Nossa vivência, ou melhor convivência humana, foi significativamente alterada nos últimos dois anos em função dos efeitos da propagação do vírus denominado Covid-19 e suas variantes ainda presentes no mundo. Vivemos, nestes últimos dias, temerosos de que novas ondas de variantes do agressivo vírus venham a se impor, especialmente em função de pessoas que se negam à vacinação. O negacionismo, a proliferação de falsas e infundadas informações, o desejo de garantir a popularidade de alguns políticos em vias de sua nova submissão ao voto popular com base em alegações incoerentes e uma série de outras atitudes humanas que desconsideram a realidade vivida se fazem presentes assumindo posicionamentos “bárbaros”.
Nesta semana, assistindo a um programa cultural e científico, observamos pessoas avaliando o passado, criticando atitudes humanas consideradas bárbaras que eram comuns em séculos anteriores. Usavam a lupa do presente para avaliar atitudes que, de fato, aos olhos de seres humanos éticos e socialmente responsáveis não são coerentes.
A lupa do presente tem a capacidade de mostrar as incoerências vividas e identificar as que hoje são ‘naturais” em nossa sociedade. A desvalorização de humanos para outros humanos que são diversos entre si é uma das marcas ainda presentes em nossas vidas. A escravidão, que muitos afirmam ter sido superada, em especial à imposta aos negros, ainda é presente em muitos espaços sociais em todas as culturas.
Os que buscam aprofundar seus conhecimentos na antropologia social apontam para as questões de desrespeito ao humano próximo que são multifacetadas e presentes em diferentes territorialidades, melhor seria nos referirmos à multiterritorialidade.
Assim posto, desejamos questionar se nossa observação e intervenção no mundo atual, alguns dizem pós-modernidade, está coerente com as propostas de humanização em nossas relações ou apenas reproduzem os atos “bárbaros” que são vistos com nossa lupa do conhecimento no presente, mas infelizmente, não nos permitem, ainda, alterar as consequências de nossas prejudiciais intervenções sociais pautadas no ódio, na agressão, no desrespeito à diversidade e toda sorte de atitudes não humanas.
A lupa que hoje tempos serve apenas para olhar e criticar o passado e não para, de fato, propiciar a conquista da atenção ao próximo e com olhares cautelosos de respeito à diversidade.