Nós, humanos, demasiadamente humanos, desejamos e esperamos ter a finitude muito jovem o mais tarde possível. Forma afetiva de esperançar ter a finitude em tempos idosos avançados.
Entre os desafios da existência, temos as provocações pertinentes em nosso trilhar que, neste momento pandêmico nos foi tornado, o caminhar, por vezes solitário, isolado e restrito aos muito próximos amores.
Assim, desenvolvemos o tema com base em vivências no seio da educação e com olhares sobre as possibilidades envolvendo a Educação Básica e Superior.
O fato que mais nos tocou foi a vivência em uma pré-escola de Setagaiku – Tókio: em determinado dia de encontro de aprendizagem entre crianças de até cinco anos, que se reuniram com a professora para dialogar sobre suas atribuições individuais na escola. Duas foram as crianças que dialogaram com a professora e que coincidem com a temática da finitude.
A criança cuja responsabilidade era sobre a lâmpada informou à professora que esta não mais acendia. A docente, então, indagou se a criança havia observado a luminosidade da lâmpada ao longo do tempo. Esta disse que no começo era forte e iluminava muito. Com o passar do tempo foi ficando mais fraca e amarela até não mais acender. A docente aproveitou a oportunidade para comparar o fato com a história de vida, segundo suas concepções, em que vamos enfraquecendo com o tempo até que encerramos nossa jornada.
A segunda criança reportou a morte do peixinho, que propiciou o dialogar sobre a responsabilidade que temos sobre os outros e a atenção que devemos ter ao cuidar. A professora então disse a todos os presentes: “temos que ter atenção quando temos responsabilidades sobre a vida de alguém”. O peixinho quando está em aquário e lhe damos muito alimento ele não para de comer e morre por isso.
Mas, a história daquele país e sua cultura nem sempre foram assim coerentes e concordantes com a vida. Há, em Guinza (uma avenida de Tókio), uma estátua de um jovem carregando um idoso que explica um tempo em que os idosos eram levados por seus filhos para a montanha à espera da morte. A antecipação da finitude humana enquanto sua relação com a vida dos outros e sua “inutilidade” presumida. Contam a história que um jovem levou seu pai à montanha, reproduzindo a concepção de seu tempo. Passados alguns poucos dias se viu frente a um problema para o qual não encontrava solução. Ao se perceber incompetente para resolver a questão busca apoio em um amigo que lhe orienta a buscar seu pai, ele saberia a solução. Assim o fez e seu pai lhe deu a saída. O idoso recupera sua função social e posterga sua finitude precocemente decretada.
Um outro ponto foi a constituição de um brinquedo infantil, TAMAGOTSHI, que foi retirado do mercado. Motivo: gerava a banalização da vida ao associar o poder de definir a morte do bichinho de estimação TAMAGOTSHI e, ao mesmo tempo, ter o poder de recuperar a vida.
Em nossa atualidade, por força da pandemia, crianças, jovens, adultos e idosos estivemos frente às duas questões centrais da discussão de hoje, a perspectiva da ausência de futuro e a proximidade concreta da finitude precoce.
Ousando dialogar com a perspectiva do futuro sem a finitude delimitada pela morte, encontramos a suposta permanência para além da finitude concreta (a morte). Alguns seres humanos, raros, se encontram perpetuados pelas obras que realizaram em vida, são os membros das academias dos imortais. Assim como no desenho animado “Viva: a vida é uma festa”, os seres humanos assumiriam vidas de outras formas para além da presumidamente única sobre a face da terra. Esta perspectiva é, também, uma forma de previsão do futuro em que a finitude não se encontra presente, pelo menos em termos de existência física. Morrer e deixar de existir: diferenças sutis.