Bruno Terra Dias é ex-presidente da Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis). Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.
O aprendizado político se faz com o exercício da política, como a grandeza dos povos se faz na exata medida de sua capacidade de absorver as lições da história, consolidá-las em princípios perenes e instituir procedimentos conservativos daquilo que se pode proclamar como ética ou boas práticas. Os brasileiros não se fazem diferentes da generalidade dos povos, suas experiências políticas, acumuladas ao longo de quase dois séculos de soberania, renovam, a cada ciclo, o aprendizado e as escolhas. Assim foi no Império, na República Velha, sob Getúlio, na democratização de 1946, sob o regime de exceção de 1964 e na democracia inaugurada em 1985.
No período republicano da vida nacional, que se iniciou em 1889, o gênio dos bacharéis em Direito teve sua vez e governou o país por longo período. A preocupação com o arcabouço jurídico, com a formulação e o cumprimento das regras jurídicas, a consagração da tradição das melhores fontes europeias, tudo isso teve seu momento na vida nacional, sustentando governos e permitindo sucessões, embora nem sempre com a esperada tranquilidade. Mas o aprendizado ficou e, após 1985, nas oportunidades das maiores crises político-institucionais, a maturidade do pensamento jurídico nacional soube se impor e permitir a continuidade da saga brasileira, sem retrocessos. Assim foi no caso Collor e no julgamento do processo da ação penal 470, conhecida como Mensalão. Política e Direito andaram de mãos dadas, mostrando firmeza, quando necessário.
A atualidade, em quadro que se desenha desde os anos da década de 1970, sugere outra parceria, cujos efeitos ainda não inteiramente consagrados, mas que, gradativamente, vem mostrando sinais de amadurecimento: política e economia. Não há mais como pensar a Administração Pública sem olhar fixamente para a economia. O Poder Executivo tornou-se um fomentador da atividade econômica, não mais deixada ao sabor do acaso ou dos humores e apetites dos investidores. A própria Constituição Federal de 1988 dedica o Título VII à Ordem Econômica e Financeira, revelando a importância extraordinária do tema. O Ministério da Fazenda passou a exigir mais dos seus titulares e tornou-se ator central do governo federal, com força para catapultar carreiras ou fazer naufragar administrações.
As eleições atuais apontam para pretensões de aperfeiçoamento político-econômico. Todos os candidatos, seja à Chefia do Poder Executivo federal como nas ambiências estaduais, são obrigados a mostrar conhecimentos e versatilidade proposicional em matéria econômica, sem perder de vista sua imbricação com questões sociais. Sustentabilidade, transferência de renda, geração de emprego, alfabetização, qualidade de ensino, energia, meio ambiente, agronegócio, mineração, mobilidade urbana, telecomunicações, saúde, segurança, infraestrutura, população carcerária, convivência com a seca, tráfico e consumo de drogas, custo Brasil, remuneração do servidor público, previdência social, déficit habitacional, ciência e tecnologia, tantos assuntos indispensáveis ao trato político e todos implicando análises de viabilidade econômica.
Hoje, para votar e ser votado, exige-se do cidadão que de política e economia saiba um pouco e a cada processo eleitoral um pouco mais. No entrelaçamento das duas ciências, e de como o cidadão lida com essa realidade, encontra-se a qualidade do voto.