Após a passagem por Porto Alegre, Paul retorna ao Brasil para mais duas apresentações (21 e 22) no Morumbi
Porto Alegre só falava em Paul McCartney, e ele fez por merecer o frenesi que tomou conta da cidade. Na noite de domingo, num estádio Beira-Rio completamente lotado, no primeiro show da viagem pela América Latina, o ex-beatle realizou o sonho de muitas gerações sem mostrar muita novidade, seguindo à risca o roteiro de toda a turnê atual, a “Up and Coming Tour”. Ao longo de três horas, Paul fez rir, chorar, pular, cantar, dançar, gritar. Muitos verbos para uma
pessoa só, e uma pequena amostra do poder que ele tem nas mãos. McCartney fez, e é, história.
O tempero para agradar o público local estava na ponta da língua. Com uma colinha no chão, Paul falou português diversas vezes, apelando sem medo para o orgulho gaúcho: expressões como “bah, tchê”, “trilegal” e “obrigado, gaúchos” estavam entre as frases ensaiadas. A recepção, claro, foi triunfal. Mas ele é muito mais do que isso. Para deixar qualquer um na palma da mão, Paul, a simpatia encarnada, tem décadas de experiência no palco, que transparece em cada gesto – nas dancinhas, nas caras e bocas, nas poses, e até quando finge queimar a mão ao estendê-la para a plateia ruidosa. A temperatura, de fato, estava quente entre a multidão de 50 mil pessoas, ávida por sucessos dos Beatles.
E eles vieram. Das 36 músicas do setlist, 22 eram da banda mais famosa do planeta. A fase iê- iê-iê (“Drive My Car”), as baladas (“The Long and Winding Road”), os rocks (“Back in the USSR”), as imortais (“Eleanor Rigby”), em sequências tão poderosas que deixavam o espectador anestesiado – catatonia é uma das sequelas de se assistir a uma lenda viva. Muita gente, fãs de todas as idades, chorava a cada nova melodia, verdadeiros clássicos da música mundial.
McCartney tocou duas das melhores faixas do projeto The Firemen, “Highway” e “Sing the Chances” (com imagens de Obama no telão), ambas poderosas e compostas, tem-se a certeza, para serem tocadas em estádio. Da carreira solo, hits e pérolas do Wings: a arrepiante “Let Me Roll It”, com uma citação a “Foxy Lady”, de Jimi Hendrix; “Nineteen Hundred and Eighty- Five”, irresistível, Paul ao piano; e “Mrs Vandelbilt”, que conseguiu levantar o coro de “eô”. O ápice, porém, aconteceu em “My Love”. “Escrevi essa música para minha gatinha Linda, mas esta noite ela é para todos os namorados”, disse McCartney, em português. Milhares entoaram o refrão.
As homenagens aos antigos companheiros foram dois dos pontos altos da noite: “Here Today”, composta para John Lennon, com Paul sozinho no violão, e “Something”, clássico de George Harrison, primeiro no ukelele, depois com toda a banda. A plateia respondeu levantando corações de papel, assim como na dobradinha “A Day in the Life” / “Give Peace a Chance”: o mantra pacifista de Lennon ressoou durante vários minutos no Beira-Rio, todo mundo com o símbolo da paz nos dedos.
A sequência que abre caminho para o bis é matadora. Começa com “Band on the Run”, passa por “Ob-La-Di Ob-La-Da”, chega no teto com uma versão longa, rápida e pesada de “I've Got a Feeling” e explode no céu, literalmente, em “Live and Let Die” – fogos de artifício dentro e atrás do palco, em quantidade suficiente para o cheiro de pólvora dominar o ar. “Hey Jude”, como era de se esperar, foi a que teve maior adesão do público: trouxe um “na na na” insistente, antes, durante e depois, até para chamar Paul de volta para o palco.
Ele voltou empunhando uma bandeira do Brasil e outra do Reino Unido. O símbolo nacional, curiosamente, motivou que alguns cantassem o Hino Rio-Grandense e o estádio inteiro, o coro de “ah, eu sou gaúcho”. McCartney repetiu a frase no microfone, o público delirou.O final, como de praxe, foi com “Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band” e “The End”, acompanhadas por uma tempestade de papel verde-amarelo picado. “Até a próxima”, se despediu Paul. Se em uma nova turnê, é pouco provável, mas o público brasileiro já tem encontro marcado com o cavaleiro da rainha: dias 21 e 22 de novembro, no Morumbi, em São Paulo.
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