No Brasil, o voleibol representa para muitas crianças uma esperança de ascensão social e fuga da pobreza. As “peneiras” são o primeiro desafio para esses jovens atletas em busca de realizar o sonho de se tornarem jogadores profissionais. Com anos de experiência no voleibol brasileiro, como atleta e técnico, compartilho minha visão sobre essas seletivas e dicas importantes no final deste artigo, para os futuros atletas do voleibol.
O desenvolvimento do voleibol no Brasil é marcado por uma disparidade entre os grandes centros urbanos e as regiões do interior. Enquanto nas metrópoles os jovens têm acesso a clubes com infraestrutura de ponta e técnicos especializados, no interior, a falta de recursos prejudica o desenvolvimento dos talentos. Essa desigualdade faz com que muitos talentos promissores não tenham a oportunidade de mostrar seu potencial.
Os principais clubes de voleibol do Brasil realizam “peneiras” para recrutar jovens talentos. Esses eventos atraem um grande número de aspirantes, mas a competição é acirrada e as chances de seleção são pequenas. As seletivas são organizadas por categorias de idade, visando o desenvolvimento estruturado dos atletas. Para muitas crianças, a “peneira” representa a chance de um futuro melhor. A atmosfera nesses eventos é carregada de expectativa e ansiedade, mas a cada etapa muitos são eliminados, causando frustração e impacto emocional.
Entendendo o que um treinador deseja
O papel do avaliador é complexo, buscando mais do que apenas habilidade técnica. É preciso analisar o, ainda inalcançado, potencial do jogador, sua disciplina, capacidade de trabalhar em equipe e adequação ao ambiente da equipe. E o seu “não” proferido aos que não forem aprovados tem o poder de uma espada de dois fios, instigar a treinar intensamente para uma voar numa próxima temporada ou naufragar o sonho trágica e eternamente no mar do “e se eu tivesse me esforçado mais?”.
Para você, jovem atleta, que deseja uma oportunidade: Não somente eu, mas muitos treinadores avaliam os jovens talentos considerando cinco capacidades essenciais:
Capacidade física: Potencial genético para crescimento e desenvolvimento (altura, agilidade, velocidade).
Habilidade técnica: Proficiência nos fundamentos do voleibol (passe, levantamento, saque, ataque, bloqueio, defesa) e atenção aos vícios de movimento.
Inteligência tática: Compreensão de estratégias de jogo e capacidade de seguir instruções.
Estabilidade emocional: Capacidade de manter a calma e o foco sob pressão.
Aptidão social: Habilidade de interagir positivamente com os companheiros de equipe.
O processo da “peneira” envolve etapas que avaliam essas cinco capacidades. Inicia-se com a avaliação de habilidades fundamentais (toque e manchete), progredindo para habilidades mais complexas (saque, passe, ataque, bloqueio, defesa) e jogos simulados. Nós, avaliadores observamos a precisão, direção, posicionamento e equilíbrio dos jogadores, além da postura emocional sob pressão diante dos adversários.
Apesar do foco nos grandes clubes, alguns jovens não aprovados são observados por clubes menores, encontrando caminhos alternativos para suas carreiras. As conexões formadas nas peneiras também podem gerar oportunidades futuras.
A Corda Bamba da Ética: Peneiras Sem Vagas
A realização de peneiras sem vagas disponíveis é uma prática preocupante. Acontecem quando o clube já estava fechado desde a temporada anterior e, para não perder a tradição, realiza o evento mesmo assim. Isso gera falsas esperanças e submete crianças a estresse emocional desnecessário. Já os clubes, perdem um possível jogador revelação que deixaria de comparecer caso soubesse que a vaga da sua posição já estivesse preenchida. Às vezes o sonho não se inicia, não por culpa do atleta, mas por falta de vagas.
Lições do Passado, Esperança para o Futuro: Dicas para os jovens que desejam ser aprovados e seguir o sonho esportivo:
1) Treinamento Físico: jogadores iniciantes acreditam que saber jogar é o suficiente, não é! Esforce-se, pois o preparo físico é essencial.
2) Postura: Mantenha um semblante sólido na arquibancada enquanto aguarda, não se isole, converse, mas não seja irreverente. A indisciplina é um forte eliminador para resolver um empate e a falta de interação também.
3) Domine o básico: toque e manchete devem ser como caminhar tranquilamente. Repita 10 mil treinos se for preciso, até que se torne natural.
4) Calma: todos que estão ali também querem o que você quer e também estão nervosos. Mas a capacidade de demonstrar resiliência sob estresse, é um fator fundamental.
5) Não desista: inscreva-se e todas as seletivas. Se você não for selecionado na primeira peneira, ainda existem dezenas delas em outras cidades. Faça amizades e continue de olho nos calendários disponibilizados pelos clubes.