Enfrentar a dor e o sofrimento é o primeiro passo para que este processo não se torne uma constante
Para quem vai, uma nova experiência. Para quem fica, não apenas uma fase de transição e readaptação, mas o início de um momento nem sempre desejado. Cada vez mais comum, a saída de casa por parte dos filhos tem-se mostrado uma separação dolorosa, sendo refletida, sobretudo na figura da mãe, sob os aspectos da Síndrome do Ninho Vazio.
O nome é curioso, mas o problema é real e provoca uma mudança significativa na vida dos envolvidos, segundo a psicóloga Silvana Martini, da Clínica de Endocrinologia e Metabologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. “A Síndrome do Ninho Vazio é caracterizada por sintomas afetivo-emocionais do luto relativo ao término do papel de cuidadores diários dos filhos”. Pai e mãe sentem essa tristeza de maneira semelhante, no entanto, o pai costuma lidar melhor com o problema em função de sua rotina.
Nesses casos, os indícios mais comuns são a tristeza, a solidão e a desorientação e, em casos mais graves, a Síndrome evolui para um quadro de depressão e desenvolvimento de doenças até mesmo crônicas, como a fibromialgia, que é responsável pelo surgimento de dores em diversas partes do corpo, manifestando-se especialmente nas articulações. O transtorno pode provocar também a fadiga, o sono irregular, a cefaléia, além de distúrbios psicológicos e emocionais.
Os pais mais sensíveis, naturalmente, são os que mais sofrem quando um filho sai de casa. Nesses casos, o mais indicado por especialistas é o acompanhamento psicológico a fim de minimizar os efeitos do sofrimento. “Não há como evitar a Síndrome do Ninho Vazio, pois as relações entre pais e filhos são construídas ao longo de anos e todos vão sentir as mudanças que atingem esse relacionamento”.
A dificuldade em aceitar este novo momento pode fazer também com que o problema dure mais tempo e prejudique outras áreas da vida dos pais, como o trabalho e as relações sociais. É necessário compreender que, da mesma maneira que um dia eles próprios saíram da casa dos de seus pais e trilharam seus objetivos, os filhos também têm o mesmo direito. Normalmente, a Síndrome do Ninho Vazio é passageira, mas algumas pessoas não conseguem lidar com o sentimento de perda.
Nova rotina
Enfrentar a dor e o sofrimento é o primeiro passo para que este processo não se torne uma constante. Um psicólogo deve avaliar os sintomas aliados às circunstâncias da vida no paciente naquele período. Caso haja necessidade, o tratamento psicoterápico é o mais indicado e, nos casos mais complexos, o auxílio de um psiquiatra é de grande valia.
Ao passo que uma grande mudança como essa exige novas perspectivas, os pais precisam e devem criar um novo planejamento para ocupar a mente e buscar atividades que proporcionem prazer ao casal. Uma nova lua de mel, a prática de um novo exercício físico ou o início de um curso no qual o indivíduo sempre quis fazer, mas não dispunha de tempo em função do filho, são apenas algumas das opções disponíveis para driblar a Síndrome que, inclusive, tem cura.
A Dra. Silvana Martani recomenda também a prévia preparação psicológica com o objetivo de reduzir a carga de tristeza. “A saída dos filhos de casa não é um evento repentino, normalmente, mas sim preparado e planejado. Sendo assim, precisamos nos preparar para colocar no lugar do exercício dessa convivência diária, algumas atividades prazerosas para que essa falta seja melhor vivenciada. Perder é muito difícil, mas aprender com ela talvez seja um alento”, finaliza.