Vanessa Bortolozo (Foto: Divulgação)
A Comunicação Não Violenta é uma forma de comunicação desenvolvida pelo psicólogo Marshall B. Rosenberg que se baseia em estarmos conscientes das nossas necessidades e dos outros, com a finalidade de falar sem machucar e ouvir sem se ofender.
Ou nas suas próprias palavras tiradas do livro “Comunicação Não Violenta”: A Comunicação Não Violenta se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas. […] Nossas palavras, em vez de serem reações repetitivas e automáticas, tornam-se respostas conscientes, firmemente baseadas na consciência do que estamos percebendo, sentindo e desejando. – Marshall B. Rosenberg
A CNV acaba sendo uma prática de reflexão sobre nossas necessidades e do outro, identificamos o que está por trás de cada mensagem e forma de falar para ver a situação com mais empatia e assim evitar conflitos.
A Comunicação Não Violenta também nos faz prestar atenção no feedback que recebemos de nossos sentimentos quando alguém nos repassa determinada mensagem, seja ela por fala, e-mail ou telefonema.
Quando identificamos o sentimento que foi estimulado por aquela mensagem, podemos nos responsabilizar por ele e então escolher a honestidade e falar o que realmente está acontecendo e o que se espera do outro.
A Comunicação Não Violenta também se refere ao fato de praticar a empatia quando recebemos alguma crítica equivocada. Por exemplo, quando alguém diz que você é desorganizado, qual é a sua reação? Retrucar, aceitar ou ignorar? Nenhuma dessas alternativas é uma reação de CNV.
Quando você acusa alguém, significa que há uma necessidade sua que não foi atendida e você se sente frustrado com isso. Da mesma forma quando alguém te acusa de algo, significa que a necessidade da pessoa não foi atendida e não necessariamente que você fez algo errado.
A prática da CNV está relacionada tanto à quem emite a mensagem quanto a quem a recebe. Se quem a ouve pode buscar refletir sobre a necessidade que está por trás daquela crítica, quem a emite também deve fazer uma auto reflexão e identificar sua própria necessidade para então se expressar de forma honesta.
Isso quer dizer que, muito além de uma forma de comunicar, a CNV é uma forma de pensar, observar os sentimentos e realizar uma conexão com os gatilhos que nos fazem agir de determinada forma.
A Importância da
Comunicação Não Violenta
Viemos de uma cultura empresarial onde somos pagos para trabalhar e deixar os sentimentos da porta para fora da empresa. Ouvimos discursos de que para crescer na carreira é necessário foco total no que se faz, ser produtivo, competitivo, multitarefas, vidrado em metas, trabalhar o tempo todo, inclusive fora do horário de expediente e, consequentemente, dormir pouco. Imaginando assim que alcançaremos o sucesso e a felicidade.
Mas nesse contexto não sobra tempo para cuidar de si, ou de seus relacionamentos, tanto dentro quanto fora do trabalho.
O cenário de muitas empresas acaba sendo esse: o sentimento de competitividade é incentivado por toda essa cultura e discurso, que prejudica os relacionamentos, tanto entre colegas quanto entre líderes e suas equipes. Quem nunca viu ou participou de uma fofoca no corredor criticando alguma atitude ou fala do chefe?
Dentro desse cenário também é muito comum que sempre que algo de errado acontece, ou os objetivos não são alcançados, se busque um culpado. Cria-se assim um padrão que se assemelha a um círculo vicioso, onde essa necessidade de culpar gera o medo de errar.
Assim, passamos a gastar muita energia preocupados em sermos multitarefas, competitivos e sem a permissão de errar ou assumir erros, pois aprendemos que errar é vergonhoso e nos deixa para trás na corrida pelo sucesso.
Esse discurso de sobrecarga pode ter funcionado por um tempo. Porém, não é incomum encontrar relatos de workaholics que chegam a um nível de estresse elevadíssimo e precisam parar de trabalhar bruscamente e dedicar 100% de sua atenção ao seu próprio bem-estar para não morrer.
Esse fato nos leva também a estudos que comprovam que os relacionamentos são responsáveis pelo nosso bem-estar e que pessoas com relacionamentos saudáveis vivem mais e melhor. Outra questão muito importante é o clima organizacional que está totalmente vinculado ao relacionamento entre as pessoas, já que o bem-estar e a satisfação do colaborador dependem diretamente de seus relacionamentos.
O importante, portanto, é a busca pelo equilíbrio entre a vida profissional e a vida particular, com a construção de relacionamentos saudáveis em ambas esferas.
Entretanto, a falta de reconhecimento, necessidades ignoradas, a falta de comunicação aberta com os líderes e o pouco diálogo entre colegas, ainda são problemas muito comuns nas estruturas das organizações.
Mas por quê?
Marshall que estamos inseridos em uma cultura que pune quando se erra e recompensa quando se acerta. E essa forma de viver nos impede de sentir empatia pelos outros e por nós mesmos, pois a culpa nos faz pensar que não merecemos a recompensa.
Todos esses pontos citados podem ser melhorados com a aplicação da Comunicação Não Violenta no dia a dia das empresas. Ao perceber que podemos tirar a máscara e mostrar nossa vulnerabilidade, nos identificamos com nossos colegas e líderes, aceitamos que todos somos humanos e cometemos erros, mas que não é necessário culpar, criticar ou se ofender.