Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
Naquele dia, Robert Tudor Máximo Segundo tomou um banho e um café como fazem as pessoas comuns. Entretanto, comum é adjetivo inadequado a um Tudor. Comum é o que concerne a muitos ou a todos; também não havia nada de trivial com a nobilíssima família Tudor, esta nunca pertencera ao rol dos comuns. Robert pai foi o primeiro Tudor Máximo a fazer com que a fortuna da família ultrapassasse a cifra do bilhão. E convenhamos, é inegável que, quem consegue amealhar um bilhão – de dólares, que fique claro – passa a pertencer a um seletíssimo grupo. A tarefa de Robert Segundo foi a multiplicação, a transformação do bilhão em bilhões.
Poucas pessoas conhecem Robert Tudor Máximo Segundo. Na verdade, pouquíssimas pessoas conhecem um multibilionário – seja ele Robert Tudor ou outro qualquer. Não é fácil aproximar-se dos multibilionários; justamente por ter múltiplos endereços, eles não têm endereço fixo. Multibilionários quase nunca estão em terra firme, eles passam a maior parte do tempo voando em seus jatos particulares ou pousando com seus helicópteros em uma cobertura aqui, outra ali, uma mansão acolá... Eles também deslizam pelos oceanos em embarcações luxuosíssimas até aportarem em suas ilhas particulares que ninguém sabe onde ficam.
Para conhecer um multibilionário, só mesmo sendo assessor de um multibilionário - do primeiro escalão, claro – ou ser um multibilionário. Ah, o narrador onisciente de uma história também pode conhecer um multibilionário – ou vários.
Quase todo mundo já ouviu falar em George Soros, Bill Gates, Jeffrey - Jeff, para os amigos, se bem que não acredito na existência de tais amigos – Bezos... Mas, pergunto: você já viu algum deles pessoalmente? Acho pouco provável!
Todo multibilionário já nasce em berço de ouro. Ou então recebe aquele poder que foi dado por Dioniso ao rei da Frígia – o tal Midas -, de transformar em ouro tudo aquilo em que toca. Ah, ser um inescrupuloso de carteirinha e cultivar a avareza também ajuda. Melhor ainda se combinar todas essas condições.
Está bem, está bem, a história do rei Midas é uma lenda. Mas, há verdades intrigantes. Por exemplo, quando Bezos e sua mulher MacKenzie se divorciaram, MacKenzie ficou com um quarto das ações de Bezos na empresa, o equivalente a uma bagatela que a transformou na décima terceira pessoa mais rica do mundo. Outra constatação curiosa e esdrúxula: a soma das fortunas dos vinte homens mais ricos do mundo supera a soma do dinheiro de todas as mulheres do Continente Africano. Mas, vamos deixar de lado as curiosidades e voltar à história de Robert T. M. Segundo.
Naquele dia, depois do banho e do café, Robert Tudor Máximo Segundo voou em um jato, depois entrou em um helicóptero que pousou em uma cobertura. Como todo multibilionário, Robert T. M. Segundo foi forjado para ser Deus. Lá do alto, Robert Segundo via as pessoas se movimentando como formigas errantes. Sentiu-se até acima de Deus, já que não era uma mera abstração; era real e podia mudar a vida daquelas pessoas – pra melhor ou pra pior – num piscar de olhos ou no estalar de um dedo; podia até comprá-las, todas elas. Era Onipotente, era Deus. Podia tudo, até voar...
Pouco depois, Robert Tudor Máximo Segundo abriu caminha por entre uma multidão que se formara no passeio público. E estupefato, viu seu próprio corpo caído, disforme, circundado por uma poça de sangue. Foi a primeira surpresa; a segunda foi descobrir-se sem um centavo sequer, tendo como capital apenas as ações que praticara. Seu equívoco fora supervalorizar as ações e não valorizar boas ações...
Questão de semântica. Ironia das ironias!