Fernanda Montenegro novamente encanta o telespectador interpretando a Dona Candinha, em “Saramandaia”
Prestes
a estrelar mais um seriado na Globo, Fernanda Montenegro está no remake de
“Saramandaia” interpretando a Candinha Rosado, uma mulher endurecida pelos
acontecimentos da vida, mas que começa a apresentar sinais de caduquice. Pelo
menos é isso que pensa o filho Zico Rosado (José Mayer), principalmente quando
a mãe começa a espantar galinhas imaginárias esparramando açúcar pelo chão, na
ilusão que está alimentando as penosas com ração. Quem quase enlouquece com
Dona Cadinha é sua nora Helena (Ângela Figueiredo).
A
verdade é que Candinha é muito mais lúcida do que parece. Ela guarda consigo um
grande segredo: espera que seu Tibério Vilar (Tarcísio Meire) volte para
busca-la e assim os dois poderão viver o amor que sempre os uniu. Mal sabe ela
que Tibério vive triste e enclausurado em sua fazenda, tanto que seus pés estão
criando raízes fincadas ao chão. Esquesitices de Bole-Bole.
No
auge dos seus 82 anos, Fernanda Montenegro parece divertir-se muito com essa
sua nova personagem. Na história, as galinhas são imaginárias, mas para na vida
real, a atriz “contracena” com cerca de trinta aves. Haja fôlego!
Quanto
ao novo seriado que a Globo pretende estrear, a nova atração é inspirada no
especial de final de ano “Doce de Mãe”, mostrado em dezembro do ano passado.
Neste especial, Fernanda Montenegro interpretou Dona Picucha, mãe de Sílvio
(Marco Ricca), Elaine (Louise Cardoso), Fernando (Matheus Nachtergaele) e
Susana (Mariana Lima); na história Dona Picucha deixa a sua família
enlouquecida quando desaparece de casa. A personagem aparenta ser uma idosa
frágil, mas de frágil não tem nada, agradou ao público tanto que a aventura ganhou
novos episódios que serão exibidos ainda no segundo semestre deste ano.
Saindo
da ficção, a atriz Fernanda Montenegro dispensa muitas apresentações. Sem
dúvida, um dos maiores talentos brasileiros.
Ela
nasceu em 1929, na cidade do Rio de Janeiro, numa casa de portugueses e
italianos e foi batizada com o nome de Arlette Pinheiro Esteves da Silva.
Ela
enveredou-se no meio artístico aos 15 anos de idade quando participou de um
concurso da Rádio MEC que selecionou redatores, locutores e atores de rádio.
A
estreia no teatro foi em 1950, na peça “3.200 Metros de Altitude”, ao lado de
Fernando Torres.
A
história desta “grande dama do teatro” é extensa e digna de nota. Ela foi a
primeira atriz contratada da TV Tupi do Rio de Janeiro e ficou na emissora entre
1951 e 1953, participando de cerca de 80 peças.
No
ano de 1952 ganhou o prêmio de Melhor Atriz Revelação da Associação Brasileira
dos Críticos Teatrais por seu trabalho em dois espetáculos. Nesta mesma época
fez parte da Companhia Maria Della Costa e do Teatro Brasileiro de Comédia.
Ao
lado do marido, Fernando Torres, montou a Companhia dos Sete congregando na
época os atores Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Giani Ratto, Luciana Petruccelli e
Alfredo Souto. Desde então, recebeu vários outros prêmios por seu trabalho. No
ano de 1970 afastou-se da televisão durante nove anos. A sua volta deu-se em
1979 quando participou de “Cara a Cara”, novela de Vicente Sesso exibida pela
TV Bandeirantes.
A
sua estreia na Globo foi em 1981 em “Baila Comigo” interpretando Sílvia Toledo
Fernandes e logo depois apareceu em “Brilhante” na pele da milionária Chica
Newman.
Inesquecíveis
mesmo são suas cenas ao lado do saudoso Paulo Autran, na primeira versão de
“Guerra dos Sexos”, de Sílvio de Abreu, na qual eles viveram os primos Charlô e
Otávio. No ano de 1986, em “Cambalacho”, novamente numa história de Sílvio de Abreu,
ela protagonizou situações hilárias na pele de Naná, ao lado de Gegê,
personagem do também grandioso Gianfrancesco Guarnieri.
Os
personagens marcantes são inúmeros. Tem a Vó Manuela, de “Riacho Doce”; Salomé,
em “A Rainha da Sucata”; Olga Portella, em “O Dono do Mundo”; Jacutinga, na
primeira fase de “Renascer”; Madalena Moraes, em “O Mapa da Mina”; Quitéria
Campolargo, no memorável “Incidente em Antares”; Zazá, personagem título da
novela; Nossa Senhora, no “O Auto da Compadecida”; Lulu de Luxemburgo, em “As
Filhas da Mãe”; a italiana Luiza, em “Esperança”; a Madrasta e Dona Cabeça, em
“Hoje É Dia de Maria”; a ardilosa Bia Falcão, em “Belíssima”; Iraci, em “Queridos
Amigos” e Bete Gouveia, em “Passione”.
O
reconhecimento também veio através do convite feito pelo então Presidente José
Sarney que gostaria de ter Fernanda Montenegro como Ministra da Cultura, mas
atriz recusou. No ano de 1999 foi condecorada com a maior comenda – a Ordem
Nacional do Mérito Gran Cruz.
A
atriz tem seu nome ligado ao cinema brasileiro e em 2004 recebeu o prêmio de
Melhor Atriz no Festival de Tribeca, em Nova Iorque. Entre suas atuações no
cinema nacional, destacam-se “A Falecida” (1964) e “Eles Não Usam Black-Tie”
(1980), ambos de Leon Hirszman; “Olga”, de Jayme Monjardim, no qual interpretou
Leocádia Prestes, mãe do líder comunista Luís Carlos Prestes; ”Redentor”
(2004), dirigido por seu filho, Cláudio Torres; “Casa de Areia” (2005), filme
dirigido pelo genro Andrucha Waddington, e “O Amor nos Tempos do Cólera” (Love
in The Time of Cholera), de Mike Newell, lançado em 2007, no qual fez a personagem Tránsito Ariza, mãe do
personagem do ator espanhol Javier Bardem. A sua atuação mais recente no cinema
brasileiro foi como narradora no filme “As Aventuras de Agamenon, o Repórter”.
E
vale lembrar ainda o “Central do Brasil”, de Walter Salles que foi indicado ao
Oscar por sua atuação. A atriz ganhou o prêmio Urso de Prata no Festival de
Cinema de Berlim por este trabalho.
Fernanda
Montenegro casou-se com o também ator Fernando Torres em 1953 e eles tiveram
dois filhos, a atriz Fernanda Torres e o cineasta Cláudio Torres. O marido da
atriz morreu em 2008.
Apesar
da fama, a família de Fernanda Montenegro sempre foi muito discreta e não é
dada a badalações.