Se considerarmos os grandes educadores que a humanidade já conheceu, aos quais as pessoas se referiam como “Mestres”, encontraremos traços de personalidade e de relacionamento de homens e mulheres que gestavam em seus interlocutores novo jeito de olhar e ver, de ouvir e escutar, de aproximar-se e deixar-se tocar, de relacionar-se de forma diferente, libertadora.
À luz dessa pedagogia que desinstalava o individuo e o interpelava para ser presença diferencia no mundo, nossa presença educadora e nosso fazer pedagógico devem ser luz e referencial, para que os alunos interlocutores possam mergulhar em si mesmos e nesse mergulho reconhecer a potencialidade politica ainda anestesiada ou sonolenta.
Em contexto de ideologia pós-moderna, que engendrou a morte das utopias e o reino da desesperança, uma primeira tarefa fundamental do educador é colocar-se a serviço da vida, alimentando a esperança e a utopia. Nossa morada não pode ser reduzida ao momento histórico atual. É à luz de um horizonte maior que devemos nos mover e é a partir dele que devemos tomar as decisões cotidianas.
Fundamentalmente, o educador (não só professor, não instrutor) faz parte da corrente esperançosa do mundo, que acredita na possibilidade do conhecer, do ser, do conviver e fazer diferentes. A sua presença já é presença de motivação existencial, de compromisso politico-libertador. Assim, em meio à morte das utopias, do império do débil e do “light”, da “curtição” narcisista do momento, o educador busca educar para um projeto maior de vida, para o que realmente satisfaz a alma humana e não somente visar a satisfação do desejo desenfreado de consumidores que tudo reduzem a objeto de experimentação, procedimento esse que acaba gerando não só a perda do outro, mas também perda de si próprio.
Em meio ao individualismo pós-moderno, é preciso educar para o coletivo; em meio à violência crescente educar para o respeito e a promoção das diferenças e a defesa da coletividade. Requer-se uma educação para o convício responsável e solidário. Essa educação não se faz no plano teórico. É preciso possibilitar experiências cotidianas concretas, nas quais o individuo possa se flagrar pessoa, ser relacional e reconhecer que os grandes problemas sociais são um produto da cultura, historicamente fabricados.
O projeto de vida maior, para o qual pretendemos educar, considera cidadania planetária e, por isso, deve considerar em suas decisões cotidianas as gerações futuras que ainda não nasceram.
Precisamos de educadores que tenham bebido da mística e espiritualidade do humano, verdadeiramente humano, capaz de superar sua primeira natureza instintiva e impulsiva, criando para si mesmo, pessoal e coletivamente, orientações de condutas, máximas capazes de orientar suas decisões na direção da sociabilidade humana, criando cultura inclusiva.
Isso deve ser realizado em toda ação particular, pois é nela que o universal abstrato deverá se concretizar. Nessa dinâmica, a presença afetiva do educador é a presença de uma espiritualidade que sabe cuidar das coisas e das pessoas, razão pela qual, na maioria das vezes, caminha na contramão, na contracorrente de uma ideologia imediatista e de um estilo de vida individualista. Esse amor que cuida, por se tornar responsável, busca outros jeitos, imagina e cultiva possibilidades ainda latentes, não manifestas, e antecipa o possível.
Que a nossa prática fomente o encontro com o diferente. A partir do encontro com o diferente, seja social, ideológico, étnico ou de gênero, acontecerão o reconhecimento, a defesa e o cultivo da unidade, necessariamente plural. Devemos nos colocar a serviço de uma espiritualidade que transcenda qualquer particularismo, embora deva considerar toda particularidade, por ser complexa, como a vida.
*Celito Meier é teólogo, filósofo e educador