Andressa Aoki
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Encontrar uma pessoa, se apaixonar e iniciar um relacionamento, são etapas que acontecem naturalmente. Mas com a convivência e o comportamento de cada um dos envolvidos, sempre esbarra em uma DR (discutir o relacionamento). Mas como fazer isso de forma com que a conversa não acabe em briga? Será que as mulheres são sempre as primeiras que puxam a fila quando o assunto é expor as ideias?
“O ser humano está nos primórdios da comunicação, apenas no limiar de abandonar a etiqueta destrutiva, o fútil jogo das aparências”, afirma o historiador inglês Theodore Zeldin. Para ele, o ruído do mundo é feito de silêncios, na medida em que é muito difícil a verdadeira comunicação entre as pessoas. Há incompreensão e desentendimento nas conversas. Na maior parte dos encontros, orgulho ou cautela ainda proíbem alguém de dizer o que sente no íntimo. É um desperdício de oportunidades sempre que um encontro se realiza e nada acontece. No passado, a comunicação era criada para, principalmente, dominar os outros e era usada para passar informações e se dizerem coisas que eram esperadas pelas pessoas. Havia uma obediência à etiqueta, que era mais importante do que ser sincero.
O jornal A Cidade procurou as psicólogas Natália Vargas Filpo e Mirna Ancelotti para entender um pouco mais sobre comunicação amorosa. Elas destacaram que o relacionamento a dois envolve uma infinidade de fatores como crenças, valores, educação recebida, necessidades emocionais e sexuais, sentimentos, entre outros aspectos. "Lidar com o outro consiste em olhar para fora e para si mesmo, simultaneamente num processo de aprendizagem, de comparação e evolução, sendo um processo de amadurecimento espontâneo. Ocorre que nos dias de hoje, o corre-corre do dia-a-dia nos distancia cada vez mais de nós mesmos, não temos tempo para nós, para crescermos internamente, ficamos reativos, por conseguinte hostis, assim comprometemos nossos relacionamentos e também nossa saúde",
disseram.
Para elas, precisamos aprender a dialogar. "Nos permitir de ter novos valores e até crenças, só assim conseguiremos entender verdadeiramente que o outro é tão importante quanto nós, que somos, ao mesmo tempo, iguais, mas diferentes e que não existe um único jeito certo de ser ou de pensar ou de agir. Há vários jeitos certos e que cada um escolhe o seu, portanto verdadeira compreensão e respeito passarão a existir! Quando, verdadeiramente, as pessoas entenderem a preciosidade deste novo paradigma, compreenderão que o esforço em melhorar os relacionamentos faz parte de um novo aprendizado que modificará a pessoa que acreditamos ser para a pessoa que realmente somos", complementaram.
Sobre a ideia de que mulheres chamam mais os parceiros para as DR´s, as psicólogas ressalvam que bem diferente do diálogo, discussão quer dizer, segundo o dicionário Aurélio, "ato de discutir, investigação da verdade, polêmica, controvérsia, debate." Como se vê, bem diferente do significado do diálogo. Cada caso é um caso, e nem sempre discutir a relação significa discutir a relação, é bem verdade que a mulher utiliza-se mais da fala como um instrumento poderoso para manter-se no controle, mas nem sempre essa "DR" é sadia ou tem a intenção de verdadeiramente se esclarecer as coisas como num diálogo sadio, estando muitas vezes carregada de ressentimentos ou segundas intenções que deveriam ter sido resolvidos no momento correto ou bem antes de chegar nesse fatal momento de se "discutir a relação", explicaram.
Mulheres
As profissionais afirmaram que entende-se que as mulheres dizem o que acham que sentem, mas lá no fundo sabem que pode não ser bem assim. "Pode ser cultural, pode ser um comportamento de extensão de casa do relacionamento com a figura materna e paterna, mas na verdade é um comportamento muitas vezes mais racional do que emocional, mais consciente do que inconsciente. Existem formas de ser que trazem ganhos até significativos que podem custar caro, visto que dependendo do caso, falar o que se sente sensibiliza o outro e o coloca em situação de compaixão e aí o papel que a mulher ocupa nesse relacionamento pode ser confundido, o que pode causar uma grande dor de cabeça!", alertaram.
O diálogo, enriquece, amplia visões, compreensões, você não precisa mudar de idéia, mas pode melhorá-la, pode ampliá-la, na medida em que obtém mais conhecimento, acreditando que o outro é tão sábio quanto você e isso não é só coisa de mulher. "Trata-se de todos que buscam maturidade, plenitude, intensidade, felicidade, qualidade de vida, saúde e integração. Afinal o diálogo visa a construção de um entendimento mútuo, através da capacidade do ouvir verdadeiro e a consolidação do relacionamento", emendaram.
Natalia e Mirna falaram de sobre a alfabetização emocional. "Os benefícios seriam a autonomia, maior reflexão e consideração de seus papéis na sociedade e no mundo, visando o despertar de uma nova relação com a experiência vivida. O construtivismo debatido no cenário da psicologia escolar é um exemplo. Com o advento da era da informática, da cibernética, vivemos hoje em um mundo de contínuo acelerar de informações, de ter que se adaptar com isso e uma das conseqüências no processo do relacionar-se é justamente o esquecer do outro e até mesmo desvalorizá-lo enquanto ser. Logo nos vemos em meio a algo que fora conhecido e esquecido pelo tempo, sendo assim, desde a família, a escola, grupos, instituições se vêm diante do ensinar, ou melhor, do relembrar desses laços que outrora fora esquecido", destacaram.
Dialógo para unir o casal
Em qualquer relacionamento é preciso que seus alicerces sejam muito bem construídos e isso precisa ficar muito claro e definido na convivência do casal. "A nossa sociedade não cultiva a idéia de que para que um relacionamento dê certo, é preciso fazer por onde ele possa dar certo. Ou seja, não basta estar com alguém e achar que tudo será lindo e maravilhoso. Precisamos fazer com que o lindo e maravilhoso aconteça, pois como somos envolvidos pelo dia a dia e engolidos pelo cotidiano, isso fica bem mais improvável. Discutir, ou melhor, dialogar a relação pode ser muito prazeroso e produtivo na medida em que se torna um hábito poder falar de tudo, de coisas boas, agradáveis e positivas que tenham sido compartilhadas á dois e, também poder manifestar as expectativas, anseios, desejos e expectativas nesta.
À medida que isso aconteça de forma sistemática no relacionamento, isso passa a fazer parte natural na vida do par. Dessa forma tratar de coisas difíceis, problemáticas ou conflitos fica muito mais leve e sem estresse. Isso é cuidar sim do relacionamento, mas principalmente possibilitar a melhor qualidade de vida a dois e conseqüentemente à própria felicidade", finalizou.
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