Lena Moreira falou sobre Zumbi dos Palmares e sobre a questão de cotas nas universidades
Andressa Aoki
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Ontem foi o dia da Consciência Negra. Para falar sobre o assunto, a Rádio Cidade convidou Lena Moreira, que trabalha com cultura afro-brasileira na Secretaria municipal da Educação, Cultura e Turismo. Durante a entrevista, ela admitiu que ainda há discriminação contra os afrodescendentes. “Todo negro sofre discriminação, às vezes até em brincadeiras”, disse, no programa Jornal da Cidade.
Ela explicou a diferença de discriminação com preconceito. “O primeiro vem de encontro quando a pessoa perde os direitos de cidadão. Ela tem os diretos velados, por exemplo, você ser impedido de frequentar um lugar. Arrumam um modo de barrar você. Já preconceito é uma ideia pré-concebida do que a gente não conhece”, destacou.
Lena contou que às vezes, o negro tem um desempenho melhor no trabalho que os outros, mas não tem ascensão por causa da negritude dele. “Ele é respeitado quando o meio é mais pobre que ele. Nos ricos, com o mesmo poder aquisitivo, é discriminado também”, enfatizou.
História
Ela explicou ainda quem era o Zumbi dos Palmares. “Era neto direto de reis africanos. A África não era um celeiro de escravos, era um continente constituído por nações e sociedade organizadas, embora a nossa visão seja de tribos e índios selvagens. A população que veio para o Brasil tinha um alto conhecimento tecnológico, organização social. Lá, eles eram livres. Eram capturados para trabalhar em mão de obra escrava para o Brasil e outros países”, disse.
Zumbi era líder do quilombo do Palmares, que hoje está no Estado de Alagoas. “Antes na Serra da Barriga. Local estratégico, de difícil acesso, no meio da mata, onde se refugiaram. Construiram uma grande comunidade com 20 mil negros. Demorou quase 100 anos para de destruir o quilombo”, afirmou.
Lena destacou que a senzala era local onde os negros moravam. “A casa grande morava os senhores de engenho, o dono da propriedade e dos escravos. Senzala era onde eles tinham como repouso. Era um abrigo desumano, que só tinha porta de entrada, não tinha janelas, eram dezenas e centenas. Não tinha cama, era esteira”, contou.
Ela ressaltou que o negro se confunde com a história do Brasil. “A liberdade dos escravos vem a com a resistência do negro e apoio da população que tinha contato cm eles e não apoiava a escravidão. Brasil foi o último país a abolir a escravidão”, destacou.
Leis que não funcionavam
Lena Moreira explicou que as leis que antecederam a abolição não funcionavam. “A lei dos sexagenários que previa a liberdade do negro aos 60 anos, mas a média de vida era de 35 a 40 anos. Eles morriam antes. A lei do ventre livre, a criança ficava sobre tutela até os 18 anos e depois tinha que pagar um donativo para o fazendeiro para ter alforria”, ressaltou.
Cotas
Para ela, a questão das cotas nas universidades tem que ser provisória. “Precisa de conscientização. Este processo que envolve o negro no país, tem que ser feito. Foram mais de 300 anos de escravidão, de injustiça social cometida e ainda há uma discriminação velada”, finalizou.