Graziele Delgado e Evandro Valereto (Foto: Arquivo Pessoal/ A Cidade)
Olá, querido(a) leitor(a), como vai você? Dados de uma pesquisa realizada em maio deste ano mostrou que 77% dos brasileiros estão endividados: é um aumento de 10% em relação ao número do mesmo período do ano passado. Se já é assustador para quem lê, imagine para quem vive nessa situação! A questão é: muitos acreditam que não há solução, que não existem escolhas e não veem caminhos para sair das suas dívidas. Portanto, este será nosso assunto de hoje.
Começamos a conversa falando o que são dívidas: é gastar mais dinheiro do que se ganha, o que só é possível por causa da utilização do crédito (em todas as suas modalidades): cartão de crédito, financiamentos, empréstimos pessoais e consignados, consórcios, cheque especial. Basicamente, é usar um dinheiro que não é seu para comprar algo, que deverá ser pago em prestações durante um período combinado. É justamente aqui que as pessoas mais pecam: não à toa, a maior dívida dos brasileiros é o cartão de crédito.
A utilização do crédito é perigosa porque nosso cérebro não tem estruturas para lidar com seu funcionamento: todas as vezes que você separa o momento do consumo do momento do pagamento, isso cria na nossa cabeça uma sensação de que consumimos de forma gratuita. Por isso, as pessoas gastam no crédito como se não houvesse amanhã, sem falar no quanto se enrolam e pagam juros absurdos em financiamentos.
Um ponto importante a se discutir é: nem toda dívida é ruim. Existem dívidas que podem ajudar as pessoas a enriquecerem, como é o caso do financiamento estudantil (ou a compra de um curso parcelado). Neste caso, o que se aprendeu no curso ou na faculdade possibilita um aumento de renda para a pessoa, o que “se paga” no longo prazo. Agora, quando estamos falando de utilizar o crédito para comprar bens, todo cuidado é pouco.
Uma dívida se torna ruim quando ela começa a ocupar um pedaço significativo da sua vida, impactando sua liberdade de fazer escolhas. Quanto mais parcelas você faz, mais sua renda fica comprometida, incluindo o dinheiro que você ainda vai ganhar no futuro. Quem faz dívidas está vendendo tempo e vida do futuro: você ficará refém dessas parcelas até que elas se acabem. Você não vai conseguir sair de um emprego que não gosta porque tem as faturas do cartão de crédito ou a parcela do carro para pagar. Você não poderá diminuir seu ritmo de trabalho porque adotou um padrão de vida muito alto. Você perde a liberdade de fazer novas escolhas de consumo e viver experiências, porque seu dinheiro já está comprometido. Você vira um pagador de boletos. O preço disso: algo que pode ser irrecuperável – sua saúde mental e sua qualidade de vida.
Uma dívida só faz sentido quando se tem um controle de caixa muito bom, ou seja, uma organização financeira que permite comprometer um pedacinho da sua renda mensal com parcelas. Mas, não se esqueça: quem tem dívidas precisa que as coisas deem certo. E essa é outra falha humana: fazemos planejamentos que contam com contextos perfeitos, que não possuem imprevistos e vai contra a realidade da vida, que é imprevisível. Por isso, é preciso ser cuidadoso.
Se você faz parte dos 77% endividados, precisa saber que existem duas coisas essenciais que você precisa fazer para sair desta situação: mudar sua cabeça em relação à utilização do crédito e organizar suas finanças. Dívidas são apenas sintomas de uma doença chamada desorganização financeira. Enquanto você não organizar seus gastos, fazer um orçamento e aprender a controlar seus impulsos, de nada vai adiantar buscar empréstimos e soluções rápidas: eles vão te afundar cada vez mais. Para construir uma casa, é necessário fazer primeiro uma boa fundação: essa é a organização financeira. Todo o resto de esforço para resolver os problemas será em vão se você não fizer o básico. Tenha uma excelente semana.
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