Grupo usava empresas de fachada, falsos contratos e promessas enganosas para desviar quase R$ 1 milhão em produtos da marca Strong
Golpe milionário com suplementos de luxo: Polícia Civil de Votuporanga estoura esquema que movimentava quase R$ 1 milhão (Foto: Divulgação)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuporanga.com.br
Uma megaoperação policial deflagrada na terça-feira (11) revelou os bastidores de um golpe milionário, envolvendo suplementos alimentares de alto valor, empresas de fachada e transações fraudulentas. A Polícia Civil de Votuporanga, por meio do Núcleo de Polícia Judiciária dos 1º e 3º Distritos Policiais, desmantelou uma quadrilha interestadual que causou um prejuízo de quase R$ 1 milhão em uma empresa votuporanguense, dona da marca Strong, referência nacional no setor.
Batizada de Operação Cyberconnect, a ação prendeu suspeitos, apreendeu produtos de luxo, documentos falsos e notas fiscais adulteradas, e revelou uma rede criminosa que simulava negócios legítimos para roubar carregamentos inteiros de suplementos. A investigação foi comandada pelo delegado Thiago Silva Pereira, titular do núcleo dos 1º e 3º Distritos Policiais de Votuporanga.
O golpe
O esquema começou em junho de 2025, quando o principal investigado, D. S. M. D., de 34 anos, apareceu na sede da fabricante posando de empresário bem-sucedido. Com fala convincente e documentos aparentemente regulares, ele fechou uma primeira compra de R$ 520 mil, em nome das empresas Elite Suplementos Ltda e D. S. M. D. (ME).
A farsa só começou a desmoronar meses depois: após receber os produtos, o criminoso pagou apenas R$ 173 mil, deixando R$ 346 mil em aberto. Antes mesmo de quitar o débito, ele armou uma nova transação, no valor de R$ 638.972, conseguindo outra remessa completa de suplementos, mas sem pagar um centavo.
Segundo a fabricante, o golpista se mostrava atencioso e comunicativo, ligava com frequência e dizia que as vendas estavam “bombando”, passando uma falsa imagem de sucesso e honestidade.
A rota do crime
As investigações revelaram que parte da carga desviada foi revendida ilegalmente em academias e lojas de Vitória da Conquista (BA). Outras mercadorias foram rastreadas até Itaquaquecetuba (SP), onde o irmão do golpista, R. S. M. D., controlava um comércio usado como ponto de escoamento da fraude.
Clientes baianos que tentavam comprar direto da fabricante eram enganados e redirecionados ao grupo, que operava sob o nome CD Suplementos Nordeste Ltda, registrada em nome de uma comparsa identificada como C. F. S..
O falso acordo
Pressionado pela empresa lesada, D. S. M. D. chegou a acionar uma advogada, V. O. X., que propôs um acordo extrajudicial de fachada, aceito pela vítima, mas jamais cumprido. De acordo com a Polícia Civil, o documento foi apenas uma manobra para ganhar tempo e revender os produtos furtados. Quando confrontado, o golpista bloqueou os contatos da vítima nas redes sociais e confessou por mensagem que não pagaria porque já não tinha “como sair da situação”.
Quadrilha articulada
De acordo com o delegado Thiago Silva Pereira, os elementos coletados durante a investigação apontam não apenas para o crime de estelionato, mas também para indícios de associação criminosa. "A conduta reiterada, articulada entre os envolvidos e com utilização de pessoas jurídicas distintas, indica uma atuação coordenada com o objetivo específico de obter vantagem indevida", explicou o delegado.
O juiz Armando Gossn Costantini, da Vara Regional das Garantias de São José do Rio Preto, autorizou mandados de busca e apreensão em residências e empresas dos investigados, destacando na decisão que a quadrilha “agiu com dolo específico e intenção clara de lucro ilícito”.
Operação integrada
A operação contou com a colaboração de diferentes unidades policiais. Além da coordenação do delegado Thiago Silva Pereira em Votuporanga, as autoridades policiais de Itaquaquecetuba-SP e agentes locais e de Votuporanga também contribuíram com as investigações, auxiliando no cumprimento dos mandados de busca e apreensão nos endereços comerciais ligados ao esquema naquela cidade.
A Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Vitória da Conquista-BA, vinculada ao Departamento Especializado de Investigações Criminais da Polícia Civil da Bahia, também participou ativamente da operação.
Próximos passos
Todo o material apreendido, avaliado em R$ 985.694,00, será restituído ao proprietário legítimo. As investigações prosseguem para identificar e responsabilizar todos os envolvidos no esquema, que responderão pelos crimes de estelionato e, possivelmente, associação criminosa.
O caso demonstra a crescente sofisticação de golpes comerciais e reforça a importância da fiscalização rigorosa em transações de alto valor, especialmente quando envolvem novos parceiros comerciais. A integração entre as polícias de diferentes municípios foi fundamental para o sucesso da operação, ainda mais pelo fato do negócio celebrado ter apenas roupagem de licitude.