Wellington Souza Fagundes sobreviveu por pouco a corte no pescoço e agora realiza mobilização por conscientização e fiscalização
Wellington Souza quase foi degolado por uma linha chilena e quer utilizar seu exemplo para lutar contra as pipas com cerol (Foto: Redes sociais)
Franclin Duarte
franclin@acidadevotuporanga.com.br
O entregador Wellington Souza Fagundes, de 37 anos, morador de Votuporanga, transformou um acidente que quase lhe tirou a vida em uma campanha de mobilização social. Ele foi atingido no pescoço por uma linha chilena enquanto pilotava sua motocicleta no bairro Pacaembu, zona Oeste da cidade, na tarde de 11 de outubro, e agora busca conscientizar a população sobre os riscos do uso ilegal de linhas cortantes em pipas.
O acidente ocorreu quando Wellington se deslocava para uma barbearia. A linha — que estaria presa entre dois postes — atingiu o tórax e subiu até o pescoço. Para evitar ser degolado, ele colocou a mão para se proteger. “A linha pegou no meu peito, depois começou a subir e acertou meu pescoço. Consegui colocar a mão para proteger, mas cortei o dedo. Só senti o sangue descendo”, relatou.
Socorrido por moradores, ele foi levado pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) à UPA de Votuporanga, onde recebeu sete pontos no pescoço e três na mão direita. O responsável pela linha chilena não foi localizado. “Foi um livramento de Deus. Poderia ter sido mais uma morte causada por essa linha criminosa”, afirmou Wellington.
Mobilização
Após o acidente, Wellington decidiu iniciar uma campanha de conscientização com apoio da comunidade nas redes sociais. O objetivo é alertar pais, jovens e autoridades sobre os riscos do cerol e da linha chilena, especialmente durante as férias escolares, quando cresce a prática de soltar pipas em áreas urbanas.
“Não sou contra pipa. É uma brincadeira tradicional e saudável quando feita com segurança. O problema é o uso de linha cortante, que representa um risco de morte. Quem usa linha chilena comete crime”, destacou.
Segundo Wellington, muitos jovens desconhecem as consequências legais. “Tem adolescente que acha que é só uma brincadeira, mas não sabe que está cometendo crime. Precisamos falar disso antes que uma família chore um morto”, disse.
Ele também critica a falta de fiscalização na região. “Aqui no Pacaembu, todo mundo sabe que é um ponto de soltura de pipa com cerol. Moradores vivem reclamando e nada acontece. Hoje foi comigo, amanhã pode ser com outra pessoa que não tenha a mesma sorte”, disse.
Proibição
O uso de cerol e linha chilena é proibido no Brasil. No Estado de São Paulo, a Lei Estadual nº 17.201/2019 proíbe fabricar, vender, transportar ou utilizar linhas com material cortante, com pena de três meses a um ano de detenção e multa de até R$ 17 mil. A lei também responsabiliza os pais de menores de idade flagrados com esse tipo de material. Denúncias podem ser feitas pelo 190 (Polícia Militar) ou de forma anônima pelo Disque Denúncia 181.
Conscientização
Wellington afirma que pretende visitar escolas, instituições e órgãos públicos para multiplicar a campanha. “Quero transformar esse susto em prevenção. Se minha história ajudar a salvar uma vida, já valeu a pena”, declarou.
Ele também defende que as autoridades intensifiquem a fiscalização e que a prefeitura incentive campanhas educativas permanentes. “Não dá para esperar outra tragédia acontecer para agir”, concluiu.