Na reunião do G20, na Alemanha, o presidente Michel Temer exagerou na demonstração de confiança, ao afirmar à imprensa e aos chefes de Estado presentes que “crise econômica não existe no Brasil”. Infelizmente, os primeiros indicadores de recuperação ainda são tímidos, continuamos com quase 14 milhões de desempregados, alto endividamento das empresas e das famílias, consumo baixo e dificuldade de crédito.
É verdade que a economia começa a reagir, mas não a ponto de justificar uma afirmação tão categórica como fez Temer perante os holofotes globais. Esse tipo de retórica conspira contra a credibilidade dos investidores e dos agentes do mercado, pois todos conhecem a realidade e sabem que nosso país ainda luta com dificuldade para vencer a conjuntura recessiva. Ademais, a incipiente reação deve-se à capacidade de superação e proatividade do empresariado e à inegável competência do ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, reconhecida nacional e internacionalmente.
Michel Temer, por mais lamentável que seja admitir isso e independentemente dos resultados das investigações relativas às denúncias das quais é alvo, perdeu a credibilidade. Seu governo está sem sustentação, e tal instabilidade não permite que a economia reaja de modo mais consistente. O presidente luta para se manter no cargo, numa frenética agenda de negociações por apoio na Câmara dos Deputados, para tentar barrar a aceitação da denúncia por corrupção passiva. Seu futuro político está em jogo. Em sua agenda, portanto, não há espaço para tratar de economia.
Por tudo isso, foi inoportuna a declaração taxativa de Temer de que não temos crise. Foi algo que soou de modo quase irônico. A sua afirmação fez lembrar o comentário do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2008, de que a mais grave quebra da economia mundial desde o crash de 1929 era apenas “uma marolinha” para o Brasil. Como se viu, não conseguimos surfar nessa onda. Ela cresceu e nos fez naufragar.
Agora, na mira da Justiça, com baixíssimo índice de popularidade, sob alta suspeição da sociedade e respirando por aparelhos na UTI da política nacional, Michel Temer errou na dose da retórica dissuasiva, ao afirmar, numa reunião do G20, que não há crise no Brasil. O ambiente do encontro de cúpula dos representantes das maiores economias globais exige uma postura de absoluta seriedade por parte dos chefes de Estado presentes. Não é palco para proselitismo!
No cenário atual do Brasil, é preciso blindar a economia das influências da política. A instabilidade é grande em Brasília. No Congresso Nacional, o apoio ou desapoio ao “réu da vez” dá-se à revelia da justiça, da culpa ou da inocência. O critério para se tomar uma posição oscila entre duas hipóteses: o fisiologismo da “fidelidade”; e a preservação da imagem perante o eleitorado. Esta tem prevalecido, pois a relação custo-benefício de continuar politicamente vivo parece sensibilizar mais a maioria dos políticos do que as vantagens e privilégios efêmeros de uma gestão.
Os brasileiros desempregados, as famílias endividadas, as empresas fechadas e insolventes e os setores produtivos não podem ficar ao léu do imprevisível jogo brasiliense. Nesse contexto, a heroica reação da economia tem demonstrado que a Nação é maior do que o governo. Mérito da democracia!