Antonio Rocha Bonfim (Foto: Divulgação)
“Algumas pessoas nunca encontram o amor, outras só o encontram na fase outonal da vida”, ele diz, “Rita Ritalina encontrou o amor quando ainda era jovem.”
“Quem é Rita Ritalina?”, ela pergunta.
“É aquela que não precisou esperar muito para encontrar o amor, bastou andar cento e oitenta quilômetros.”
“”Você está misturando tempo e distância, assim fica um tanto quanto confuso.”
“Detalhe irrelevante, relevante, mesmo, é a história de Rita Ritalina.”
“Pois eu repito a pergunta, afinal, quem é Rita Ritalina?”
“Não conheci Rita, nem Ritalina e nem a cachoeira.”
“Então... Rita e Ritalina são pessoas diferentes, é isso?”
“Sim e não.”
“O QUÊ?!...”
“Por que o espanto? Somos todos múltiplos, vários em um.”
“Você tomou todo o uísque, certo?”
“Sim, mas, não vá associar Rita Ritalina ao uísque que engoli, acontece que Rita era apenas Rita quando iniciou sua procura pelo amor, estava saindo da adolescência e começou a apresentar um quadro de eventuais estados depressivos leves e foi submetida a tratamento com Ritalina, foi quando passou a ser chamada de Rita Ritalina.”
“Mas... você disse que não a conheceu.”
“De fato, não a conheci, mas conheci alguém que a conheceu, foi por intermédio dessa pessoa que tomei conhecimento do caso.”
“E quem é essa pessoa? Essa que lhe contou a história de Rita Ritalina?”
“Quem me contou a história de Rita Ritalina foi o Altamiro Álvaro Aquino Carrilho Cingalês Tâmil, um amigo dos tempos do Colégio.”
“Ele tem um nome muito estranho.”
“É que o pai dele participava de um grupo de choro, era flautista e admirador dos irmãos Altamiro Aquino Carrilho e Álvaro Aquino Carrilho, geniais compositores e flautistas, quanto ao Cingalês e ao Tâmil, Altamiro Álvaro Aquino Carrilho era o único da turma fluente nessas duas línguas, sabia ler e escrever em ambas, desde sempre fora um estudioso da cultura do Sri Lanka, mesmo antes de 1972, quando Sri Lanka era Ceilão, um aficionado, andava com rúpia cingalesa na carteira, por isso, nós, os amigos, acrescentamos Cingalês e Tâmil ao nome dele, uma brincadeira de colegiais!”
“E a cachoeira?”
“Que cachoeira?”
“Você disse não conhecer Rita, nem Ritalina, e nem a cachoeira!”
“Ah, sim, é verdade, Rita Ritalina saiu de casa em um dia ensolarado e andou cento e oitenta quilômetros até chegar à cachoeira, foi lá que ela encontrou seu amor, um extraterrestre que acabara de pousar a nave nas imediações e foi refrescar-se na cachoeira; a última vez que estive com o Cingalês Tâmil, ele me disse que Rita Ritalina está ótima, não precisou de Tricíclicos nem do infame TEC bilateral, Rita e o extraterrestre continuam viajando pelas estrelas; o amor é a cura de todos os males...”
“Tire essa mão boba daí.”
“Está bem, está bem, pronto.”
“É brincadeira, pode deixar a mão, hum!...”
Ela acha que Rita Ritalina é uma abstração etílica. Ele jura que não. O que importa é que os dois permanecem unidos, viajando juntos... pelas estrelas.