“Dercy de Verdade” pretende contar a história de uma das maiores artistas do Brasil
Na terça-feira, dia 10, estreia na tela da Globo a minissérie em quatro capítulos, os quais serão exibidos de terça à sexta-feira, que promete contar a história de um dos maiores nomes do cenário artístico brasileiro, Dercy Gonçalves, uma mulher que sempre trouxe na alma as marcas de um tempo, ela foi o retrato de uma época em que o único papel que era esperado de uma mulher era o de ser esposa e mãe; Dercy ousou transgredir, pagou o preço e no final, parece que valeu a pena.
A minissérie “Dercy De Verdade” foi escrita por Maria Adelaide Amaral que se baseou no livro “Dercy De Cabo a Rabo”, biografia da comediante escrita pela própria Adelaide com a colaboração de Letícia Mey.
Dolores Gonçalves Costa nasceu no ano de 1907, na pacata cidade de Santa Maria Madalena, que fica na região serrana do Rio de Janeiro. Logo na adolescência, Dolores sentiu na pele o quanto as pessoas podiam ser cruéis, a começar pela sua própria família. Ainda criança, Dolores foi abandonada pela mãe que não se conformou com a infidelidade do marido. Daí, passou a sofrer por causa dos maus tratos do pai que não conseguia entender a irreverência da filha. Bem jovem, Dolores aprendeu a não levar desaforos para casa. E não pensou duas vezes quando surgiu a oportunidade de deixar tudo, e todos, para trás. Ela não era mulher de engolir sapos, nunca foi!
Mas, afinal, quem era Dercy de verdade?
Uma mulher ousada e abusada, mas também, tímida e recatada. Digna, porém, desbocada. Uma guerreira incansável que escondia das pessoas o seu romantismo e a sua fragilidade. A atriz que, em quase um século de trabalho, conquistou uma plateia fiel com apenas uma preocupação: o público. Uma mãe que encontrou em sua filha a mais bela relação que teve na vida.
Sob a direção de Jorge Fernando, a minissérie terá a participação de Dercy Gonçalves através de imagens de arquivo; a história de um século de vida da artista e 86 anos de carreira, não para na tevê. O diretor também levará a história para o cinema.
Claro que a história começa em Santa Maria Madalena, Dolores (Luiza Perissé/ Heloísa Périssé), era irreverente, ousada e sonhadora, a menina cresceu e enfrentou o mundo com sua língua afiada. E aprendeu a se defender da provocação da família e da vizinhança, que não tolerava a maneira com a qual a garota se vestia, andava e falava. Ainda jovem foi expulsa do coro feminino da igreja, apesar da belíssima voz. A justificativa: ela cantava mais alto do que as outras meninas, e também era sem modos; além de se pintar como uma “mulher da vida”. Dolores não entendeu o preconceito e contestou a decisão dizendo que era tão pura quanto Virgem Maria. Fã de Theda Bara e Pola Negri, os sonhos ultrapassavam o oceano. E enquanto trabalhava no cinema da cidade como bilheteira, Dolores desejava ser estrela de Hollywood, apesar de não ter ideia de onde ficava.
Foi quando chegou à pequena cidade a companhia de teatro Maria de Castro. Pascoal (Fernando Eiras), um dos astros, era um galã que cantava e dançava tango. Para chamar sua atenção, Dolores cantou “A Malandrinha”, um hit de Freire Junior. E o elogio de Pascoal mudou a vida de Dolores para sempre: “Você devia ser artista!”, era o que a jovem precisava ouvir. Em dois tempos, arrumou as malas e decidiu partir com a companhia no dia seguinte.
A única pessoa que sabia dos planos de Dolores era Bita (Rosi Campos), sua irmã mais velha e fiel escudeira.
Pascoal mal acreditou quando a viu entrar no trem: “Você não disse que eu devia ser artista? Então...”. Os planos quase foram por água abaixo quando o policial interrompeu os dois, levando-os para a delegacia, onde deveriam esperar o pai da moça. Apesar das tentativas de Pascoal para explicar que mal se conheciam, a jovem insistia que eles haviam tido uma relação íntima. Diante dos fatos, Manuel consentiu a viagem. Mas avisou a Pascoal que ele teria que cumprir com suas obrigações, ou seja, casar com Dolores.
E foi no caminho do trem que Dolores encontrou o teatro - e fez dele seu refúgio. E eles seguiam viajando. Não demorou muito para que Pascoal e Dolores ficassem noivos, mas, diferente da imagem que passava, ela queria casar virgem.
A primeira noite de intimidade do casal aconteceu logo após o matrimônio, mas foi um desastre e nunca mais voltou a acontecer. Eles acabaram vivendo uma grande parceria, como dois irmãos.
Quando a companhia Maria de Castro se dissolveu, Dolores e Pascoal formaram a dupla “Os Pascoalinos”, e passaram a se apresentar em circos e cinemas, cantando e dançando, quase sempre a troco de nada.
A vida mambembe dos dois não lhes garantia nem mesmo um prato de comida. Mas eles seguiram, entre altos e baixos, até que Pascoal foi diagnosticado com tuberculose. Parceira, Dolores foi para São Paulo atrás de trabalhos que assegurassem dinheiro para bancar o tratamento do marido.
Dolores decidiu mudar seu nome para Dercy, inspirada na então primeira-dama, Darcy Vargas. Com o apoio de Isabel de Oliveira (Paula Burlamaqui), foi para São Paulo onde faria sua primeira tentativa no Teatro Boavista, um dos melhores da cidade. Mas as coisas não saíram como o esperado. Escalada para substituir Otília Amorim, estrela da época, Dercy ficou em pânico quando abriram as cortinas e não conseguiu cantar.
Foi vaiada e expulsa do teatro, sob ameaças de nunca mais trabalhar nos palcos paulistas. Sem saber para onde ir, e com a reputação manchada, seguiu o conselho de Isabel e foi atrás de dinheiro fácil num bordel de classe. Acontece que a jovem, aparentemente descolada, não sabia nem mesmo se já tinha perdido a virgindade.
E entre as quatro paredes de um quarto, na companhia de Valdemar (Cássio Gabus Mendes), um senhor para lá de distinto, começou a chorar e confidenciou sua história. O sujeito ficou tão comovido que pagou mesmo sem ter recebido pelo serviço, deixando também um dinheiro a mais.
Este encontro marcaria a vida de Dercy Gonçalves de maneira decisiva, embora ela fosse descobrir isso mais tarde. A partir daí nasce uma estrela, que ganhou o reconhecimento praticamente no final de sua carreira.
Dercy Gonçalves começou a carreira na década de 30, com acontecimentos que fizeram o Rio de Janeiro fervilhar. Os espetáculos populares satirizavam os costumes daquele tempo, e acabaram por revelar grandes nomes como Chico Anysio, Oscarito, Luz Del Fuego, Araci de Almeida, Carmen Miranda e Araci Cortes.
Só para começo de conversa, artista nem era considerado um profissional. Dercy estava, portanto, à margem da aceitação social. Mas foi com muita coragem, jogo de cintura e carisma que a jovem se consagrou como uma das maiores atrizes de seu tempo.
Sem dúvida, trata-se de uma trajetória boa de se conferir.
Quem é Quem?!
- Dolores/Dercy (Luiza Périssé/ Heloísa Périssé e Fafy Siqueira) – Mulher, mãe e artista de natureza indomável e irreverente. Destemida, saiu de uma pequena cidade, no interior do Rio de Janeiro, e conquistou um público fiel em quase um século de trabalho. Ficou conhecida como uma das maiores atrizes da Commedia Del’Art.
- Decimar (Samara Felippo) – Filha recatada e bem instruída de Dercy Gonçalves. As duas tiveram uma belíssima relação.
- Bita (Rosi Campos) – Irmã e fiel escudeira de Dercy Gonçalves.
- Manuel (Walter Breda) – Pai de Dercy Gonçalves. Foi abandonado pela esposa por infidelidade e nunca apoiou as escolhas da filha.
- Pascoal (Fernando Eiras) – Primeiro namorado de Dercy. Juntos criaram a dupla “Os Pascoalinos”.
- Valdemar (Cássio Gabus Mendes) – Namorado de Dercy e pai de Decimar. Conheceu Dercy em um momento muito delicado e foi um grande amigo da atriz. Apesar de ser casado com outra mulher, enquanto esteve vivo não permitiu que Dercy e a filha ficassem desamparadas financeiramente.
- Augusto Duarte (Tuca Andrada) – Jornalista que conhecia como ninguém os bastidores e negócios do Teatro de Revista. Casou-se com Dercy, mas foi infiel no amor e nas finanças.
- Vito Tadei (Ricardo Tozzi) – Acrobata, professor de natação e mulherengo. Foi namorado de Dercy e despertou nela o interesse pela vida íntima.
- Homero Kossak (Armando Babaioff) – Homem culto, bonito e mais do que um amigo para Dercy, que mantinha uma paixão platônica pelo rapaz.
- Chico Anysio (Nizo Netto) – Ator e amigo de Dercy Gonçalves. Foi ele quem apresentou Carlos Manga para a atriz.
- Carlos Manga (Danton Mello) – Produtor da TV Excelsior e responsável pela primeira aparição de Dercy na televisão.
- Walter Pinto (Eduardo Galvão) – O mais importante produtor do Teatro de Revista da Praça Tiradentes, responsável por trazer atrações internacionais para o Rio de Janeiro. Dercy Gonçalves estrelou a maioria de suas peças.
- Boni (Bruno Boni de Oliveira) – Produtor da TV Rio e mais tarde da TV Globo, emissora na qual Dercy comandou os programas “Dercy Beacoup” e “Dercy de verdade”.
-Clô Prado (Drica Moraes) – Socialite e amiga de Dercy. Ela escreveu a peça “Miloca Recebe Aos Sábados” para a comediante.
- Isabel de Oliveira (Paula Burlamaqui) – Atriz e responsável pela primeira e desastrosa aparição de Dercy no Teatro Boavista, em São Paulo.
- Olympia (Mayana Neiva) – Atriz do Teatro de Revista. Olympia teve um caso com Augusto Duarte, marido de Dercy.
- Dr. Simão (Daniel Boaventura) – Psiquiatra por quem Dercy se apaixonou e, por inúmeras vezes tentou seduzir. Mas sem sucesso.