Vanessa Bortolozo (Foto: Divulgação)
A Comunicação Não Violenta não se resume a um conceito. Podemos defini-la como um método, com um sistema prático que facilita sua aplicação e compreensão. Ela se baseia em quatro componentes, que funcionam quase como uma escada.
1. Observação
O primeiro passo da Comunicação Não Violenta é observar o que realmente está acontecendo em uma conversa ou situação. Tentar fazer isso de uma maneira pura, afastando nossas percepções e opiniões antes de tomar uma atitude.
Na rotina de uma empresa, observar antes de agir significa evitar conflitos. Com a CNV, a ideia é trocar adjetivos (“tá ruim!”, “é péssimo!”, “ficou feio!”) e julgamentos pessoais (“não gostei!”) pela simples verdade daquilo que está acontecendo. Por exemplo: “seria melhor ter mais detalhes do produto para convencer o cliente a comprar”, “este layout tem muitas cores conflitantes”, “encontrei alguns erros de português em seu relatório”.
Imagine que você está fazendo um retrato falado de uma pessoa. Informar que esse alguém era bonito ou feio, só vai mostrar sua percepção. É preciso tentar descrever os detalhes para contribuir com um trabalho efetivo.
2. Sentimento
Após observar o fato, o próximo passo é buscar identificar os sentimentos que ele proporciona (tanto em você quanto nos outros, lembre-se da empatia). Pese, o que este problema ou situação faz você sentir? Frustração, raiva, medo, desmotivação Ou então, o que o meu colega de trabalho deve estar sentido para ter me criticado?
Além de humano, identificar sentimentos é efetivamente estratégico dentro de uma empresa. Rosemberg, o inventor da CNV, observou em sua pesquisa que é mais fácil convencer uma pessoa quando se mostra o impacto de algo. Expresse seus sentimentos na conversa, e assim você desarmará o seu colega e a sí mesmo.
Talvez a parte mais legal deste componente é que ele desmente aquela ideia de que a Comunicação Não Violenta consiste em reprimir sentimentos para evitar conflitos. Na verdade é bem pelo contrário, expressar como você se sente vai te ajudar e muito a conquistar seus objetivos.
3. Necessidades
Bom, agora que você consegue descrever precisamente o que está acontecendo, inclusive os sentimentos que a situação proporciona, o próximo passo para aplicar a Comunicação Não Violenta na sua empresa é pensar na necessidade dos envolvidos.
Digamos que o seu sócio fez um relatório financeiro muito simplificado, sem alguns detalhes importantes para identificar os reais problemas da empresa. Falar para ele que você “precisa de um relatório bom” não vai resolver, até porque isso é apenas sua opinião. O que significa bom para você?
Expressando sua real necessidade, você evita conflitos e economiza tempo com discussões de juízo de valores. Afinal, foi direto ao ponto. O mesmo vale para o caminho contrário. Caso seja você quem escutou do sócio que o seu relatório estava “ruim”, buscar entender o que ele realmente precisa e responder com cordialidade terá muito mais resultado do que agir na defensiva.
4. Pedido
Depois de observar e entender sentimentos e necessidades, você está pronto para formular uma frase (ou pedido) de uma maneira não violenta. Podemos dizer que este é o componente final para aplicar a Comunicação Não Violenta na sua empresa. Mas na prática, para os seus colegas de trabalho, ele é o início de tudo.
Voltando ao exemplo do relatório do seu sócio. Digamos que você o analisou, respirou, pensou, e, antes de reclamar que “estava uma porcaria”, formulou a seguinte frase:
“Fulano, analisei o seu relatório e não consegui encontrar alguns detalhes importantes para identificar os problemas da nossa empresa [observação]. Isso me deixa um pouco frustrado e preocupado [sentimento], pois precisamos apresentar estes dados para nossos investidores amanhã [necessidade]. Você poderia rever e detalhar as questões X, Y e Z ainda hoje para que a gente possa analisar isso juntos novamente? [pedido]”
Ao receber uma argumentação não violenta, temos mais condições de analisar o que está acontecendo de verdade, quais são as consequências disso e o que se espera da gente para resolver a situação. Praticar a CNV em uma empresa significa exercitar a empatia. Expressa preocupação em não machucar seus colegas, assim como não se sentir ofendido com críticas. Buscar compreender todos estes quatro componentes te ajuda a evitar conflitos internos e trazer mais produtividade.