Personagens que viveram os anos da ditadura no Brasil relembram as prisões e momentos mais difíceis
Tiago Santiago está fazendo de tudo para escrever uma grande novela para o SBT e relembrar os velhos tempos de quando era contratado da Record e conseguiu recordes de audiência com a saga de “Os Mutantes”. No ano passado foi ao ar “Uma Rosa com Amor”, adaptação de Santiago da obra original de Vicente Sesso, mas a novela deixou a desejar e não agradou o público como esperado pelo autor e pela emissora. Passou despercebida amargando baixo ibope. Mas, “Em Amor e Revolução” tanto autor, quanto emissora não estão medindo esforços para colocar no ar uma trama de sucesso que prenda a atenção dos fãs dos folhetins. Se não der certo desta vez, o negócio é Silvio Santos colocar no ar mais uma reprise da extinta Rede Manchete. Vale lembrar que “Pantanal”, mais uma vez deu ótimo índices de audiência, assim como a “História de Ana Raio e Zé Trovão”, que ainda está sendo exibida nas noites da emissora.
“Amor e Revolução” terá como pano de fundo a década de 1960 e a ditadura militar. Com o objetivo de preparar equipe e elenco para o início das gravações da novela, que estreia em março no SBT e será a primeira trama a falar sobre o período da ditadura militar no Brasil, foi realizado na última segunda e terça-feira um workshop repleto de surpresas. Já na entrada do Estúdio 7, onde aconteceu o encontro, os convidados foram recebidos por um pelotão militar, que fazia revista de todos. Dentro do estúdio, fotografias, vídeos, roupas típicas, móveis originais, e objetos como armas e aparelhos eletrodomésticos estavam em exposição, recriando a atmosfera dos anos 60 no Brasil.
Antes de dar início às palestras do dia, Tiago Santiago, Reynaldo Boury e Sergio Madureira, agradeceram à plateia, composta por todos os atores do elenco, entre eles Lúcia Veríssimo, Licurgo Spínola, Joana Limaverde, Graziela Schmitt, Thais Pacholek, Cláudio Lins e Paulo César Pereio. Ao final do discurso de Madureira, o som de tiros vindos do fundo do estúdio chamou a atenção de todos, quando uma das convidadas resolveu se levantar para fazer uma pergunta. Tudo parte da encenação para dar uma demonstração de como serão as cenas de aventura da trama.
Em seguida, os convidados ouviram o relato do músico Luiz Airão, que ficou preso por quatro dias no período da ditadura, e falou sobre a repressão às expressões culturais. Ricardo Zaratini relembrou o período em que viveu clandestino e as torturas que sofreu nas duas prisões em que esteve. Para fechar as palestras do dia, Carlos Russo Jr. contou em detalhes como era o treinamento dos guerrilheiros para a luta contra os militares.
Na terça-feira de manhã, o segundo dia de palestras foi repleto de emoções. O diretor da novela, Sergio Madureira, anunciou que a programação do dia seria voltada para celebrar a paz e o amor, e pediu que as atrizes do elenco, entre elas Thaís Pacholeck, Gisele Tigre, Patrícia de Sabrit e Graziella Schmitt distribuíssem rosas vermelhas a todos os convidados.
A rodada de depoimentos começou com o relato da jornalista Rose Nogueira. A pedido do autor da trama, Tiago Santiago, Rose contou detalhes do período em que ficou presa em 1969. Ela foi encarcerada pelo DOPS apenas 30 dias depois de dar à luz seu primeiro filho e arrancou lágrimas do público ao descrever as torturas a que foi submetida. No momento mais emocionante do depoimento Rose contou, com a voz embargada de emoção, como foi angustiante quando oficiais levaram seu filho recém nascido até a carceragem e ameaçaram queimá-lo vivo.
Para reforçar o elenco e ter um nome de peso no casting, o SBT contratou a ex-global Lúcia Veríssimo. Sobre o folhetim fazer uma leitura dos anos de chumbo da ditadura militar a atriz afirma: “O tema é absolutamente relevante. Vamos falar de uma época que sofremos muito. Tenho me afastado da TV porque os temas das novelas estão banais. Este não, tem uma profundidade”. Ela será Jandira, uma mulher forte, guerrilheira, que luta contra os ditadores. “Ela é uma guerrilheira apaixonada por outro guerrilheiro. O amor deles tem uma conotação extremista por conta da tensão. A morte ronda as personagens o tempo todo”.
Já Graziela Schmitt tirou a sorte grande e foi a escolhida para ser a protagonista da nova aposta do SBT. “É a minha primeira protagonista e, na tevê, a primeira mulher forte que faço. Estou muito feliz e realizada”. Graziela também contratou um historiador e está fazendo aulas de luta. “A Maria (sua personagem) tem muita determinação. É uma mulher apaixonada pelos seus ideais”, completa.
O papel de “mocinho” será de Cláudio Lins, que já tinha estrelado “Uma Rosa com Amor”, novela do mesmo autor. Ele dará vida ao personagem José Guerra, um militar que acredita na democracia, se opondo ao seu pai, general linha dura. O personagem do ator vai se apaixonar por uma líder estudantil que se tornará guerrilheira.
O papel de vilã e antagonista de “Amor e Revolução” ficará a cargo de Thaís Pacholek. “O Tiago (Santiago) me disse que ela vai perturbar a vida dos personagens José e Maria”, adianta Pacholek, que fará sua segunda vilã no SBT, a primeira foi em “Revelação”, de Íris Abravanel. Segundo a atriz, criar a personalidade de uma personagem vilã é mais interessante do que a de uma mocinha. “No perfil das vilãs dá para trabalhar muitas nuances diferentes, porque com as mocinhas eu sinto muita identificação. Já com as vilãs dá para buscar coisas externas e profundas”, explica ela, que ficou afastada da TV por um ano e aproveitou o período para fazer teatro.
O investimento está sendo considerável, agora basta saber se audiência vai corresponder. É esperar para ver no que vai dar!