Na Idade Média se acreditava que a Terra era o centro do Universo. O Sol, a Lua e as estrelas giravam em torno dela. Um dia, a ciência mostrou o contrário. No século XV, o polonês Nicolau Copérnico criou a Teoria Heliocêntrica, pela qual a Terra e os planetas giram em torno do Sol. Na época a ideia causou mais rejeição que aceitação. Quase um século depois outro gênio da humanidade, Galileu Galilei, comprovaria a teoria de Copérnico. O italiano também inventou o telescópio, descobriu as crateras da Lua e satélites em Júpiter (até hoje chamados de Luas de Galileu). É considerado o Pai da Ciência Moderna. Apesar disso, suas descobertas também foram combatidas. Foi processado pela Santa Inquisição. Não foi condenado à morte porque renegou (ao menos da boca pra fora) suas teorias. Porém, passou o resto da vida em prisão domiciliar. À época, o obscurantismo venceu. Mas um dia a realidade se impõe. Depois de 460 anos a Igreja se retrataria. Em 1992, o Papa João Paulo II admitiu o erro e pediu desculpas pela condenação de Galilei.
Em momentos cruciais o conhecimento faz a diferença. Decisões e descobertas desta época que vivemos serão lembradas nos livros de História. Nesta semana foram divulgados os dados da única vacina disponível no Brasil. O índice, em torno de 50%, mais baixo que o de outras vacinas, é suficiente para fazer a imunização coletiva. Aliás, é melhor que muitas vacinas que todos tomam há anos. O dado é mais relevante para a imunização coletiva do que para a proteção individual. Significa que mais pessoas precisarão ser imunizadas para que a circulação do vírus seja barrada. Mesmo assim, alguns comemoraram o que seria uma "derrota" da ciência. Lembrei-me do lme "The
Independence Day", em que, enquanto alguns corriam para se proteger da invasão alienígena, outros faziam festa no topo dos prédios à espera dos extraterrestres.
Cientistas dos mais diversos lugares do mundo se debruçam para encontrar as melhores soluções. Aqui mesmo temos um centro de excelência participando do esforço mundial: a Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. À frente das pesquisas da Famerp se
destaca uma cabeça brilhante: o virologista Maurício Lacerda Nogueira. A clareza de suas análises científicas é um alento em meio ao obscurantismo e à ignorância espalhados por aí. O professor explica questões complexas de maneira clara. É reconhecido por leigos e por seus pares. Em uma rede social, a também médica Regina Chueire trouxe um ótimo exemplo sobre a necessidade da vacina: "Se um avião está caindo e você tem chance de pular de paraquedas (e se salvar) de 50,38%, o que você faria?", perguntou. Ao que Maurício acrescentou: "A chance de se salvar é 100%, de precisar de médicos de 22% e de sentir algo após o salto de 49%." Mentes geniais costumam ser assim, simples.
Não será a primeira vez que o avanço da ciência trará resistências. Mas, como se sabe, um dia a realidade se impõe. Desta vez, talvez nem demore 460 anos.