O jornal A Cidade conversou com a família Barbieri, que pegou Covid no ano passado, para saber o que mudou na vida de cada um
Julia, Eliana, Ana e Vanderlei Barbieri tiveram Covid em agosto do ano passado; ninguém precisou ser hospitalizado, mas sequelas ficaram (Foto: Arquivo pessoal)
Da redação
Primeiro, veio o susto do diagnóstico positivo para Covid. Depois, ficou a preocupação ainda maior com a pandemia. No geral, foi isso que a família Barbieri, de Votuporanga, relatou ao jornal
A Cidade.
A família toda pegou a doença, em agosto do ano passado. E eles contaram à reportagem como foi essa experiência, as sequelas que ficaram e o que mudou em suas vidas de lá para cá.
A Covid
O primeiro a contrair o coronavírus foi Vanderlei Barbieri. No começo do quadro clínico da doença, o carcereiro, de 56 anos, teve "mal estar nas juntas", dor de garganta, coriza, febre e fadiga. Mas o problema mais grave, causado pela doença, seria descoberto no 13º dia do quadro.
"Senti um problema no braço e descobri que tinha trombose. Inchou e doeu muito. Eu voltei no médico e ele constatou a trombose. A dor foi no braço [direito] todo, mas a trombose foi no ombro. Com tratamento e anticoagulante, por seis meses, resolveu o problema. Ainda bem que descobriu a tempo e que foi no braço, porque se fosse em outro lugar...foi no melhor lugar possível, segundo o médico", relembrou Vanderlei.
Sua esposa, a aposentada Eliana Beatriz Giaccheto Barbieri, de 52 anos, foi diagnosticada uma semana depois. Ao jornal
A Cidade, ela relatou sintomas parecidos aos do marido, mas dando mais ênfase à fadiga que sentiu. "No início, eu tive uma fadiga muito grande. Eu não conseguia ficar de pé por muitos minutos. Tive calafrios e estresse emocional. A cabeça altera tudo e dá a sensação que o ar está acabando. A gente percebe que as vias respiratórias ficam diferentes", contou Eliana.
Já uma das filhas do casal, a professora Julia Beatriz Giaccheto Barbieri, de 23 anos, sentiu uma fadiga tão forte quando pegou a doença que precisou ficar acamada por, pelo menos, dois dias. Ela também relatou febre, tosse e dor no corpo. Além desses sintomas, que seus pais também tiveram, Julia perdeu o olfato e o paladar. Os mesmos sintomas foram relatados pela sua irmã, a estudante Ana Beatriz Barbieri, de 22 anos.
"Tinha dia que eu não conseguia ficar mais de cinco minutos em pé, tinha que sentar ou, preferencialmente, deitar. Acho que eu fiquei dois dias sem conseguir fazer nada, só deitada. Me dava muito cansaço, foi uma coisa muito estranha. Era um cansaço muito forte. E também dor no corpo, parecia que não estava funcionando direito", contou Ana.
O pós-Covid
Cada um da família Barbieri sentiu as sequelas da Covid de um jeito, com semelhanças e diferenças entre si.
Vanderlei, por exemplo, relatou que a sua principal sequela é a fadiga. Até hoje, ele sente que "cansa mais rápido". Já Eliana contou que, além da fadiga, seu lado emocional ficou abalado após enfrentar a doença.
No caso das filhas, Julia e Ana relataram que agora enfrentam dor de cabeça crônica e o olfato e o paladar ficaram "estranhos". "Até hoje, tem coisa que eu não sinto o mesmo gosto e o mesmo cheiro. Alho ficou esquisito por um tempo, mas já melhorou; coração de galinha também ficou esquisito e não voltou até hoje; chocolate também não", disse a professora, que também relatou que, após a Covid, passou a ter problemas de memória.
Preocupações
Passa a doença, ficaram as preocupações. Ou, como disse Eliana, as "paranoias". "É ela [a paranoia] que salva, em muitos casos. As pessoas tem que continuar se cuidando", disse.
"Com certeza, a nossa preocupação aumenta [depois de ter Covid], não só de pegar, mas de transmitir. Como a gente viu que é possível e que pode pegar de qualquer forma, então aí ficou, mesmo tomando os cuidados, mais preocupado. A gente ficou mais recluso", contou Vanderlei Barbieri.
Essas preocupações também afetaram a rotina da família dentro de casa. "A gente parou totalmente de dividir qualquer coisa. Se a gente faz amendoim para comer, por exemplo, a gente coloca em potes diferentes, para cada um ter o seu. Acho que no comportamento, a gente mudou na questão da segurança, para não pegar de novo", contou Ana.
Já Julia disse que está tão preocupada hoje, com a situação da pandemia no geral, quanto estaria se não tivesse tido Covid no ano passado. "Eu já era bem preocupada, mas com os casos e ocupação de UTIs em Votuporanga sempre muito altos, eu fico mais preocupada ainda. Fico preocupada com meus pais, porque muitas pessoas novas e sem comorbidades estão morrendo de Covid", contou.
Vacina
Mesmo imersos nessas preocupações, a vacina contra Covid trouxe um certo alento para alguns da família, em que mais da metade já recebeu, pelo menos, a primeira dose. "Tem aquele alívio que você está 'meio imunizado', o que já é muito bom. E também que, depois, a gente convivendo com outras pessoas também imunizadas, é um alívio muito grande. É uma sensação muito boa. Tanto que eu fiquei seis horas lá [no posto volante no Assary]. Não quis esperar um dia mais", contou Eliana, que tomou a primeira dose quando a Prefeitura inaugurou o posto volante no salão social do clube.
Vanderlei, por outro lado, disse que sentiu alívio ao ser imunizado. Por enquanto, ele é o único da família que já recebeu as duas doses do imunizante. "Eu achei que me sentiria aliviado [com a segunda dose], mas não mudou muita coisa. Psicologicamente, não mudou nada. Agora estou esperando os 15 dias [para a dose fazer efeito]. Pode ser que depois eu relaxe um pouco a parte psicológica. Mas até então, não. Até nem parece que eu tomei a segunda dose", relatou o carcereiro.
A professora Julia, que recebeu a primeira dose da vacina, disse que se sentiu "um pouco reconfortada" quando seus pais foram vacinados. Mas fez uma ressalva: "tendo a ciência de que eles estão imunizados e uma boa parcela da população não está, ajuda, mas não muito".
Já a estudante Ana continua na expectativa de quando vai chegar a sua vez de ser vacinada contra a doença. "Não vejo a hora [de tomar a vacina]. Com a vacina, você tem menos chances de ficar internado, precisar ir para o hospital, de morrer. Mas eu fico mais ansiosa pela minha mãe e para a Julia tomarem a segunda dose. Para eu ficar mais tranquila", contou.