O roubo de obras de arte tem trazido para a opinião pública a consciência da importância de cuidar com maior solicitude da segurança da riqueza artística que possuímos nos museus, nas igrejas. Minas guarda riquíssima tradição barroca. Por isso se torna vítima de freqüentes roubos. Cabe ao Estado e às instituições responsáveis por tal acervo artístico dobrar a vigilância.
Atos tão vandálicos levam a questionar-nos sobre a importância que damos à arte na formação cultural do povo. A arte humaniza. E quando ela ocupa lugar fundamental na educação das crianças e adolescentes nas escolas os resultados se fazem sentir imediatamente. Numa prisão americana, a violência interna baixou enormemente quando um grupo de teatro ensaiou e representou com os presos obras de Shakespeare. O fato de vivenciarem dramas de alto nível cultural levara-os à reflexão pessoal, ao conhecimento de si mesmos, à catarse de sentimentos mal trabalhados. E o fruto se manifestou na humanização de suas condutas.
Tal experiência vale de toda arte verdadeira. Ela brota da profundeza espiritual do
artista que passa por meio da obra aquelas intuições, sentimentos, experiências humanas com força única. A exposição à arte por parte das pessoas pede trabalho
interior, pessoal e acompanhado. Ela produz sentimentos e reações que escapam ao controle puramente racional. A ajuda de psicólogos e educadores completa o trabalho formativo.
A capacidade de a arte mexer as pessoas por dentro ultrapassa experiências comuns e normais. Ela as conduz a piques afetivos que merecem cuidado. A impressionante figura da face de Jesus de Dürer já despertou surtos psicóticos em visitantes do museu.
A força daquele olhar doloroso toca o interior de afetividades traumatizadas, fazendo-as explodir. Tal o poder da imagem artística.
A arte na educação das crianças e adolescentes não se resume a um luxo para burguesinhos de colégios particulares. Antes se faz ainda mais importante para as classes populares nas Escolas Públicas. Aí a arte serve para desarmar tanto campo
minado por frustrações e carência humanas. Ninguém nasce redondo de amor e de
delicadeza. As crianças e adolescente se formam na relação com as pessoas no interior da cultura. E quanto mais os educadores, família e escola inserirem a geração nova no universo da beleza tanto mais lhe educarão a afetividade, a mente.
Pelo contrário, a sujeira, a feiúra, o barulho irritante do som e das imagens, ao invadir- lhe o interior, destroem traços de humanidade e semeiam atitudes e comportamentos associais. Não estranhemos depois circularem pela cidade gangues de jovens sem sentimento e banhados de violência. Cada gota de arte permite germinar sementes de finura, de espiritualidade e de leveza no lugar de estupidez animal.