Os palhaços Aldo Hayrton Dezan (Showkito) e Paulo Ramalho Matta Júnior (Chuvisco) falam do trabalho nos hospitais
Leidiane Sabino
leidiane@acidadevotuporanga.com.br
Estar doente é um momento de muita dor e tristeza e para amenizar tudo isso, os hospitais brasileiros têm recebido equipes de palhaços especializados em levar alegria ou pelo menos um pouco de paz para o ambiente, equipe de trabalho e pacientes. De Votuporanga nasceu a Cia Atos e PalhaÇos, formada pelos profissionais Aldo Hayrton Dezan e Paulo Ramalho Matta Júnior, ou melhor Showkito e Chuvisco.
Os dois atuam na Santa Casa de Votuporanga, Hemocentro de Rio Preto (na oncologia pediátrica), Hospital de Base de São José do Rio Preto e Hospital de Câncer de Barretos (Lulinha).
A profissionalização do palhaço é essencial para a atuação em hospitais, onde eles não vão para levar tratamento, mas sim cultura, embora saibam dos imensos benefícios do riso em um tratamento.
No Brasil, mais de 250 grupos trabalham em hospitais, a maior parte em grupo ou trio e a profissão será regulamentada como “Humanizador de Ambiente Hospitalar”.
História
Paulo era professor de cursinho pré-vestibular, na área de Biologia, morava em Florianópolis-SC. “Tudo começou porque sou amigo de infância do Aldo. Ele já estava trabalhando como palhaço em hospitais. Ele falava que este serviço era a minha cara. Então, fiz um curso em São Paulo e formamos a dupla”, contou Paulo.
Solteiro e sem filhos, Paulo estava bem, morando em um bom lugar, mas faltava algo. “Sempre fiz atividade voluntária, acompanhando minha mãe, dona Terezinha Doinéia. Fiquei um tempo afastado. Parei para pensar no que queria para a minha vida e surgiu esta oportunidade de me doar para o próximo”, explicou Paulo.
Eles perceberam que Votuporanga, a terra natal dos dois, tinha espaço para que atuassem, então voltaram a morar aqui. Hoje, eles estão formando novas duplas para que ajudem em outras unidades hospitalares.
Aldo trabalhava na equipe técnica de uma empresa da área de telefonia, em São Paulo-SP. “Era muito burocrático. Tive Tendinite e precisei me afastar. Como minha irmã já trabalhava em hospitais, comecei a me envolver, aprender e gostar. Ajudava e já tem 10 anos que trabalho como palhaço de hospital. Fiz o curso oferecido pelo grupo da minha irmã, junto com o Paulo e decidimos montar a dupla”.
Para sobreviver, eles recebem recursos da Lei de Incentivo Rouanet, a qual possibilita que cidadãos (pessoa física) e empresas (pessoa jurídica) apliquem parte do Imposto de Renda devido em ações culturais.
Depois de muita preparação, o grupo começou o trabalho em Votuporanga no ano de 2009; já em 2010 estavam também no Hospital de Base de São José do Rio Preto e no Hospital de Câncer de Barretos.
Nos hospitais
“Este é um trabalho que exige preparação psicológica, além de cuidados para a permanência em hospitais e de toda a preparação como palhaço. Já morei em circo, fiz cursos de teatro, mímica e música”, explicou Paulo.
Sobre o trabalho, ele explicou: “a gente não sabe o que vai encontrar. Tem criança com medo, com dor, anestesiada, pai desesperado. Levamos a cultura para tentar deslocar, pelo menos momentaneamente, o foco da dor, por meio do lúdico e da imaginação”.
Paulo disse ainda que uma pessoa internada recebe várias ordens, do médico, do familiar, da enfermeira, especialmente as crianças. “Quando o palhaço chega, não é assim. É a criança que diz para onde quer ir. Você passa dez minutos com ela, que fica o dia todo contando como foi quando os palhaços estavam lá. Isso causa um bem estar que a gente acaba repassando em casa”. Para Paulo, sua vida é dividida entre antes e depois de se tornar palhaço de hospital. “Este é um exercício de simplicidade, de humildade”.
Para entrar no quarto, somente com a autorização da criança. “Às vezes, conseguimos apenas um sorriso por uma manhã inteira de trabalho, mas ele nos satisfaz”, contou Paulo.
Para Aldo, acompanhar as pessoas em momento de dor, especialmente as crianças, não é fácil. “Tenho filhos, sempre penso neles. No começo foi mais difícil, mas agora estou conseguindo separar melhor. Tivemos acompanhamento psicológico”, contou.
Não tem uma regra pronta para atender uma criança. “A gente vai preparado, mas quase sempre acontece tudo no improviso”, disse Aldo.
O bom de tudo isso? “Poder se entregar, ser solidário, fazer sorrir, tudo isso foi mostrando que era isso que eu queria fazer, ao invés de ficar preso em uma sala, um escritório”, finalizou Aldo.
Palhaços
Paulo Ramalho Matta Júnior
49 anos, solteiro
Profissão: palhaço de hospital
Aldo Hayrton Dezan
44 anos, solteiro
Profissão: palhaço de hospital