O fenômeno dos virais, das gírias que viram moda e das celebridades instantâneas
Se você quer entender de uma vez por todas o que é meme e porque no começo do ano as pessoas perguntavam sem parar se 'você gosta de mamão?', a gente explica.
Meme, por exemplo, é o nome daquelas piadinhas que circulam online e podem ser reinventadas, em outro contexto, como aconteceu com o vídeo publicitário em que o colunista social Gerardo Rabello, de João Pessoa, fala da família toda na sala, “Menos Luíza, que está no Canadá”. A frase se espalhou nas redes sociais e começou a ser usada em vários contextos.
O termo “meme” nasceu numa obra do escritor Richard Dawkins, O gene egoísta, de 1976. No livro, meme significa “uma unidade de evolução cultural” que se propaga de indivíduo para indivíduo, como um vírus. A palavra 'colou', embora o uso que se faz dela hoje não tenha nada a ver com essa definição.
Na prática, memes são peças de informação que se espalham de forma viral, mas que podem ser recriadas e ganhar novo significado.
“Viral, como o nome diz, é tudo o que se espalha muito rápido. Um meme é mais complexo, além de viralizar, pode ser alterado e ganhar novo contexto”, diz Kaluan Bernardo, produtor de conteúdo no YouPix, site e evento focados na cultura de internet.
Um dos exemplos clássicos são as rage faces, carinhas toscamente desenhadas que são sempre as mesmas e têm os mesmos significados, mas que podem ser usadas em várias tirinhas. Memes podem também ser símbolos e emotiocons, como o ¯\_(' >')_/¯) (conhecido como “shrug”, que significa 'dar de ombros') ou gírias e expressões, como “dorgas”, “tem que ver isso aí” e “menos a Luiza, que está no Canadá”.
“Essa frase é um meme, porque ela pode ser alterada e usada em vários contextos. Já o vídeo da propaganda em si é só um viral”, explica Kaluan. É difícil rastrear o surgimento dos primeiros memes na internet.
“Um dos primeiros registros da utilização da palavra 'meme' nesse contexto foi em 1998, quando um internauta chamado Joshua Schachter, criou o Memepool, um site com um agregador de links que viralizavam”, conta Kaluan Bernardo.
Sites semelhantes de conteúdo viral se tornaram grandes propagadores de memes, nos anos 2000. No Brasil, os virais começaram a bombar mesmo ano passado.
Os especialistas apostam que 2012 vai ser o ano do viral. Páginas de humor no Facebook, blogs com tirinhas de rage faces e traduções de sites como o americano 9Gag se encarregam de popularizar novos memes por aqui.
Outro fator de sucesso está ligado a um acesso cada vez mais amplo à internet no Brasil. “Para uma pessoa gostar de um meme, ela tem que entender o seu contexto e isso acontece com quem fica muito tempo na internet”, diz Kaluan, que ressalva apenas que esse acesso não é fácil para todas as classes sociais, educacionais e econômicas. “Os memes usam uma linguagem muito universal”, acredita.
Mesmo o acabamento 'tosco' da maioria das peças serve à essa função de universalizar: qualquer um com acesso a internet pode criar suas próprias remontagens do mesmo meme.
“Os memes eram usados apenas pra piadinhas casuais, mas muita gente começou a usá-los pra outras coisas, como manifestar sua opinião com questões de política”, diz Kaluan.
Além de se espalharem na internet, os memes invadem o 'mundo real', Seu alcance é cada vez maior. Alguns dos memes de janeiro caíram na mídia tradicional e até o cantor Lenine citou a Luiza em um dos seus shows.
“As redes repercutem fatos publicados pela mídia tradicional, confrontando a seleção de temas e informações feita pela mídia com outros arranjos possíveis. Por outro lado, assuntos em destaque nas redes sociais cada vez mais são pautados pela mídia tradicional”, afirma Luís Mauro Sá Martino, professor de Teoria da Comunicação na Faculdade Cásper Líbero.
“As redes sociais podem colocar no mesmo patamar as informações produzidas por grandes veículos e aquelas elaboradas em outros espaços, algo que nunca ocorreu.” Memes à parte, Sá Martino alerta que isso ressalta ainda mais a necessidade de garantir a qualidade da informação - checagem, apuração, evidências, por exemplo.
Nesse diálogo entre mídias tradicionais e internet, surge também uma diferença entre memes e bordões: enquanto o bordão se fixa pela repetição, o meme é orgânico e colaborativo, recriado e repassado espontaneamente pelas pessoas.
Um bom exemplo são as dezenas de versões de internautas do mundo todo de "Ai, se eu te pego", do cantor Michel Teló. Até versão na voz de Pato Donald a música ganhou.
Os memes geralmente surgem em comunidades online como fóruns e comunidades e nas redes sociais, como o Orkut. A própria internet é fonte de memes, como no caso do Trololo, que ganhou até versão video game. No Brasil, a televisão pauta fortemente a internet. Memes como “Aham, Claudia”, “Tem que ver isso aí” e “É uma cilada, Bino” vieram do mundo da TV. O próximo meme pode brotar de qualquer lugar – inclusive do seu computador.