Nos últimos tempos temos ouvido diversas manifestações quanto à ausência de liberdade individual quando é tornada obrigatória a apresentação do denominado “passaporte da vacinação” para o ingresso em locais de concentração de pessoas em algumas sociedades.
A questão tem tomado espaços nas diferentes mídias, muito especialmente no seio de grupos nos recursos da tecnologia móvel. Certamente, os leitores desta coluna já conviveram com inúmeras discussões em grupos dos quais participam e, não raro, as manifestações se tornaram agressivas em função das diferentes concepções sobre o fato entre os membros do grupo.
Esta realidade nos fez lembrar um fato vivido na terra do sol nascente, Japão, nos idos dos anos de 1980 quando tivemos a oportunidade de conviver em meio à comunidade nipônica nas cidades de Tókio, Nara, Tenri, Kioto entre outras.
Em uma visita ao sistema de transporte sobre trilhos assisti a alguns nipônicos que se faziam valer de máscaras nas estações e muito mais frequente no interior dos vagões. Como um brasileiro, pouco habituado com a cultura daquele milenar país, imaginei que o cidadão estava se protegendo de possíveis contaminações. Ao questionar meu orientador, Reitor da Universidade de Kokushikan, me vi como um ser humano que pouco ou nada se preocupava com seus semelhantes. Ele me disse “ele não está se protegendo, está protegendo a todos pois ele é que está, por exemplo, gripado”.
O vexame que passei ficou marcado em minha mente e minha compreensão sobre a responsabilidade individual sobre a coletividade passou a ficar muito mais clara nos demais tempos vividos naquele país. Hoje, quando recebo mensagens egoístas afirmando que não concordam com e exigência do passaporte por compreenderem ser uma agressão à sua liberdade, tenho a impressão que, de fato, somos um país do terceiro mundo.
Estranho sim a exigência do passaporte. Mas estranho muito mais a ausência de preocupação com o outro, a proteção de sua comunidade e que atinge a microssociedade, suas famílias sem a mínima preocupação com a vida dos seus.
Infelizmente, não vivemos a atitude de preservação do outro, o zelo pelo seu semelhante com uma simples e eficaz atitude, o uso das máscaras quando estou com alguma doença respiratória. Em nossa cultura algumas pessoas afirmam que suas liberdades estão sendo subtraídas quando lhe é exigida a informação de que é uma pessoa que se preocupou com sua saúde e, minimamente, de seus entes queridos. Acredito que estamos acima do negacionismo, não é?