Doutora em Educação, mestre em Comunicação. Professora do curso de Jornalismo da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais)
Sobre o uso da fotografia no planejamento gráfico também há forte influência do fenômeno da convergência midiática. De acordo com Damasceno (2003), o uso da fotografia no período digital é bem mais consciente e efetiva-se como um elemento da enunciação, não só como um complemento do texto verbal. Assume o papel de atrair o olhar do leitor, de sintetizar a informação, apresentando os fatos e de estabelecer um percurso de leitura na página.
Segundo Scuri (1999), os recursos da fotografia digital supriram às necessidades dos jornais de hoje, que demandam cada vez mais velocidade, menor custo e qualidade. O digital já permite a edição imediata, a correção de cores, e qualidade de reprodução, principalmente na mídia jornal, que exige menos resolução de imagem que a revista.
No início, século XIX e início do XX, o texto verbal predominava e seu fluxo era contínuo e linear, na atualidade o texto é composto pela mescla de matérias verbais e não-verbais. De acordo com Lupton e Phillips (2008), o fluxo da informação é descontínuo e a não-linearidade ganhou mais espaço. O design entra como elemento de organização desta leitura não-linear, com a missão de fragmentar o texto e fazer aflorar os enunciados visuais para a página.
Influenciado pela enunciação da Internet, o texto no jornal impresso atual apresenta “janelas” de conteúdos. O jornalista de hoje deve ter a visão do texto como um todo e ter também a capacidade de dividi-lo em múltiplas facetas, em matérias coordenadas que se interconectam pelo design da página, como um hipertexto com seus links, conforme explica Levy (1999).
Assim, é possível que pequenas peças são distribuídas dentro do espaço da notícia. Cada fragmento do mosaico que é a página apresenta um aspecto do enunciado. Tanto pode ser um número destacado quanto a opinião de um especialista sobre um determinado assunto, quanto uma análise do próprio jornal, ou uma peça que resgate a memória de um fato. O mosaico junto torna-se uma única matéria. Recurso muito utilizado por revistas semanais como Veja e jornais como Folha e Estadão.
De acordo com Freire (2009), deixar disponível o e-mail do jornalista ou da editoria deixou de ser um adereço, e passou a ser uma forma de aferição do retorno sobre o impacto do texto junto ao leitor. Nesta tendência, os jornais tentam cada vez mais se aproximar de seus públicos priorizando um jornalismo de serviços, fazendo uma cobertura dos fatos que interessam mais de perto aos seus leitores e utilizando-se da internet, no caso o email, como ferramenta de suporte e conexão entre impresso e web.
A cultura jornalística é basicamente a mesma, conforme relata Erbola e Lages no processo de apuração, redação e edição, ou seja, continua a prática de colher a informação, buscar o contraditório, fazer a checagem das informações e partir para a redação e edição do texto.
É na edição que se separa os fragmentos de acordo com os gêneros mais adequados para a apresentação do conteúdo, conforme aponta Luis Costa Pereira Júnior.
Assim, informações numéricas são aglutinada num quadro ou gráfico, o que foi dito pelo entrevistado tanto pode ser citado ao longo do texto como pode tornar-se uma peça à parte, outra parte do conteúdo pode ser mais bem apresentada numa matéria coordenada, e parte do discurso direto passa a ser destacada na forma de um “olho” etc. Tudo passando pelo clivo do editor, o que deve conhecer perfeitamente a linha editorial do veículo ao qual trabalha, aponta Erbolato.
Uma das vantagens da fragmentação é possibilitar diferentes velocidades e níveis de profundidade de leitura, retomando mais uma vez a importância de estratégias de planejamento gráfico em impresso que acompanhem a cultura da convergência midiática proposta por Jenkins (2009). O leitor com menos tempo (ou interesse) pode ser minimamente contemplado na sua necessidade por informação lendo os títulos, aberturas, olhos e peças: mais velocidade e leitura superficial. Ou pode ler a matéria completa e ter uma informação mais detalhada: menor velocidade e leitura aprofundada, conforme lembra Moretzsohn (2002)
Assim, na cultura da convergência midiática, segundo Jenkins (2009), a construção das histórias passa a ser convergente, no sentido das linguagens e da própria construção da inteligência coletiva, através da cultura da participação.
Goste-se ou não, é crescente a demanda para que o material trabalhado pelo jornalista sirva às diferentes plataformas: rádio, TV, jornal e Internet. Diante da enorme gama de informações e das possibilidades de captação de sons e imagens pelo repórter, boa parte daquilo que não cabe (ou não dá para ser veiculado) na página impressa tende a ser lançado nas páginas da internet, diante da inexorável perda de espaço no impresso.
O jornalismo impresso atual sofre pressões por mudanças. Tais pressões são decorrentes das adaptações ao modo de leitura atual, do crescimento da oferta de suportes de informação, e também em função do próprio ritmo de vida dos leitores. Uma das formas encontradas pelos jornais impressos para responder a tais demandas tem sido a mudança nos seus modos de dizer, e o design é uma das principais estratégias neste processo de resgate e fidelização dos leitores, pela forma como os conteúdos são apresentados.