Não resta dúvida nenhuma que o padrão de beleza apregoado é ser
magra ou magro. Quem sai fora disso, é tido como fora do padrão e tem
dificuldade em encontrar roupas que vistam bem o seu corpo, principalmente se
buscar algo fashion (ou aquilo que “está na moda”), pois tudo parece ter sido
costurado para os manequins 38
a 42. Uma mulher que veste 46 pode passar pelo
constrangimento de ouvir “ah, não temos o seu tamanho”, da boca da vendedora
que se comporta como se o número da roupa pedida é coisa de outro mundo, sem contar, que muitas
vezes os tamanhos GG na verdade vestem corpos de tamanho M.
Uma mulher vestir manequim 46 é algo perfeitamente normal e
compatível, mas eis que os “padrões de beleza” não aceitam isso.
O resultado é que temos uma multidão de mulheres insatisfeitas
consigo mesmas. Podem fazer o teste, falando do assunto com o seu grupo social:
dois terços das mulheres entre 15 e 60 anos de idade evitam atividades básicas
da vida porque se sentem mal com sua aparência; mais de 92% das garotas
declaram querer mudar pelo menos um aspecto físico; nove entre dez mulheres
querem melhorar alguma coisa no corpo. A realidade dos números é cruel. São
raras as mulheres satisfeitas com a sua beleza. A maioria corre atrás do padrão
estético das beldades que posam para revistas e desfilam na TV. Quem não se
encaixa nele - quase 90% - sente-se excluída e humilhada e tende a aceitar
qualquer sacrifício em nome da "beleza ideal". Diante desse quadro,
cabe perguntar: como as mulheres chegaram a esse ponto, depois de tantas
conquistas importantes no último século? Quais são as consequências dessa
obsessão para as adolescentes? Onde entram as "diferentes" (gordinhas,
velhas e de raças diferentes) nesse sistema? Por que é tão difícil aceitar a
diversidade da beleza?
É preciso dizer que os homens entraram neste esquema também. As
camisas “da moda” se apresentam com uma espécie de ajustamento nas costas e
parecem vestir bem apenas aos modelos, porque pobre daquele que tiver uma
barriguinha! Terá que optar por um modelo mais clássico, que nem sempre combina
com o seu gosto e nem com a moda para sua idade. O resultado, vai cair como um
doido na ginástica e na musculação e fazer tudo para ter as costas do tamanho
da camisa. Será que não deveria ser o contrário?
Especialistas neste assunto alertam que existe uma possibilidade
real de o excesso de vaidade se tornar um problema de saúde pública, dada a
interferência da mídia, da publicidade e dos interesses do mercado na formação
das crianças e adolescentes. O ideal de beleza cria um desejo de perfeição,
introjetado e imperativo. Ansiedade, inadequação e baixa autoestima são os
primeiros efeitos colaterais desse mecanismo. Os mais complexos podem ser a
bulimia e a anorexia, nem mesmo as mulheres adultas escapam desta armadinha e
podem ter sua estabilidade emocional afetada.
Existe
ainda outro tipo de distúrbio alimentar, pouco conhecido, chamado de vigorexia.
Esta é determinada pela busca de um corpo perfeito e é conhecida por Doença da
Vaidade. Na verdade, é o excesso de preocupação em ter um corpo forte. Os
portadores desse transtorno, normalmente, ficam horas em academias realizando
uma diversidade de exercícios físicos, pesam-se várias vezes e procuram
comparar sua musculatura com a de seus colegas. Como alternativa, na maioria
dos casos o uso de anabolizantes é frequente entre os vigoréxicos.
É preciso que este assunto seja debatido entre mulheres, pais e
educadores. É preciso aprender a reconhecer os malefícios dessa imposição
social e ensinar adolescentes e jovens a reconhecerem os limites da ditadura da
beleza, apontando caminhos para quem deseja se defender dessa influência
insidiosa.
Consta que as mulheres brasileiras estão entre as que têm a
autoestima mais baixa, muito provavelmente em consequência do modelo de beleza
eurocêntrico e inalcançável para a realidade nacional. O Brasil também
apresenta o maior índice de mulheres que declaram ter feito cirurgia plástica.
Outros estudos revelam ainda que a população feminina no Brasil,
comparativamente, é a que mais se submete a sacrifícios pela
"beleza". Isso inclui dietas, malhação, remédios, cosméticos e toda a
parafernália oferecida para alcançar o inalcançável.
A mulher brasileira busca se aproximar da silhueta típica das
européias (mais longelíneas) ou das americanas (de seios mais fartos). As
mulheres estão bastante desconfortáveis consigo mesmas. Desconfortáveis e
provavelmente com sentimento de culpa.
É preciso investir numa mudança de consciência que beneficiará
enormemente as futuras gerações, com mulheres mais autoconfiantes e jovens
menos vulneráveis.
Atentas às armadilhas consumistas, as mulheres serão cada vez
menos escravizadas pela cobrança estética e mais dedicadas às questões
realmente relevantes à sociedade.
E esta “luta” precisa contar com o apoio da indústria da moda
brasileira. Os estilistas devem se lembrar que o biotipo brasileiro é diferente
e adequar as suas criações, lembrando que a etiqueta P, M, G e GG em suas
roupas devem mesmo ser compatíveis com o tamanho da roupa e realmente vestir
mulheres e homens que usam este número.