Julieta Pires de Mattos tem uma enorme paixão por Votuporanga
Por Leidiane Sabino
Conhecidíssima por suas maravilhosas receitas, a entrevistada de hoje da coluna Pioneiros é Julieta Pires de Mattos.
Nascida em 8 de fevereiro de 1933, em Mirassol, ela é filha de Apolinário de Mattos e Maria Dolores Pires de Mattos.
Cresceu em uma família grande, eram em 10 irmãos, sendo cinco mulheres e cinco homens.
No ano 1.945 concluiu o quarto ano do grupo escolar e, no ano seguinte, a família mudou-se para Fernandópolis, onde seu pai seguiu seu trabalho com o beneficiamento de arroz, fubá e café.
“Na época, meus pais viram na região a oportunidade de crescer e, por isso, viemos morar por aqui. Os carros de boi traziam café e arroz, cantando a noite toda. Nem rua direito as cidades tinham”, contou Julieta.
Seus cinco irmãos ajudavam o pai no trabalho e as meninas ficavam em casa com a mãe cuidando dos afazeres domésticos. “Sou filha de portugueses, fui a sétima a nascer, mas sempre fui muito forte, tinha um bom porte físico, por isso, logo já fazia os serviços mais difíceis de casa. Aos 13 anos, matei sozinha pela primeira vez um cabrito, também rachava lenha. Eu fazia de tudo, era muito curiosa e aprendi a cozinhar, bordar e a costurar; eu também passava os ternos de linho no ferro à brasa, o que não era fácil”, contou.
Em 1.954 casou-se com Divaldo de Oliveira, que era agente sanitário e, no ano seguinte, foi morar em Estrela D’Oeste, no dia 23 de março, quando o primeiro filho do casal tinha poucos dias de vida, o Divaldo Mattos de Oliveira (Divaldinho). Por lá, ficaram até 1.961.
Depois, nasceram os outros dois filhos do casal, Ricardo e Roberto Mattos de Oliveira. A família cresceu e, hoje, ela tem também três netas e uma bisneta.
Em Estrela D’Oeste, Julieta começou a trabalhar. Fazia pão, linguiça, pernil assado e bolos para vender.
A família veio para Votuporanga no ano de 1961, a paixão de Julieta pela cidade foi tão grande, que diz que, se pudesse, trocaria no seu registro o município de nascimento por Votuporanga.
A primeira casa que moraram localiza-se na rua Sergipe, esquina com a Duque de Caxias. Pagavam aluguel e, na área do fundo, coberta por folha de coqueiro, começou a cozinhas em um fogão à lenha para comercializar seus quitutes. Tinha muitas encomendas de pão, roscas, pão de queijo, raviólis e muito mais. Os filhos foram matriculados na Escola Estadual Professora Uzenir Coelho Zeitune. Enquanto isso, o marido continuava como servidor público estadual.
A rua em que moravam era de terra, em épocas de chuva, os filhos brincavam nos buracos cheios de água, formados pelas enxurradas. “A rua tinha uma turma de meninos que gostava muito de brincar. Eu oferecia lanche a todos eles”, disse Julieta.
Neste local, Julieta morou até 1.969, quando os amigos Manoel Gomes (Maneco) e Iolanda, que também eram fregueses, ofereceram à venda a casa que tinha na rua Ceará. “Parte do valor da casa eu paguei com serviços, porque tudo o que a Iolanda queria, eu fazia. O valor foi de 9 mil cruzeiros, paguei 5 com serviços o restante pegamos emprestado no banco”, explicou.
A pensão
Na casa da rua Ceará, em frente à escola Piconzé, Julieta montou um pensionato e recebeu 19 moços, algumas estudantes, outras professoras, secretárias, bancárias, telefonistas. Além do lugar para morar, elas também recebiam as refeições. “Eu também servia comida para os funcionários das agências bancárias. Alguns professores vinham para reuniões na Delegacia de Ensino e também comiam lá”.
Enquanto isso, Julieta fazia balas de coco, bolos de casamento, tudo para vender.
A pensão funcionou de 1.970 a 1.984. “As moças eram como filhas para mim, muito queridas. Tudo o que eu fazia, elas gostavam. Me ligam até hoje no Dia das Mães, meu aniversário. De todas que já se casaram, eu estive na festa”, lembrou.
Para Julieta, quem planta o bem, colhe o bem. “Sou uma pessoa muito feliz. Sempre fiz o bem para estas moças da pensão. Tenho duas noras que são como filhas e só pessoas boas do meu lado”, falou.
Com o fim da pensão, Hayde, uma das moças, ficou na casa por mais dois anos. “Era professora e foi embora para Belo Horizonte. Até hoje conversamos muito”, lembrou Julieta.
Descanso
No ano de 1.984, com o marido aposentado, o casal viajou um pouco. A paixão do marido Dilvado era a pescaria, que quase sempre ele era acompanhado do filho Roberto. “Juntávamos os vizinhos para comer lambari fritinho, arroz branco e salada de tomate acebolada”, falou Julieta.
Momento triste
Em 2.001, depois de um almoço em família, no dia 13 de abril, Divaldo foi descansar e, antes das 18h, acordou reclamando de dor na palma da mão. “Sentiu muito calor e, quando resolveu ligar para o nosso filho, sentou na cama e, no meio do telefonema, teve um enfarto fulminante”.
Depois de três anos, morando na mesma casa da rua Ceará, Julieta mudou-se para o prédio do Grupo Espírita Maria de Nazaré, onde também funcionam o Lar Beneficente Celina e a Editora Didier, entidades das quais faz parte o seu filho Divaldinho.
Cozinhas
Durante toda a vida, Julieta teve como especialidade o dom de cozinhar. Fez festas para os Lions, Rotary, Maçonaria, casamentos e 15 anos. Fazia jantar, docinhos, salgadinhos.
“Nunca dei receita errada para ninguém. Sempre gostei de ensinar e ofereci diversos cursos. Cozinhar sempre foi a minha paixão”, comentou.
De família espírita, Julieta sempre trabalhou muito e tinha pouco tempo para dedicar-se à obra. Hoje, morando ao lado, ela consegue ajudar mais e ensina a fazer vários pratos para as mais de 500 crianças atendidas.
Em 2001, ela lançou um livro com suas receitas, chamado “Julieta e suas receitas”. Há mais de 20 anos, Julieta colabora com o jornal A Cidade, enviando as suas receitas para publicação.