Após Missa na Capela, Companhias de Reis de diferentes cidades fizeram suas apresentações
Andressa Aoki
andressa@acidadevotuporanga.com.br
O domingo passado foi dedicado aos "Santos Reis" em Votuporanga. O tradicional encontro de Companhias de Reis foi realizado numa iniciativa do Centro de Folclore e Cultura com ampla cobertura da Rádio Cidade de Votuporanga que transmitiu ao vivo a apresentação das companhias
A Folia de Reis é um festejo de origem portuguesa ligado às comemorações do culto católico do Natal, trazido para o Brasil no século XVI. Na cultura tradicional brasileira, os festejos de Natal eram comemorados por grupos que visitavam as casas tocando músicas alegres em louvor aos “Santos Reis” e ao nascimento de Cristo, e essas manifestações festivas estendiam- se até a data consagrada aos Reis Magos, em 6 de janeiro.
Com este espírito de manter as tradições, há anos Centro de Folclore e Cultura de
Votuporanga, realiza o Encontro Interestadual. Este ano, chegou em sua 27ª edição e contou este ano com a participação de 11 Companhias, das mais variadas cidades. Somente do município, eram 5. Sem contar de Estrela d´Oeste, Monções, Turiúba, Jales e Nhandeara. Em média, 600 pessoas participaram do ato que teve início às 11h30, depois da missa. As devoções duraram até às 19 horas. Mas para que tudo desse certo, o dia foi de muito trabalho.
Cerca de 15 voluntárias preparando o almoço e nove na organização dos três arcos e enfeites. Trabalho cansativo para que tudo esteja no ponto. O presidente do Centro de Folclore e Cultura, Nivaldo Antonio Pereira, acompanha há anos a folia de reis. "Começamos a fazer ainda na Concha Acústica. Quando inaugurou a Capela, achamos por bem mudar para a Igreja", destacou.
Seo Nivaldo lembrou das épocas de glória. "No ano passado, reunimos 23 companhias, mas teve época de trazer 38, principalmente na década de 80", emendou. Mesmo com o número menor, ele acredita que a tradição não irá acabar. "Passa de pai para filho. Tivemos a participação de um menino de 4 anos como palhaço. Isso é herança", finalizou.
O bastião: guerreiro, palhaço e protetor
Os palhaços são os personagens mais curiosos das Folias de Reis. Sempre mascarados e vestidos com roupas coloridas, seguram em suas mãos a espada ou facão de madeira, com os quais defendem a bandeira. Se houver um encontro de bandeiras o Bastião deve defendê-la, cruzando sua espada com outros Bastiões sem dó! É o Bastião quem recolhe as ofertas, anuncia a chegada da bandeira nas casas, pergunta se o dono da casa aceita a visita, descobre as ofertas escondidas, “quebra os atrapalhos”, utilizando de gestos ou cerimoniais feitos por quem conhece a tradição.
O Cruzeiro de Flores é uma destas tradições muito antigas e que são utilizadas para testar o conhecimento dos Bastões: trata-se de uma cruz montada no chão com flores, em frente à porta de entrada da casa do visitado. Ao deparar com o Cruzeiro, o Bastião, e muitos acreditam que somente ele, deve recitar “profecias”, ou versos secretos.
O cruzeiro é formado por quatro braços. Para cada um deles o Bastião deve recitar uma “profecia” decorada e tradicional. Conforme encerra uma profecia, o Bastião desmancha um dos braços do cruzeiro com a ponta do seu facão, até desfazê-lo ao todo. Somente depois disso é que a Companhia pode adentrar no recinto e cantar as toadas. Ao contrário das toadas cantadas pelo embaixador, que são de improviso, as “palavras ou “profecias” ditas pelo Bastião são decoradas.
Há muitas histórias que explicam o surgimento desses personagens. A mais comum é a que eram espias de Herodes que seguiram os Reis Magos para encontrar o Menino Jesus e matá- lo. Porém, ao encontrarem o Menino acabaram se convertendo. Com receio de serem mortos por Herodes, vestiam máscaras e viajavam com os Santos Reis.
Iam à frente, fazendo graça e micagens para que Herodes não desconfiasse que eram seus próprios soldados.
Suas máscaras de papel ou couro imitam barbas e a postura de seus corpos invoca sentimentos inusitados, chamando nossa atenção. Na origem, as máscaras são para esconder seus rostos, para que Herodes não os reconhecessem como seus soldados, já que se converteram e tornaram-se protetores do Menino Jesus.
Trata-se de um personagem cômico, que pede as ofertas. É comum no meio rural, fazer o bastião “sofrer” antes de obter uma oferta. Às vezes o dono da casa se esconde e depois o surpreende, trava lutas corporais e agarramento sem nenhuma agressão física. Se o Bastião se sair bem, leva sua recompensa e recebe a oferta. Em outros locais solta-se um porco ensebado para que o Bastião o pegue. Esconder ofertas para que o Bastião procure e encontre é uma prática comum. É de responsabilidade do Bastião, ainda, não permitir que lhe roubem a máscara ou a espada, afim de que a bandeira não fique “presa”.
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