O alerta foi feito pelo médico ginecologista Ricieri Hiroshi, que conversou com o A Cidade sobre os números
Ricieri Hiroshi, médico ginecologista da Santa Casa de Votuporanga, conversou com o A Cidade (Foto: Santa Casa)
Daniel Marques
daniel@acidadevotuporanga.com.br
Dos mais de 1.600 partos realizados na Santa Casa de Votuporanga em todo o ano de 2024, somente 210 foram normais. A quantidade é bem acida da recomendada pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que é de 15%. O alerta foi feito pelo médico ginecologista do hospital, Ricieri Hiroshi.
“Vários são os fatores que contribuem para isso, principalmente a questão cultural dos brasileiros, que, na sua maioria, preferem o parto por cesariana (o Brasil tem uma das taxas mais elevadas de cesariana no mundo, próxima a 60%); outro fator importante é que nosso hospital atende pacientes encaminhadas de vários municípios da região, incluindo pacientes de alto risco pré-natal, onde as taxas de cesariana também são maiores”, explicou.
Questionado sobre as vantagens do parto cesariana, o médico explicou que há o benefício de poder ser agendada, com melhor controle do dia do nascimento para a mãe e para o obstetra. Além disso, existem casos em que o parto normal é acompanhado de riscos maiores para a mãe e bebê, sendo a cesariana a via de parto mais segura para ambos. O risco de lacerações, incontinência urinária e prolapsos genitais, como a famosa “bexiga baixa”, também são menores na cesariana do que nos partos normais.
De maneira geral, segundo Ricieri, o parto normal oferece mais vantagens do que a cesariana, como risco menor de infecções, hemorragia e problemas respiratórios para o bebê. Também proporciona uma experiência de maior vínculo entre mãe e bebê, pois a recuperação do pós-parto é quase imediata. Outra vantagem é a facilidade maior da amamentação, que acontece de maneira mais rápida e natural em mulheres com parto normal.
“Eu sempre falo que o melhor tipo de parto é aquele que satisfaça a vontade da gestante, respeitando, é claro, as impossibilidades de se realizar um parto normal! Isso deverá ser discutido com o seu médico prenatalista ou obstetra que realizará o parto. Algumas mulheres apresentam situações específicas em que o risco de se realizar um parto normal é maior do que o risco de uma cesariana; nesse caso, não arrisque, siga a orientação do seu profissional”, observou.
O ginecologista garantiu que a questão econômica não tem relação com os números apresentados. “Relação nenhuma. Hoje, a gestante tem o direito de escolher sua via de parto, salvo por contraindicações médicas. Isso é um princípio da bioética de autonomia da escolha do paciente”, esclareceu.
Na visão de Ricieri, antigamente existia essa ideia de que o médico é quem escolhia o tipo de parto. Hoje, as mulheres têm um poder de decisão muito maior, principalmente pelo empoderamento e disseminação de informações em novos canais de comunicação proporcionados pela internet. “O parto é um momento único e pessoal, e a escolha certa é aquela que prioriza a saúde e o bem-estar de mãe e do bebê”, concluiu o médico.