Há 34 anos, uma das escritoras de maior destaque na literatura mundial faleceu vítima de câncer. Curiosamente, um dia antes de completar 56 anos de idade. Mas o legado de Clarice Lispector permanece, e suas frases são proferidas como se tudo que escreveu tivesse sido dito ainda ontem.

Ela nasceu na Ucrânia, mas cresceu no Brasil. Seus pais imigraram para o país quando Clarice tinha apenas um ano de idade, junto com suas duas irmãs. Clarice foi menina precoce na literatura, aos dez escreveu sua primeira peça de teatro, "Pobre Menina Rica", além de outros textos que batalhou para publicar na imprensa. Conseguiu realizar o feito aos 20 anos, quando saiu em um semanário seu primeiro trabalho de ficção, o conto "Triunfo". Um ano antes, entrou na faculdade de Direito e, apesar de ter trabalhado como secretária num escritório de advocacia, sua vida profissional começou como jornalista, na década de 40, carreira que levou em paralelo com a de escritora até os últimos dias de sua vida.

Em 1943, teve seu primeiro livro publicado, "Perto do Coração Selvagem", que escreveu aos 19, ano em que ingressou na universidade. A estreia rendeu o Prêmio Graça Aranha de melhor romance, da Academia Brasileira de Letras. Sinal que foi feita para as letras.

Daí em diante, Clarice fez carreira longa e brilhou na literatura: lançou três livros infantis "O Mistério do Coelho Pensante" (1967), "A Mulher Que Matou os Peixes" (1968) e a "A Vida Íntima de Laura" (1974), os livros de contos "Alguns Contos" (1952), "Laços de Família" (1960), "A Legião Estrangeira" (1964), "Felicidade Clandestina" (1971), "A Imitação da Rosa" (1973), "A Via Crucis do Corpo" e "Onde Estivestes de Noite" (ambos de 1974). E mais sete romances: "O Lustre" (1946), "A Cidade Sitiada" (1949), "A Maçã no Escuro" (1961) - que lhe rendeu o Prêmio Jabuti -, "A Paixão Segundo G.H." (1964), "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres" (1969), "Água Viva" (1973), além de "A Hora da Estrela", lançado em outubro de 1977, quase dois meses antes de seu falecimento por câncer no ovário.

Lispector, que foi casada e mãe de dois filhos, na verdade nasceu Haia, que significa Vida, nome propício para quem viveu intensamente seus dias. Apesar de alguns de seus escritos parecerem confissões sobre si, evitava dar declarações sobre sua intimidade. Clarice e sua obra são celebradas ainda hoje. Fragmentos de seus pensamentos são espalhados pela internet e adotados como filosofia por muitos de seus seguidores. Em homenagem a sua obra e vida, o Tempo de Mulher selecionou alguns fragmentos da escritora. Viva Clarice!

"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome".

"Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós".

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento".

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro".

"Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar".

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada".

"Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito".