O especialista revela que a família tem papel fundamental durante o processo de cura
O conceito de que a hanseníase é uma doença que, quando contraída, traz a necessidade de amputação do membro afetado, continua presente no mundo, inclusive no Brasil. No entanto, o avanço da medicina permite tratar os pacientes com recomendações simples e acompanhamento profissional apropriado.
O Brasil é o vice-campeão mundial quando o assunto é hanseníase. Anualmente, 50 mil novos casos são registrados e dentro desta estatística há um dado alarmante: 7% dos episódios confirmados ocorrem em crianças e adolescentes com até 15 anos, segundo o médico e pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, Dr. José Augusto Nery. “A hanseníase é contagiosa e ainda é considerada estigmatizante pela população, pois se trata de uma enfermidade de origem bíblica e muitos que a contraem acreditam que terão os membros amputados. Este conceito está defasado e com o tratamento adequado a doença é facilmente curável”, revela.
A transmissão de uma bactéria chamada Mycobacterium leprae é a responsável pelo desenvolvimento da doença que afeta, prioritariamente, a pele e os nervos periféricos causando dormência e, consequentemente, transforma-se em ferida. Embora todo o corpo possa ser acometido, a patologia se instala, principalmente, nos pés, tronco, pernas e braços. Lesões na pele que apresentam alterações na sensibilidade podem ser os primeiros indícios da doença e, dessa forma, é essencial observar qualquer ferimento que não aparente o menor sinal de dor.
Contagiosa, a doença não faz distinção entre classe social e econômica. “A hanseníase está no ar e pode vitimar pobres, ricos, crianças e idosos e é fato que a bactéria está em todo lugar. No entanto, mesmo que o indivíduo entre em contato com a Mycobacterium leprae, não significa que ele vá desenvolver a patologia. Algumas questões como a genética e o sistema imunológico podem barrar a transmissão para outra pessoa”, explica o especialista.
Tratamento é gratuito
Visto que as lesões cutâneas são a principal forma de identificação do problema, é válido o alerta de que um ferimento na pele não é necessariamente um quadro de hanseníase. Qualquer deformidade, mesmo que pareça mínima, exige a busca pelo atendimento profissional para descobrir os fatores desencadeadores dessas alterações. Porém, especificamente nos casos de hanseníase, em um primeiro momento o diagnóstico é clínico e por meio da observação da lesão são eliminadas as possibilidades de um quadro de micose ou vitiligo, por exemplo.
Em seguida, alguns testes de sensibilidade são realizados juntamente com exames complementares, métodos de diagnóstico mais comumente usados na confirmação do quadro clínico. O Dr. José Augusto Nery ressalta a seriedade de uma boa conversa entre médico e paciente. “Muitas vezes o doente entra no consultório com a desconfiança de ter contraído a hanseníase. O preconceito contra a doença faz com que o indivíduo minta, mesmo que de forma inocente, o que torna o diagnóstico mais lento”, diz.
Uma vez confirmada a doença, o tratamento tem início por meio de medicamentos fornecidos gratuitamente à população. A poliquimioterapia é o método utilizado nesses casos e é composto pela junção de várias drogas eficazes contra a enfermidade, dependendo da intensidade da doença. Quando a hanseníase apresenta poucos bacilos, conhecidos como paucibacilares, o tratamento dura cerca de seis meses. Já com a forma clínica apresentando mais resistência à cura, chamada de multibacilar, o acompanhamento pode durar de 12 a 24 meses.
O especialista revela que a família tem papel fundamental durante o processo de cura. Por se tratar de uma doença contagiosa, os familiares, em muitos casos, ficam receosos de permanecer ao lado do paciente. Por isso, o Governo oferece à família a vacina BCG para a proteção contra a bactéria, o que facilita o convívio harmonioso entre vítima e família. “Além destes cuidados, é essencial buscar o máximo de informações sobre o tema. Com o apoio dos familiares, a hanseníase é facilmente curável”.