Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a). Este é um assunto com bastante demanda no mundo atual: cada vez mais os adultos têm se preocupado em formar seus filhos para assuntos além da escola: empreendedorismo, liderança, educação financeira, comunicação – as chamadas “habilidades do futuro”. Por isso, no artigo dessa semana queremos trazer algumas reflexões sobre como você pode construir comportamentos e crenças positivos em relação ao dinheiro – especialmente se seus filhos ainda são pequenos ou adolescentes.
Em primeiro lugar, você precisa entender que, absolutamente tudo ao redor está criando crenças e comportamentos nos seus filhos: o que eles assistem, escutam, vivenciam, etc. Um simples comentário pode virar uma verdade absoluta no subconsciente de crianças e adolescentes, por isso é tão importante ser intencional em suas reações e cuidar do que está sobre seu controle.
Vamos trazer um exemplo simples, para ficar mais claro: imagine que você vai ao shopping e, ao chegar lá, a criança vê uma vitrine e pede um brinquedo. A resposta mais automática e rápida seria “não tem dinheiro”. Claro, os argumentos ficam limitados diante dessa resposta. A partir disso, essa criança poderia pedir que você usasse o cartão de crédito ou então aceitaria e iria embora (não vamos entrar aqui em questões ligadas a birra). Isso pode causar dois problemas: se ela pede para que você use o cartão, isso significa que, para ela, o cartão deverá ser usado todas as vezes que você desejar algo e não tiver dinheiro suficiente – e esse é um dos motivos que leva o cartão de crédito a ser a maior dívida das pessoas.
Já a resposta “não tem dinheiro” criaria um sentimento de escassez, de culpabilizar a falta de dinheiro por não comprar o que se deseja. O que vai acontecer quando esse indivíduo tiver o próprio dinheiro? O consumo por compensação. Tudo o que ele(a) não teve na infância, vai comprar agora simplesmente porque pode mandar em si mesmo(a). Mais um gatilho para gerar dívidas futuras e uma crença errada sobre fazer escolhas.
O que dizer, então? Primeiro, nunca responsabilize a falta de dinheiro diante de uma compra. SEMPRE oportunize a escolha e mostre que as compras são frutos de uma organização previamente estabelecida. Como aquele item não foi planejado, ele não será comprado neste momento. Mas, se for algo realmente importante para a criança, vocês vão se organizar para comprar na próxima oportunidade. Olha como o contexto muda diante de uma resposta dessas: você mostra que existe uma organização financeira dos recursos diante da decisão, você oportuniza que a criança pense em suas prioridades e você não alimenta a compra por impulso ou o uso desenfreado do cartão.
Percebe como uma simples resposta pode mudar todo o repertório que uma criança tem? É exatamente assim que devemos pensar a educação financeira dos filhos: na sutileza do dia a dia. Nas pequenas escolhas. Nas mínimas oportunidades de pensar a respeito da compra. Na oportunização de escolher e definir o que é importante. Nos combinados que praticam a paciência e o adiamento da gratificação. Obviamente, a construção de um repertório mais saudável de comportamentos de consumo não afeta só o dinheiro, mas todos os âmbitos da vida dessa criança.
Portanto, pais, sejam intencionais em cada resposta (ou, pelo menos, na maioria delas). Você quer que seus filhos tenham comportamentos saudáveis em todos os âmbitos? Sejam exemplos. Se tornem prova viva desses bons comportamentos – toda criança quer copiar seus pais. Se você mesmo(a) não tem organização, comece a fazer por eles, para se tornar um espelho que vai refletir para o resto da vida: o que você faz hoje está sendo registrado nos “arquivos inconscientes” dos seus filhos. Lembre-se disso diante da próxima escolha. Cuide também do que você FALA: suas respostas têm criado comportamentos e crenças saudáveis? Suas respostas oportunizam o pensamento, a criticidade, a priorização? Seus filhos se sentem ouvidos, desafiados, amados? Pois saiba que tudo isso conta! Fácil? Ninguém prometeu que iria ser: esse é o desafio de ser bons pais: saber como as crianças funcionam e ter clareza sobre a construção de autonomia e responsabilidade. Tenha uma excelente semana, querido(a) leitor(a).