Andressa Aoki
andressa@acidadevotuporanga.com.br
A votuporanguense Janaisa Martins Viscardi tem uma característica peculiar: a paixão pelos estudos e em especial, pela afasia. Formada em Letras e Linguística, com mestrado em neurolinguística pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), atualmente desenvolve sua tese de doutorado também sobre o tema. Há 12 anos, ela estuda linguística. "Gosto do tema, inclusive tenho planos a longo prazo como pós-doc", planejou.
Janaisa participou da elaboração do livro A Semiologia das Afasias: Perspectivas Linguísticas, organizado pela professora Edwiges Maria Morato. O capítulo de seu mestrado "Eu preciso falá: automático e voluntário na semiologia do automatismo" também integra a obra.
A afasia é uma deterioração da função da linguagem, depois de ter sido adquirida de maneira normal e sem déficit intelectual correlativo. Caracteriza-se por dificuldade em nomear pessoas e objetos. Podem levar a um discurso vago ou vazio caracterizado por longos circunlóquios e pelo uso excessivo de referências indefinidas como "coisa" ou "aquilo". Pode evoluir para um comprometimento grave da linguagem escrita e falada e da repetição da linguagem. No extremo pode levar à mudez ou a um padrão deteriorado com discurso com ecolalia ou palilalia. "É um problema na fala que tem como principal causa como derrame cerebral", disse a pesquisadora, durante entrevista ao jornal A Cidade.
A pesquisadora destacou que seu pai, José Bernardo Viscardi, teve um derrame e que morreu sem ter sido diagnosticado como afásico. "Acho que ele sofreu muito antes de falecer. Os médicos falaram que estava depressivo e somente depois de um ano que tinha morrido mostrei os exames do meu pai para minha orientadora que diagnosticou como quadro gravíssimo de afasia. Ele ficava muito nervoso, abatido e ninguém sabia o motivo", lembrou.
Ela contou que o grande intuito de seus trabalhos é a reinserção dessas pessoas na sociedade. "São discriminadas, como se não fossem capazes. Muitas pessoas confundem com deficiência cognitiva, mas na verdade trata-se de um problema de linguagem", explicou.
Pensando na qualidade de vida dos afásicos, a Unicamp possui o CCA (Centro de
Convivência de Afásicos), local de onde a votuporanguense utiliza como base para suas pesquisas. "A ideia é trabalhar a linguagem, seja por teatro, por café da tarde coletivo. Tudo muito participativo e em contato com a linguagem escrita e falada. A pessoa é convidada a continuar a falar, se expressando seja com exercício de linguagem ou gestos, dependendo do grau da doença", emendou. O grupo se encontra semanalmente por três horas.
Doutorado na Alemanha
Janaisa saiu de Votuporanga com 17 anos para estudar. Depois da faculdade em Campinas, mudou-se para Salvador com seu marido. Mas a pesquisadora não se limita apenas em viver no Brasil. Ela ficou dois anos e meio na Alemanha, para seu doutorado. "Estudei as gravações do CCA com o orientador e estudei a interação e linguagem", disse.
A pesquisadora falou que a Alemanha foi possível graças a uma bolsa de estudo. "Analisei repetição na afasia. Sempre tive interesse em linguística. Mas também já participei de projetos voltados à educação, como alfabetização e educação para adultos, dei aulas em faculdade", afirmou.
A votuporanguense explicou que existe um teste padrão desenvolvido nos Estados Unidos para verificar atenção, memória e reconhecimento de objetos. "No Centro de Convivência, os pacientes têm acompanhamento neurológico no Hospital das Clínicas. Com o trabalho desenvolvido, observamos melhoras nos quadros. Não é milagre, eles aprendem a lidar com o problema, reconhecendo outro jeito de falar", complementou.
Planos para Votuporanga
Ela falou de sua relação com a cidade e sugeriu que um grupo de apoio para afásicos fosse criado. "Seria um movimento humanizador de medicina ligado à área de humanas, melhorando a qualidade de vida", ressaltou.
"Votuporanga cresce e tem espaço para isso. É olhar com carinho para a saúde. A cidade pode ter mais cuidado com os seus moradores", concluiu. Tem alguma dúvida e quer saber mais sobre o tema, entre em contato com Janaisa pelo e-mail: isaviscardi@yahoo.com.br
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