparecer.