Pesquisa acompanhou mais de mil pessoas que foram hospitalizadas com a doença em Wuhan, cidade chinesa onde o coronavírus foi identificado pela primeira vez. Fadiga ou fraqueza muscular foram os sintomas mais comuns
Médico examina tomografias em hospital de Wuhan, epicentro da epidemia do novo coronavírus, na província de Hubei, na China — (Foto: Wang Yuguo / Xinhua via AP)
Mais de três quartos das pessoas hospitalizadas por decorrência da Covid-19 em Wuhan, na China, tiveram pelo menos um sintoma da doença seis meses depois da internação, segundo um estudo publicado neste sábado (9) na revista científica "The Lancet" que acompanhou pacientes da cidade onde o coronavírus foi identificado pela primeira vez, no fim de 2019.
Fadiga ou fraqueza muscular foram os sintomas mais comuns. Distúrbios do sono, ansiedade ou depressão também foram diagnosticados. E alguns pacientes desenvolveram problemas renais após receberem alta do hospital.
Já os pacientes que estiveram internados em estado grave apresentaram alterações na função pulmonar e anormalidades nas tomografias de tórax.
"Como a Covid-19 é uma doença nova, estamos começando a entender alguns de seus efeitos de longo prazo na saúde dos pacientes", afirmou o autor principal do estudo, Bin Cao, do National Center for Respiratory Medicine.
O trabalho destaca a necessidade de acompanhamento médico após a alta hospitalar, principalmente por pacientes que foram internados com sintomas graves da doença.
"Nosso trabalho também destaca a importância de conduzir estudos de acompanhamento mais longos em populações maiores para compreender todo a séria de sequelas que a Covid-19 pode ter nas pessoas", acrescentou.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o coronavírus pode provocar sequelas graves persistentes em alguns pessoas infectadas, mesmo que sejam saudáveis e que não tenham sido hospitalizadas.
O estudo acompanhou 1.733 pacientes que tiveram Covid-19, com idade média de 57 anos, que receberam alta do Hospital Jin Yin-tan, em Wuhan, entre janeiro e maio de 2020.
A pesquisa concluiu que 76% dos pacientes continuavam com sintomas; 63% se queixaravam de fadiga muscular ou fraqueza; 26% enfrentavam problemas de sono.
O estudo também incluiu 94 pacientes cujos níveis de anticorpos no sangue foram registrados no pico da infecção. Seis meses depois, seus níveis de anticorpos neutralizantes contra o vírus caíram para menos da metade.
Em um comentário publicado na "The Lancet", Monica Cortinovis, Norberto Perico e Giuseppe Remuzzi, do Instituto Mario Negri de Pesquisa Farmacológica, na Itália, destacam as incertezas sobre as consequências de longo prazo da pandemia para a saúde.
A pesquisa multidisciplinar deve ajudar a melhorar a compreensão e desenvolver terapias para "mitigar as consequências de longo prazo da Covid-19 em vários órgãos e tecidos", afirmaram eles.
*Com informações de G1