De sustentabilidade à formação artística, muitos conceitos podem estar envolvidos na educação
Da Redação
Há uma variedade de quesitos a serem considerados na hora de escolher a escola dos seus filhos, da estrutura física à formação dos professores. No entanto, os pais devem levar em conta algo além do equipamento de laboratório e do currículo dos educadores. Que valores a escola pretende passar para as crianças?
De sustentabilidade à formação artística, muitos conceitos podem estar envolvidos na educação, dentro ou fora das aulas formais. O importante é saber se estes conceitos também estão presentes em casa.
Jessica Nunes da Silva, 30 anos, é permacultora, parteira e professora de yoga. Mãe de Saphire, de três anos, e Kaylo, de 12, sempre procurou escolas que se relacionassem com questões de sustentabilidade, espiritualidade e arte.
Saphire ainda é muito nova e, por isso, vai a uma escolinha baseada numa rotina de educação simples, sem cobranças. Já Kaylo estuda em uma escola que valoriza a expressão artística e inclui esta importância até em outras disciplinas. Por isso, ele já aprendeu sobre o grafite – com direito a grafitar painéis dentro da escola – e teve o caderno de história todo desenhado, após os alunos receberem a tarefa de ilustrar um acontecimento histórico e explicar para a classe o que aquela arte representava. “Algumas crianças até trabalham o surrealismo desta forma”, diz Jessica.
Além da grade proposta pelo MEC (Ministério da Educação), escolas atuais podem oferecer diferentes programas formativos, mostrando os valores ressaltados além da linha pedagógica. De acordo com Daniela de Rogatis, sócia e coordenadora da Companhia de Educação, que auxilia pais na educação dos filhos, o repertório levado às crianças depende da filosofia seguida pela escola. E é aí que mora o diferencial de cada uma.
Além do 2 + 2 = 4
Segundo Rogatis, atualmente algumas escolas envolvem conceitos como a autonomia, o pensamento crítico, a sustentabilidade e a diversidade em seus programas. Os temas podem estar presentes nas aulas, misturando-se ao conteúdo já requerido, ou em projetos eventuais. “Uma coisa é ensinar matemática, outra coisa é ensinar matemática ou outra matéria com conceitos de autonomia. E a família tem que estar de olho para estar alinhada ao mesmo valor”, diz a especialista.
Uma escola que valoriza a autonomia oferece atividades que as crianças possam fazer sozinhas, como se vestir ou ter aulas de culinária para preparar a própria comida, sob supervisão de um adulto. Uma escola que valoriza a sustentabilidade propõe projetos para colocar este conceito em prática, como reciclar o lixo. Se a família fica pouco confortável com a ideia da criança cozinhar ou separar o próprio lixo, deve repensar a opção. “Os valores acabam se tornando parte de tudo”, afirma Rogatis. E os pais devem acompanhá-los para não haver contradições.
Aptidão e autoestima
Para a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia Quézia Bombonatto, este tipo de proposta tira o professor do lugar de “repetidor de conteúdo” e precisa ser bem preparada. Segundo a especialista, os programas devem ser organizados sem esquecer da sistematização do conhecimento. “E não é todo professor que sabe trabalhar a interdisciplinaridade”, diz.
Quézia levanta outra consideração que os pais devem fazer: a aptidão da criança para aquele tipo de aprendizado. Se ela é colocada em uma escola que valoriza muito a arte e o desenho, por exemplo, é preciso saber se ela é hábil o suficiente para não ficar exposta a fracassos diante dos colegas o tempo inteiro. As habilidades se desenvolvem, mas é preciso ver ao menos alguma inclinação na criança. “Não adianta nada colocar o filho em uma escola com um conceito maravilhoso, mas que o deixa fora do grupo. Afinal, é o retorno dos pares que ajuda na construção de uma autoestima positiva”, conta.
Mas conceitos como sustentabilidade e alimentação saudável podem ser desenvolvidos independentemente das habilidades infantis. A analista de Recursos Humanos Suzan Margareth de Paula, de 55 anos, colocou a filha Maysa, 13, em uma escola preocupada com a alimentação das crianças. “Eles passam muitas instruções sobre o assunto, sobre o que faz e o que não faz bem para o organismo, e ela é bem orientada sobre isso”, diz.
Além disso, Suzan é evangélica e, na escola da filha, as crianças estudam religião duas vezes por semana. “A Bíblia faz parte do material escolar”, conta. “Eu queria que ela estudasse em uma escola que pensasse da mesma forma que eu”, completa, enunciando de forma simples a solução para o dilema de todos os pais em busca da escola ideal.