Com a conquista, presidente de cooperativa de resíduos sólidos representará São Paulo na etapa nacional em Brasília
O Sebrae-SP anunciou na quinta-feira as vencedoras da etapa paulista do Prêmio Mulher de Negócios. A empresária Rosângela Mazonas Fonseca, presidente da Coopersol (Cooperativa Regional Solidária de Catadores de Resíduos Sólidos), de Jales, foi a vencedora na categoria Negócios Coletivos. Após a conquista, Rosângela representará São Paulo na etapa nacional, que será realizada no próximo dia 7 de março, em Brasília.
“Nós recebemos o resíduo sólido, fazemos a triagem e depois vendemos. Contudo, o mais importante é contribuir para o meio ambiente”, disse Rosângela, após receber o prêmio na sede do Sebrae-SP, em São Paulo.
Segundo Rosângela, a Coopersol tem hoje 17 funcionários, sendo que 12 são mulheres. “As mulheres que querem começar seu próprio negócio e se tornarem empreendedoras não precisam ter medo. Basta ter força de vontade e um planejamento adequado”.
O objetivo do prêmio, que está na sua nona edição, é reconhecer e divulgar histórias de mulheres empreendedoras, donas de seu negócio ou integrantes de cooperativas e associações. A vencedora de Jales foi uma das 1.180 mulheres se inscreveram em todo o Estado, mais que o dobro do ano passado, que teve 527 inscrições. Ao todo foram 18 finalistas: 13 na categoria Pequenos Negócios, duas em Negócios Coletivos e três como Empreendedoras Individuais.
“Na iniciativa privada ainda existe muita desigualdade. Hoje, a mulher ganha 20% a menos que os homens. Mas, para as empreendedoras, a história é outra, não existe limite para as oportunidades”, afirma o superintendente do Sebrae-SP, Bruno Caetano.
E a história de Rosangela é um exemplo para quem procura iniciar uma vida empreendedora. Em 2010, depois de deixar um emprego no comércio e tentar trabalhar com o marido como servente de pedreiro. Rosângela achou a construção civil uma tarefa pesada e resolveu migrar para a área de reciclagem. Assim, ela entrou para a Associação de Catadores que já existia na cidade, e pouco depois conseguiu transformá-la na Coopersol. “Eu descobri que, como cooperativa, o grupo teria mais oportunidades, a gente poderia fazer projetos e apresentá-los para conseguir mais verba”, conta ela, que foi eleita como a primeira presidente da instituição.
Hoje a Coopersol usa uma área de 720 metros quadrados, com um barracão para depósito, seleção e enfardamento do material. A Cooperativa trabalha com um caminhão cedido pela prefeitura – o motorista é cooperado –, que busca o material no comércio, e outro caminhão faz coleta nas residências em dias alternados. “Nós recolhemos de 50 a 60 toneladas por mês”, explica Rosângela, “a maioria é de papelão, uma média de 30 toneladas. O restante é principalmente isopor e vidro, já que as latinhas normalmente são recolhidas por coletores não cooperados. Quando a gente já tem uma boa quantidade estocada, eu ligo para as empresas que trabalham com a reciclagem e faço uma cotação. Nós poderíamos recolher talvez até o dobro, mas ainda não temos estrutura. Esperamos construir uma sede própria este ano.” O dinheiro da venda é distribuído entre os dezoito cooperados, a maioria mulheres. “A renda é boa, porque nenhum dos cooperados passou do ensino médio, aqui rende mais de um salário mínimo por mês, e nós ainda pagamos o INSS como autônomos”, conta Rosangela. “Trabalhamos uma média de 10 horas por dia, com o pessoal se revezando na seleção e no enfardamento.”
Perfil
Rosângela tem 40 anos, é casada pela segunda vez há 20 anos, tem dois filhos, um deles formado em Administração de Empresas. Ela nunca tinha tido experiência em administrar um negócio, mas pegou informações com o marido e hoje se sai tão bem que, segundo ela, o filho até brinca que ela já sabe mais que ele, que estudou. “No começo o preconceito foi muito grande, entre a família e os amigos. Mas aos poucos eles foram entendendo que a reciclagem é um negócio como outro qualquer, e com uma importância ecológica muito grande.” Tanto que ela já participou até de reuniões na Associação Comercial de Jales, foi convidada pela prefeitura para integrar um comitê de combate à dengue. Aos poucos, tornou-se referência na cidade: “Todo dia recebo ligações de pessoas pedindo para a gente recolher os resíduos em suas casas. Às vezes a pessoa pergunta se é ‘do lixo’, e eu respondo que não, é da Coopersol, Cooperativa de Coleta de Resíduos Sólidos. Aos poucos isso vai mudando. Os moradores de Jales estão se conscientizando da importância da reciclagem. O comércio também já enxerga a cooperativa como parceira, e às vezes a gente recolhe em lojas até 15 mil quilos de papelão.”